Arquivo: Daniela Carneiro participou da cerimônia de transmissão de cargo
Reprodução/Turismo
Arquivo: Daniela Carneiro participou da cerimônia de transmissão de cargo

O Ministério do Turismo montou um plano de ação para os primeiros 100 dias de governo com cinco eixos estratégicos para reconstruir, fortalecer e impulsionar o turismo no Brasil. O conjunto de ações, assim como os próximos passos da gestão da pasta, foram ressaltados pela ministra do Turismo, Daniela Carneiro .

O plano está dividido em: Diálogo; Sustentabilidade e mudanças climáticas; Carnaval; Estruturação de destinos e Redução do preço das passagens aéreas , para democratizar o acesso da população à aviação no país.

Além do plano de ações, a ministra também falou dos desafios que o país encontra atualmente para dar um salto no turismo brasileiro, e do potencial para se tornar um dos principais players do turismo mundial.

1- O que falta para o turismo no Brasil dar um salto, como acontece em tantos países, até mesmo na América Latina?

O turismo é um dos maiores geradores de empregos em todo o mundo, sendo responsável por um a cada 10 novos postos de trabalho. Também possui uma extensa cadeia produtiva - no Brasil, mais de 50 segmentos econômicos são impactados pela atividade turística, desde hotéis, bares e restaurantes a meios de transporte. Portanto, o desenvolvimento do turismo tem um importante efeito multiplicador sobre a economia, contribuindo para o seu crescimento. E o Brasil tem um potencial imenso para se tornar um dos principais players do turismo mundial.

O fortalecimento do turismo no Brasil passa, necessariamente, pela qualificação da mão de obra, pela estruturação de atrativos e destinos, por um maior investimento promocional tanto internamente quanto no exterior e, também, pela criação de um ambiente que favoreça o desenvolvimento da infraestrutura de transportes, quer seja rodoviária, ferroviária, marítima ou fluvial e aérea.

Precisamos dar condições para que os nossos visitantes possam se deslocar pelo país de forma mais facilitada, porque o ir e vir também é algo que impacta na experiência do turista com um destino.

Ao mesmo tempo, precisamos fortalecer a conectividade à internet, que tem um papel crucial também na diversificação da oferta turística. Ou seja, um atrativo ou destino on-line atrai o turista que viaja a lazer, mas também promove o turismo de negócios entre aqueles que têm flexibilidade de trabalhar a distância.

Também favorece a promoção orgânica dos destinos, uma vez que o visitante pode divulgar em tempo real o seu trajeto e roteiro por meio de suas redes sociais. Isso sem contar que, do local onde está, com acesso à internet, pode acessar atrativos próximos e direcionar a próxima parada.

Estamos atentos a todas essas necessidades e, para isso, o nosso objetivo é unir todos os atores que se relacionam com o turismo, desde gestores a trabalhadores, passando também por entidades, associações e conselhos. O diálogo tão necessário à reconstrução do setor havia se perdido nos últimos anos. Agora, no governo do presidente Lula, que acredita no potencial do turismo – tanto que o alçou a posição de ministério ainda em 2003 – vamos trabalhar para fazer do turismo brasileiro ainda maior. Estamos mais fortes nesta disputa porque, historicamente, o Brasil não deu muita importância a isso e, mesmo assim, já somos a 11ª economia do turismo no mundo .

2 - Este grande potencial é reconhecido pelo Trade Turístico Mundial e por investidores?

Sim. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o terceiro destino do mundo em atrativos naturais, ficando atrás apenas da Austrália e México, e o décimo em atrativos culturais. Mas, por outro lado, ainda somos muito mal classificados em relação a segurança e a um ambiente de negócios propício para desenvolver o turismo.

Nosso governo se diferencia por acreditar no potencial do turismo e trabalhar para o seu desenvolvimento, de modo que ele ocupe a posição de destaque que merece como gerador de riqueza para o nosso país. Vamos trabalhar por um melhor ambiente de negócios e melhores políticas para termos mais investimentos, mais turistas e, como consequência, mais emprego e desenvolvimento para o Brasil.

3 - E como o Ministério pode ajudar a criar esse ambiente de negócios e atrair mais investimentos?

Um aspecto muito vantajoso para o turismo é que se trata de uma atividade democrática, ágil e conectada, que sempre reagiu muito bem aos estímulos quando criados. Todo o hemisfério norte sabe disso, motivo também pelo qual países como o México, Estados Unidos e Costa Rica têm conseguido se destacar tanto – porque aliam ambiente de negócios, melhores condições para investir, com promoção nacional e internacional do destino, investimentos na infraestrutura do destino turístico, valorizando o turismo como um criador de empregos e gerador de recursos para o país. No Brasil, ainda temos a força do turismo interno. Brasileiros podem viajar muito mais livremente dentro do nosso próprio país.

Esse ambiente positivo para investimentos – que ainda precisa ser aperfeiçoado – deverá vir de uma legislação de estímulos bem estruturada, de uma segurança jurídica que possa aumentar a oferta de hotéis, resorts, parques temáticos e serviços para turismo no Brasil. Toda a conectividade, a infraestrutura e as empresas de transporte aéreo, rodoviário e serviços também são grandes oportunidades de negócios.

Os investidores nacionais e internacionais precisam sentir essa melhora de ambiente, e de condições. No debate de Reforma Tributária, que deve ser iniciado em breve pelo governo do presidente Lula e Congresso Nacional, precisaremos enxergar o estímulo ao turismo como algo estratégico para o Brasil.

4- Como proporcionar a mais brasileiros a experiência de viajar, além de fortalecer o nosso mercado interno de turismo?

O mercado brasileiro de turismo é um só. A melhoria da infraestrutura e o aumento da oferta de atrativos, hotéis e destinos depende dessa combinação do recurso do turismo interno com o internacional. A democratização do turismo passa por proporcionar mais opções para o consumidor, maiores incentivos à conectividade aérea, terrestre e náutica, levando a melhores preços; por dar a mais brasileiros a condição de viajar, com mecanismos que são usados em todo o mundo.

Vamos estudar como implementar aqui, para tornar o turismo mais acessível e uma realidade na vida de milhões de pessoas que hoje estão fora do mercado de viagens. Essa é uma prioridade do nosso governo junto ao presidente Lula.

Vamos estimular todos esses fatores, trabalhando com o Conselho Nacional do Turismo, Fornatur e Anseditur e as lideranças empresariais do setor. Existem pólos de turismo interno no Brasil que poderiam ser acessados por via aérea em 1 ou 2 horas, mas que, mesmo de avião e terrestre juntos, levam mais de 10 horas. As soluções serão construídas em conjunto a partir deste diálogo que estamos construindo com todos os atores do setor de turismo.

5 - O crédito tem um papel fundamental nesse crescimento do nosso turismo?

Certamente, tanto no crédito, para o brasileiro consumir mais turismo, quanto no financiamento da atividade de quem já opera o turismo, de quem precisa ampliar os investimentos e de novos investidores. É um conjunto de atividades muito amplo.
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Precisamos ter mais crédito orientado, estímulo à renovação de equipamentos em hotéis e restaurantes e mais políticas de garantias. Já temos disponível o Fundo Geral do Turismo (Fungetur) e vamos trabalhar para aperfeiçoá-lo de modo a escoar os recursos hoje disponíveis – o orçamento deste prevê R$ 869,1 milhões – maior valor ordinário já previsto na história do Fundo. Também vamos estudar formas de o trabalhador brasileiro poder financiar a sua viagem em melhores condições.

6 - O brasileiro ainda gasta muito mais com turismo no Exterior do que temos receita de turismo internacional no Brasil. Como reverter essa tendência e equilibrar, além de trazer mais estrangeiros para fazer turismo aqui?

É verdade. E esse desequilíbrio já nos gerou um déficit na conta turismo de mais de R$ 150 bilhões desde 2005. O turismo no Brasil para o viajante internacional precisa tornar-se mais competitivo em preço. Também precisamos estar atentos ao fato de que é uma viagem distante para os maiores mercados consumidores do mundo.

Vamos trabalhar com o presidente da EMBRATUR, Marcelo Freixo , e a sua equipe, em busca de mais recursos para investir na promoção interna do turismo e internacional, conforme patamares já usados por potências mundiais do turismo, como França e México. Nos últimos anos, os valores que tivemos para promoção internacional foram irrisórios. Temos países concorrentes no turismo internacional com orçamentos bem estruturados e estratégia agressiva de promoção. O Brasil precisa entrar nesse jogo com profissionalismo e investimento compatível.

Por outro lado, entendemos que essa melhoria na oferta turística interna também ajudará em termos internacionais – ao termos nossos destinos mais seguros, organizados, sinalizados, com mais atrações, inclusive culturais, hotéis, eventos, congressos, feiras, melhor conectividade – tudo isso contribuirá para sermos mais competitivos e atrativos, além da promoção.
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O Brasil também está se unindo a destinos do Mercosul para construção de rotas integradas e completas que sejam atrativas para viajantes de mercado mais distantes, como o europeu e asiático.

7 - E como trabalhar melhor os nossos destinos turísticos? O que podemos fazer para melhorá-los?

Vamos pensar de que forma modernizar os convênios com estados e municípios e como aplicar recursos para ganho de qualidade urbana, sinalização, acessibilidade nos principais atrativos do Brasil, também junto com outros ministérios e bancos oficiais.

Igualmente, buscar novos caminhos para que nossos parques naturais recebam mais recursos e melhorias, assim como pousadas e hotéis ecológicos; focar em sustentabilidade; sermos pragmáticos e regulamentar áreas especiais para desenvolver o turismo onde temos alto potencial; utilizar prédios históricos e públicos de forma mais inteligente para o turismo, preservando conforme é feito em Portugal e vários países da Europa – inclusive temos em andamento um projeto chamado Revive. Além disso, vamos estudar as condições necessárias para termos parques temáticos de padrão internacional, atraindo, principalmente, o turista sul americano e dando opção de maior qualidade ao brasileiro. Há muito o que fazer, mas é preciso criar um ambiente positivo e de estímulo.

8 - A Costa brasileira, uma das maiores do mundo, com seu enorme potencial, também precisa ser mais bem trabalhada para o turismo, não?

Sem dúvida. Com cerca de 8.500 quilômetros de litoral, 35 mil quilômetros de rios e canais navegáveis e mais 9.260 quilômetros de margens de reservatórios de água doce, lagos e lagoas, o Brasil apresenta um dos maiores potenciais de desenvolvimento do turismo náutico no mundo. Portanto, além da costa, precisamos considerar o enorme potencial de nossos rios, lagos e represas.

O turismo náutico traz consigo muitas atividades e empregos, e o Brasil ainda é pouco desenvolvido nessa área, até mesmo em termos de estrutura de píeres e marinas. Por isso, temos em andamento um projeto de fortalecimento destas estruturas para impulsionar o turismo em águas no país.

Da mesma forma, é necessário atuarmos para oferecer melhores e mais competitivas condições para cruzeiros e roteiros náuticos. Uma preocupação é a qualidade das nossas orlas, como as do Rio de Janeiro, e das nossas praias. Por isso, em breve anunciaremos novas ações no âmbito do projeto Brasil, essa é a nossa praia, que busca fortalecer ações de gestão responsável e adoção de boas práticas em sustentabilidade por gestores públicos, comunidades locais e turistas nas nossas orlas.

9 - Ao mencionar o Rio de Janeiro, imagino que a Sra. deverá ter um olhar especial sobre a cidade e o Estado do Rio...

O Rio de Janeiro é uma das grandes referências do Brasil no exterior, ao lado de Foz do Iguaçu, São Paulo, Amazônia, Pantanal, e das nossas praias do litoral do Nordeste. No Ministério do Turismo, vamos atuar para fortalecer o turismo no estado do Rio de Janeiro e municípios, para proporcionar toda essa melhoria no ambiente de negócios, infraestrutura, segurança e conectividade, de forma integrada. Para isso, já tive uma reunião com o trade turístico estado, ouvindo demandas do setor para construirmos soluções conjuntas.

Como resultado, já estive com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, discutindo ações para a retomada do protagonismo do Galeão no campo econômico e turístico do Rio de Janeiro.

Também devemos apoiar o desenvolvimento de ações que busquem oferecer mais segurança, estrutura, promoção junto com a Embratur, e condição de realizar grandes eventos internacionais. O Rio tem muita dinâmica na economia criativa, cultura, música, audiovisual e esportes. Toda a estética do Rio já foi um grande esteio do turismo na cidade. Vamos buscar de volta e lutar pelo que é nosso.

10 - E nessa visão integrada do turismo entram, naturalmente, os empregos...

Sim, ao estimular o turismo de várias formas, estaremos, também, criando empregos em todo o Brasil e gerando renda para a nossa população. E, mais importante, fomentando o empreendedorismo feminino no setor por meio de ações de capacitação e de acesso facilitado ao crédito. Em todo o mundo, e aqui não é diferente, o turismo emprega pessoas de todas as idades, até os idosos, e também é importante no primeiro emprego. Teremos foco total em oferecer oportunidades de qualificação tanto para trabalhadores do setor quanto para aqueles que buscam uma vaga para ingressar em atividades relacionadas ao turismo. Nossa visão e a do presidente Lula, passa por um turismo mais inclusivo e acessível para todos.

11 - A Sra. pretende apresentar algum novo plano ou projeto para o turismo brasileiro?

Sim. Inicialmente elaborei junto a minha equipe técnica, um plano de ação para os 100 dias de governo. Inclusive, apresentei este plano ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que destacou o alinhamento com as demandas apontadas no relatório de transição e com as pautas prioritárias do presidente Lula.

O plano está dividido em cinco eixos estratégicos: Diálogo; Sustentabilidade e mudanças climáticas; Carnaval; Estruturação de destinos e Redução do preço das passagens aéreas, para democratizar o acesso da população à aviação no país. Já começamos a divulgar o detalhamento deste plano, que é um documento orientador para nortear as nossas ações mais imediatas, mas que também poderá ser atualizado a qualquer tempo com a inclusão de novos projetos.

E, claro, não significa que nele estão todas as ações em execução no Ministério do Turismo, porque, paralelamente, estão em andamento outros projetos e programas que buscam, de igual forma, reconstruir, fortalecer e impulsionar o turismo no Brasil, tal qual me foi confiado pelo presidente Lula.

A minha função como Ministra passa muito por promover um ambiente no país a fim de contribuir para criação de empregos no turismo, de apoiar a recuperação do setor após os fortes impactos da pandemia da Covid-19 e de trazer mais oportunidades para milhões de brasileiros. Temos todas as condições do mundo para fazer com que o turismo no Brasil seja uma das principais atividades econômicas, levando felicidade para as pessoas na medida em que nos tornemos um destino bom para os brasileiros e para o resto do mundo.

O Brasil, enfim, está de volta, e esse governo vai trabalhar com união e reconstrução para vermos o turismo em nosso país alcançar todo o seu potencial.

Por Jefferson Del Bem em O DIA* 

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