Família de afegãos espera por ajuda humanitária no aeroporto de Guarulhos
Fabrízio Glória
Família de afegãos espera por ajuda humanitária no aeroporto de Guarulhos

O afegão Mohammed Ismali Nabizada chegou ao Brasil há uma semana entre milhares de refugiados que deixaram o Afeganistão, após volta do grupo radical do Talibã ao controle do país — que completou um ano este mês, com a saída das tropas americanas da região. 

Nabizada e sua família, que recentemente ganhou uma nova  integrante, de apenas um mês de vida, divide o chão do aeroporto com outros 250 afegãos em situação de refúgio, improvisada e com precariedade de recursos. 

Eles passam as noites e os dias nos alojamentos montados com carrinhos de malas, colchões e cobertores recebidos por doações da prefeitura de Guarulhos ou de pessoas e cidadãos solidários nos corredores do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, em São Paulo.

A vinda ao Brasil

As famílias afegãs que fugiram do Talibã são do grupo étnico chamado Hazara e seguem o Islam Xiita, uma minoria religiosa no Afeganistão. Eles são considerados uma ‘ameaça’ ao regime extremista do Talibã, que oprime os direitos das mulheres e qualquer grupo religioso que se opõe à sua ideologia radical.

Ismali Nabizada conseguiu embarcar para o Brasil com a mãe de 86 anos em cadeira de rodas, sua esposa, o filho e uma menina recém nascida de apenas um mês de vida. A família, após perder tudo em seu país, busca abrigo e trabalho no Brasil.

Alojamento de refugiados afegãos no Aeroporto de Guarulhos
Fabrízio Glória
Alojamento de refugiados afegãos no Aeroporto de Guarulhos

“Nós somos uma minoria religiosa no Afeganistão. Nós, povos Hazara, somos considerados inimigos pelo Talibã, pois somos Xiitas. A situação está muito perigosa, nossas escolas, mesquitas e templos foram destruídos com explosivos pelos grupos terroristas”, disse Nabizada. 

A situação é de tamanha vulnerabilidade para essas pessoas que o número de vistos humanitários em embaixadas brasileiras no Irã e do Paquistão bateu recorde após medida emergencial do governo brasileiro editada no início da crise autorizando a entrega de visto humanitário aos afegãos.  

Pedidos de vistos triplicaram

Nos três primeiros meses, 339 vistos foram concedidos e esse número chegou a triplicar nas últimas semanas. Hoje, após um ano da volta do Talibã ao poder, estima-se que cerca 2,8 mil pessoas originárias do Afeganistão vieram para o Brasil.

Ao todo, estima-se que 3 milhões de pessoas tiveram que deixar sua terra natal para fugir do Talibã. 

Desde o início da política de acolhida aos afegãos, o Itamaraty informou que já foram autorizados 6.138 vistos humanitários a afegãs e afegãos cujas vidas estavam em risco em seu país.

No Posto de Atendimento Humanizado da prefeitura de Guarulhos , de janeiro até novembro, 1.360 cidadãos afegãos foram atendidos pelos assistentes sociais.

Família afegã espera por ajuda humanitária em Guarulhos
Fabrízio Glória

Família afegã espera por ajuda humanitária em Guarulhos

O engenheiro Noor Muhammad deixou o país sem ter como buscar seus pertences na escola em que trabalhava. A família chegou ao Brasil no mesmo dia em que o Talibã anunciou a volta de uma versão mais radical da sharia - a Lei Islâmica.

Muhammad contou à reportagem que pretende estudar a língua portuguesa e começar um programa de doutorado. 

"Eu sou professor de planejamento urbano na universidade. Minha família, meus colegas, estão todos em situação de perigo e miséria. Está muito perigoso para eles. Agora, ter acesso à educação está mais difícil para todos, incluindo homens e mulheres", disse. 

A voluntária do terceiro setor Aline Campos acompanha as famílias há dois meses no aeroporto e diz que a alta demanda exige maior atenção do poder público para encontrar abrigos para todos. 

"A gente entende que foi uma demanda muito grande de pessoas e não tem espaço para todos. Não houve uma logística para essa povo chegar e ir para algum lugar. Então, tem se tentado acolhimento. Hoje mesmo saíram cinco família e dez solteiros que foram para um hotel acolhimento da prefeitura", conta.   

Enquanto estão no aeroporto, a cidade de Guarulhos oferece alimentação diária com café da manhã, almoço e jantar, além de água e cobertores e o serviço prestado pelo posto de atendimento humanizado da prefeitura. 

A prefeitura de Guarulhos também cirou a residência Transitória Todos Irmãos para Migrantes e Refugiados, com capacidade para abrigar 27 pessoas, que ampliou o número para outras 20 vagas especiais para pessoas com deficiência e gestantes. 

O Itamaraty informou a maioria dos casos, a vinda ao Brasil é intermediada por organizações da sociedade civil, que os recebem e promovem sua integração local. 

"Parcela minoritária não conta com esse apoio prévio da sociedade civil organizada e chega ao país em situação de vulnerabilidade", diz a nota.

Para quem desejar colaborar como voluntário na ajuda aos refugiados afegãos entre em contato na Central de Voluntariado de Guarulhos pelo WhatsApp (11) 99637-2799. 

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