A Polícia Civil vai pedir que legistas façam uma perícia de consulta médica legal, baseada em dados constantes no prontuário de atendimento da diarista Maria Jandimar Rodrigues, de 39 anos. Ela morreu no último dia 17, após iniciar um processo estético na clínica do médico colombiano Brad Alberto Castrillon SanMiguel, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio.
Nesta quinta-feira, a Vigilância Sanitária municipal informou que o estabelecimento onde a diarista foi atendida não possui licenciamento sanitário para funcionamento.
O exame pericial, que deverá ser solicitado até a próxima segunda-feira, fará uma espécie de comparação entre a documentação médica entregue pelo colombiano, nesta quarta-feira, com os procedimentos adotados por ele para tentar salvar a vida da paciente. O objetivo é tentar saber se as atitudes tomadas por Brad foram ou não corretas. Caso os peritos avaliem que o procedimento foi feito de maneira indevida, o médico poderá responder por homicídio culposo em razão de imperícia.
Apesar do socorro, que segundo o médico foi prestado por 32 minutos ininterruptos, e das manobras de reanimação, a diarista acabou não resistindo e morreu. Em imagens de câmeras de segurança da clínica, Brad Alberto aparece, por exemplo, aplicando uma injeção de adrenalina na paciente para que ela fosse mantida viva até ser levada para um hospital. Além disto, o delegado também aguarda pelo resultado de um exame complementar, feito nas vísceras da vítima, que pode apontar a causa da morte da diarista.
Câmeras de circuito interno da clínica flagraram Maria Jandimar chegando andando ao local, às 11h08 do dia 17 de dezembro último. Duas horas depois, ela aparece em uma cadeira de rodas, empurrada pelo médico, ao lado do instrumentador Zander Mendonça (de roupa preta). Uma paciente que aguardava atendimento também ajuda, abrindo caminho. Em outra filmagem, o instrumentador e a paciente chamam um elevador. Neste instante, Zander ajeita o lençol que cobre Maria Jandimar. Em seguida, a paciente é colocada no elevador e ainda parece estar viva. Em outra imagem, após deixar o elevador e já na saída da emergência, Maria Jandimar aparece deitada, enquanto são feitas manobras de reanimação.
Em seu depoimento, o médico alegou que quatro minutos depois de ministrar anestésicos, foi informado por Maria que esta estava sentindo palpitações. Ele contou que ela relatou ainda ter esquecido de mencionar que tinha arritmia cardíaca.
Mais de dez pessoas já foram ouvidas pela polícia na investigação. Entre os que já prestaram depoimento, estão duas pacientes que, a exemplo de Maria, também procuraram o médico para realizar procedimentos estéticos.
Uma delas, uma jovem de 27 anos que pediu para não ser identificada, disse ter ficado com três marcas grandes de queimaduras e com pontos necrosados no corpo, após uma hidrolipo no abdômen. Todas as cicatrizes aparecem três dias após o procedimento, feito pelo médico em duas etapas, nos dias 6 e 8 deste mês.
Já a promoter Daiana França prestou depoimento na última segunda-feira. Com sequelas pelo corpo e dificuldades para andar, ela contou ter tido infecção generalizada após se submeter a um procedimento estético com o médico. Ela revelou ter passado 23 dias em um hospital, sendo 16 deles internada numa unidade de Centro de Tratamento Intensivo.
A polícia descartou a hipótese de omissão de socorro por parte do médico. A defesa de Brad Alberto emitiu nota dizendo receber com naturalidade as mídias que comprovam que o médico não omitiu socorro e que não tentou fugir do local. Já o advogado encarregado de tratar dos interesses da família da diarista disse ter entregue um exame feito por Maria Jandimar, na 27ªDP, comprovando que ela não tinha problemas cardíacos.