Rui Falcão
Reprodução: iG Minas Gerais
Rui Falcão

Embora venha sendo ventilada nas últimas semanas, a possibilidade de que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin seja vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 está longe de ser uma unanimidade no PT. Próximos a Lula, o deputado federal Rui Falcão (SP) e o ex-ministro Luiz Marinho, presidente do partido em São Paulo, criticam a ideia.

Lula e Alckmin se encontraram na semana passada, na casa do ex-deputado Gabriel Chalita. Os dois vêm trocando elogios públicos, apesar de a discussão sobre a composição da chapa ainda não ter sido discutida diretamente. O ex-governador deve deixar o PSDB nos próximos dias, mas ainda não informou em que partido se filiará nem se pretende concorrer ao governo do estado mais uma vez.

Falcão e Marinho citam pontos que consideram negativos dos governos de Alckmin em São Paulo como argumento para se colocarem contra a aliança. Nos 12 anos em que comandou o estado (2001-2006 e 2011-2018), Alckmin enfrentou oposição dura do PT.

"O Alckmin viria por qual partido? Para fazer o quê? Com qual programa? E a simbologia? O Pinheirinho (área da cidade de São José dos Campos desocupada em janeiro de 2012 durante ação da PM marcada por denúncias de violência), as brigas com professores, as quatro gestões de privatizações e de arrocho? Essa é a herança dos tucanos aqui em São Paulo. O fato de ele sair do PSDB não apaga essa história", afirma Falcão, ex-presidente do PT e integrante da Executiva da sigla.

Na visão do deputado, a aliança ainda poderia “esfriar” a militância:

"Em uma campanha que precisa de aguerrimento, você vai botar um anestesista? O cara é um gelo."

Tratamento respeitoso

Apesar das críticas, há no PT quem esteja mais aberto para a composição com Alckmin. Eles lembram que, no cargo de governador, ele manteve boa relação com Lula e Dilma Rousseff, enquanto eram presidentes, e Fernando Haddad, durante sua passagem pela prefeitura paulistana. As discussões mais ríspidas, argumentam, ocorreram nas campanhas eleitorais. O próprio Lula já disse que ele e o ex-tucano não têm diferenças “irreconciliáveis”.

Falcão também acha que o cenário hoje é muito diferente do de 2002. Na ocasião, Lula escolheu o empresário mineiro José Alencar para ser o seu vice.

"Quando escolheu o Alencar, o Lula tinha as restrições da inexperiência e da falta de credibilidade. O vice ali funcionou como um complemento importante. Hoje, o Lula não carece de experiência e tem grande credibilidade porque já fez um monte de coisa. Pode-se gostar ou não, mas todo mundo reconhece."

A escolha de Alckmin, argumentam os entusiastas dessa chapa, serviria para dar um sinal de união de antigos adversários, que pode ser positivo em um ambiente político tão conflagrado. Alckmin ainda goza de prestígio junto a empresários e setores do agronegócio, o que pode ser útil também.

Falcão argumenta que a discussão sobre o posto de vice não deveria acontecer neste momento.

"Agora é hora de discutir programa, reunir forças e iniciar a organização da campanha. Temos que ver quem são os aliados, que programa vamos propor."

Já Marinho não fecha totalmente as portas para a composição com Alckmin, mas diz que os debates sobre os problemas deixados pela gestão do ex-governador precisam ser colocados.

"No estado de São Paulo, nós temos um adversário histórico que se chama PSDB. O PSDB teve como governador por 12 anos um cidadão chamado Geraldo Alckmin. (Nesse tempo, houve) O atraso do engajamento industrial, o desastre na rede de educação, na segurança pública."

Negociação com PSB

Para o presidente do PT de São Paulo, o partido precisa analisar outros nomes:

"Se chegar lá na frente, e for para derrotar o neofascismo, você engole sei lá quantos Alckmins. Mas não tem alternativa?"

Para a negociação vingar, Alckmin teria que se filiar ao PSB, que, por sua vez, exige o apoio do PT em seis estados, entre eles São Paulo, para fazer parte da chapa de Lula. O PT tem mostrado incômodo com as condições apresentadas pelo partido, mas as negociações seguem em andamento. Não há garantia, porém, que esse será o caminho adotado pelo ex-governador. Ele também cogita sair candidato ao governo do estado pelo PSD.

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