Em quase seis anos, Glaidson Acácio dos Santos, preso na semana passada,
movimentou R$ 38 bilhões. Os dados de maio de 2015 a novembro de 2021 constam de documento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) citados no relatório do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF), no qual a prisão foi pedida à Justiça Federal. O procurador da República Douglas Santos Araújo e o delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby afirmam que as cifras são impressionantes e que 44% do valor foram registrados nos últimos 12 meses.
O Relatório de Inteligência Financeira (RIF), ao qual O GLOBO teve acesso, aponta operações de Glaidson com pelo menos 8.976 pessoas — sendo 6.249 físicas e 2.727 pessoas jurídicas. Desde 2015, essa movimentação bilionária estava no radar da Polícia Federal, mas o cerco contra Glaidson se fechou em 28 de abril deste ano, quando foram apreendidos R$ 6,9 milhões em malas com os empresários Robermann Dias Guedes, José Augusto Mariano Fernandes e Helen Barbosa Pinto, que estavam prestes a embarcar em um helicóptero fretado de Búzios para São Paulo.
Glaidson, de 38 anos, que até 2014 era garçom, foi preso na última quarta-feira (25) em sua casa na Barra, acusado de montar um esquema de pirâmide financeira em que prometia ganhos de 10% ao mês ao investir em criptomoedas. A mulher dele, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, que é considerada foragida e está na lista da Interpol para a extradição. A GAS atuava fortemente em Cabo Frio, na Região dos Lagos.
De acordo com o MPF, ao citar o negócio de Glaidson, "o esquema criminoso está em franca operação e cresce em proporção geométrica". Segundo o órgão, a GAS movimentou em 2018 pouco mais de R$ 1 milhão. No ano seguinte, o aumento nas contas da empresa foi exponencial: R$ 477.648.698,03 (crédito) e R$ 476.238.943,04 (débito). Já a movimentação financeira relativa a Glaidson, dizem os procuradores, foi de R$ 294.271.823,15 (crédito) e R$ 296.417.678,95 (débito).
De acordo com a Polícia Federal, com base em relatório da Receita Federal, "de maneira cabal, a dupla (Glaidson e a mulher) está fazendo uso de extensa rede de operadores para movimentar enormes quantidades de ativos, denotando, à primeira vista, possíveis delitos contra o sistema financeiro nacional, lavagem internacional de ativos, sonegação fiscal e organização criminosa". Segundo a PF, o empresário também tem pelo menos duas empresas no exterior: a GAS Consultoria em Tecnologia da Informação LLC, na Flórida (EUA), e a Mireglad Technology LTD, em Londres.
O MPF informou ainda à Justiça que "são numerosos os elementos que demonstram que Glaidson dos Santos, junto com sua companheira Mirelis Zerpa, estão liderando estrutura da organização criminosa que movimenta bilhões de reais tanto no sistema financeiro oficial, como também em criptoativos".
No pedido de prisão, os procuradores federais expõem que Glaidson abriu sua primeira empresa em 19 de março de 2015, com o nome fantasia Sol e Lua Restaurante. O estabelecimento ficava no mesmo endereço onde o ex-garçom morava, na Praia do Siqueira, em Cabo Frio. Os investigadores destacaram ainda que, naquele ano, a empresa "teve movimentação financeira bastante modesta e compatível com seu porte: R$ 73.799,39 (crédito)". Em junho de 2018, Glaidson alterou o nome da empresa para GAS Consultoria e Tecnologia e se mudou para um prédio no centro de Cabo Frio. Foi quando a movimentação financeira começou a explodir.