Mortes no Jacarezinho: família diz que jovem de 21 anos entrou vivo no caveirão
Entre orações e denúncias, Natan Oliveira de Almeida foi sepultado na tarde deste sábado
RIO - Marcado por muita emoção e correntes de orações, o enterro de Natan Oliveira de Almeida, de 21 anos, um dos 29 mortos na Favela do Jacarezinho, durante operação policial realizada na quinta-feira , aconteceu na tarde deste sábado, no Cemitério da Penitência, no Caju. Familiares da vítima confirmam que ele tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas alegam que ele se rendeu e entrou vivo no caveirão.
Padastro de Natan, o comerciante Samuel Ferreira da Silva conta que a família está devastada. Casado, ele deixa uma filha de 10 meses. Participaram do enterro cerca de 35 pessoas, que foram levadas da comunidade ao cemitério em um ônibus cedido por uma viação, a pedido da associação de moradores.
— O Natan era uma pessoa boa. Não vou negar que ele vendia droga e fumava maconha, atuava como vapor, mas ele não resistiu à prisão, nem trocou tiros com a polícia. Muitos moradores viram ele se entregando, dizendo que "perdeu", e entrando no caveirão vivo, sem estar baleado. Só que ele morreu com um tiro no estômago. Criei ele desde que tinha três anos de idade. Era um garoto bom, meigo, alegre, que tirava a roupa do corpo para te dar. Não estou justificando o que ele fazia de errado, mas se ele se entregou, como a favela inteira viu, ele era para ter sido preso, não executado. A mãe dele está à base de sedativos — relatou o padastro.
Tia de Natan, a vigilante Débora Oliveira de Almeida revelou que, na semana anterior, encontrou o sobrinho na igreja que frequentavam e que ele aceitou uma proposta de trabalho feita por ela.
— Eu não sabia se ele tinha envolvimento com o tráfico, mas ele sempre se mostrou esforçado para trabalhar. Entregava pizza de bicicleta, mas dizia que estava desempregado. No nosso último encontro, na igreja, falei que ia arrumar um trabalho para ele na obra que atuo como vigilante. Ele disse que queria muito. A mãe dele criou cinco filhos, por muito tempo sozinha. Lutou muito, passou muita fome, sempre procurando mantê-los no caminho certo. Só quem mora em comunidade sabe como é difícil — destacou a tia.