Marcelo Crivella
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Marcelo Crivella

Seis meses após a primeira etapa de flexibilização das medidas de isolamento social, os parâmetros da própria prefeitura do Rio indicam que a cidade deveria retroceder para antes da primeira fase do plano de retomada.

O painel “Indicadores do Plano de Retomada” traz sete índices atualizados diariamente e que foram usados como base para as decisões tomadas pela prefeitura do Rio na retomada econômica da cidade.

Nesta sexta-feira, em um anúncio conjunto com o governador em exercício, Claudio Castro, o prefeito Marcelo Crivella disse que o município trabalhará para abrir mais leitos e que a partir da próxima segunda feira as aulas presenciais na rede municipal estão suspensas .

Porém, nesta quarta-feira o Comitê Científico da prefeitura sugeriu diversas outras medidas de isolamento que não foram tomadas. A decisão provocou revolta em alguns membros do Comitê da prefeitura .

Dos sete indicadores , somente o número de leitos de UTI da rede pública de saúde por 100 mil habitantes está marcado como “favorável” para a atual fase de flexibilização. O indicador é um dos menos móveis, pois só ficaria negativo caso houvesse um grande desmonte de leitos da rede ou a população aumentasse significativamente a ponto de alterar o cálculo.

Os indicadores mais preocupantes estão nos parâmetros que analisam a capacidade de resposta do sistema de saúde do Rio — que segundo especialistas da Fiocruz já está em colapso . Entre eles está a média móvel de sete dias do “percentual da ocupação de leitos de suporte à vida” da rede pública de saúde da cidade. É ele que indica que o Rio não deveria nem estar na fase 1 do plano de retomada, que começou no início de junho.

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Outros três indicadores apontam como “não favorável” a permanêncccccia da cidade na fase 3 da flexibilização, iniciada em dois de julho. Entre eles estão a taxa de variação de pacientes e o percentual de ocupação de leitos de UTI na rede pública da Região Metropolitana — capital e Baixada Fluminense.

Desde o dia 21 de novembro, o indicador do número de casos notificados de síndromes gripais não é atualizado no sistema. Sem este dado, o sistema não gera o “parecer para a abertura de fase de acordo com os indicadores primários”. Porém, para que esse parecer seja favorável, todos os parâmetros precisam ser favoráveis.

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Nesta quinta-feira, com base nos parâmetros desse painel, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro expediu uma recomendação para que a fase de flexibilização adotada pelo município do Rio seja compatível com os indicadores referentes ao percentual de ocupação de leitos de UTI na cidade. E foi a partir do dia 20, um dia antes do sumiço de um dos parâmetros do painel, que o MP percebeu que "todos os indicadores ingressaram em um ritmo de piora exponencial, indicando a necessidade técnica de regressão de fase".

Procurada, a prefeitura do Rio ainda não comentou.

Prefeitura não adota recomendações do Comitê Científico

O governador em exercício Cláudio Castro e o prefeito Marcelo Crivella apresentaram os próximos passos no enfrentamento à Covid-19 no estado do Rio, em coletiva na tarde desta sexta-feira, dia 4. A expectativa era quanto ao anúncio da retomada de medidas restritas. As escolas municipais voltam a fechar as portas, ao passo em que centros comerciais podem funcionar 24h por dia.

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A Scretaria estadual de Saúde anunciou a abertura de 386 leitos, sendo 314 de UTI. Já Crivella disse que no município serão abertos 170 leitos de enfermaria nos próximos 15 dias e mais 50 de UTI.

Castro e Crivella apresentaram o funcionamento de centros comerciais em tempo integral como uma alternativas para evitar aglomerações, o que poderia diminuir até a sobrecarga no transporte público.

— Podemos retroceder. Então o apelo que se faz é que a gente não precise tomar medidas mais duras, o que seria preferencialmente evitável. Fizemos um sacrifício de quase um ano. Por isso, faço apelo sobre a conscientização de todos — afirmou Crivella, que disse ter definido com representantes do comércio a mudança no horário. — Os shoppings e centros comerciais serão autorizados a funcionar 24 horas por dia para que a população não precise correr.

Instantes depois, Castro voltou ao tema e afirmou que a iniciativa está autorizada a ser estendida a todo o estado do Rio:

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— A medida vai ser válida durante todo o tempo em que tiver essa situação de crise. Depois, quando voltarmos ao normal, definiremos o fim dessa iniciativa.

O governador em exercício completou:

— Há medidas de isolamento em vigor. Reconhecemos nossa falha na fiscalização e reforçamos isso. Entendemos que medidas bem fiscalizadas e ampliação dos leitos neste momento é suficiente.

Medidas de enfrentamento à Covid-19

Crivella disse que as atividades nas escolas serão suspensas a partir de segunda-feira, dia 7. A medida, segundo ele, vai ajudar a diminuir as pessoas nas ruas e transportes públicos, bem como evitar a contaminação nos ambientes escolares.

Até então, apenas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental podiam frequentar as unidades, além de setores administrativos. A adesão, no entanto, foi baixa. Crivella disse que as atividades estão interrompidas até que se consiga controlar a curva da doença na cidade:

— As escolas municipais, por recomendação do Ministério Público e do comitê científico, nós estamos interrompendo, esperando que a gente consiga controlar essa curva e ela volte a uma estabilidade. Isso (um balanço) tem sido feito diariamente em conjunto entre os nossos especialistas e do Estado.

O prefeito do Rio ainda falou sobre o funcionamento de tomógrafos 24 horas por dia para a realização de exames. O serviço estendido será oferecido em unidades de saúde do estado como os hospitais Getúlio Vargas, Carlos Chagas, Alberto Torrres, na capital, e em municípios como Duque de Caxias, Volta Redonda e Saquarema.

— Faço um apelo para a população principalmente não fazer aglomerações em locais onde não se usa máscaras, como os bares e as praias — disse Crivella.

Leitos no estado

Na rede de saúde, que, segundo especialistas, já está novamente em colapso , a situação é de muita pressão por leitos, sobretudo na capital, onde há 99% de ocupação nos leitos exclusivos para coronavírus ofertados pela prefeitura, e de 92% na rede SUS regulada pelo município. Em todo estado, há fila de 216 pacientes por vagas de UTI, 86% preenchidas . Hoje foram anunciadas abertura de novas vagas para os próximos dias. De acordo com o estado, serão 386 novos leitos, sendo 314 de UTI. Já a prefeitura do Rio falou em abrir 170 leitos de enfermaria nos próximos 15 dias, e mais 50 e UTI.

A alta taxa de ocupação de leitos tem sido um dos pontos principais. Hoje, segundo o governo do estado, a regulação na UTI Covid leva, em média, 18 horas para uma vaga para os pacientes. Já na enfermeira, o tempo de espera é de 36 horas. Castro afirmou ter pedido à secretaria por uma solução, em 72 horas, para fazer com que a espera para internação na enfermaria caia para menos de um dia.

— Estamos trabalhando quatro grandes pilares: transparência, com dados apresentados aqui já sendo colocados no site da secretaria estadual de Saúde; abertura de leitos, em parceria com o município; fiscalização, que já começou semana passada, fechou mais de 40 eventos e será ainda mais dura neste fim de semana; e a conscientização da população, com campanha publicitária que começa na semana que vem — enumerou o governador em exercício.

Sem volta

Apesar do posicionamento do comitê técnico da prefeitura, do Ministério Público do Rio e da comunidade médica, em seu pronunciamento inicial, Castro não falou em retroceder quanto às liberações neste momento:

— A pandemia não foi embora. Vivemos um ano extremamente difícil. Onde todos tiveram prejuízos incalculáveis, muitos não conseguiram trabalhar. Muitas dificuldades, inclusive erros do poder público. O mundo inteiro errou, não fomos diferentes. Precisamos que todos se conscientizem e assumam a responsabilidade para não ter retrocesso. É preciso o uso do álcool, o distanciamento, o uso da máscara. A pandemia não foi embora. Estamos lutando contra um inimigo duro — afirmou o governador em exercício.

Castro negou estar indo em direção oposta à área técnica:

— Estamos todos os dias conversando com os técnicos da saúde. Não estamos desrespeitando a área técnica da saúde — disse.

Na quinta-feira, dia 3, Castro negou mais uma vez que o estado adotará quaisquer medidas novas de restrição, apesar da recomendação de especialistas que compõem o comitê científico da prefeitura do Rio em adotar novas medidas de isolamento social. Entre as sugestões está o fechamento de escolas, a proibição da presença de banhistas nas praias e o escalonamento do horário do comércio — entre eles bares e restaurantes.

A prefeitura da capital também foi pressionada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro a retroceder nas decisões quanto às fases de flexibilização do plano que tem seguido. O órgão expediu uma recomendação na quinta-feira, dia 3, ao prefeito Marcelo Crivella e à secretária municipal de Saúde para que as regras adotadas sejam compatíveis com os indicadores referentes ao percentual de ocupação de leitos de UTI na cidade.

O MP analisou os dados do próprio município e chegou à conclusão que desde o dia 20 de novembro "todos os indicadores ingressaram em um ritmo de piora exponencial, indicando a necessidade técnica regressão de fase".

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