Comércio do Rio de Janeiro fechado
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Comércio do Rio de Janeiro fechado

RIO — No dia em que o estado ultrapassou a marca de cinco mil mortes por Covid-19, o governo do estado acertou os detalhes finais de um plano para reabrir parte do comércio e dos serviços daqui a uma semana. O governador Wilson Witzel se reuniu na tarde desta sexta-feira com secretários e especialistas do comitê de notáveis montado pelo governo para discutir os detalhes da minuta de um decreto que vai estabelecer os critérios da reabertura.

Como mostrou uma reportagem do "RJTV 1ª Edição", que teve acesso ao texto preliminar, o projeto inicial previa o início da retomada das atividades econômicas já nesta segunda-feira, mas O GLOBO apurou que essa data foi postergada para o dia 8 durante a reunião desta tarde. Dois fatores pesaram na decisão do adiamento: a avaliação dos médicos do comitê de que os indicadores da pandemia ainda não estavam favoráveis à reabertura e a preocupação do secretário estadual de Transportes Delmo Pinho, em ter que reorganizar o setor às pressas para atender a uma grande demanda de passageiros no primeiro dia de junho, caso a data original fosse mantida.

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O texto provisório prevê, num primeiro momento, o funcionamento das indústrias com 70% da capacidade e a abertura de shoppings e lojas de rua com 50% da capacidade . O processo de abertura será feito em etapas. A primeira etapa deve durar do dia 8 ao dia 21. Após o término desse período, o grupo formado por secretários e pelo comitê de notáveis vai avaliar se é possível partir para um próximo estágio.

A proposta mantém a suspensão, na fase inicial, de atividades com público, como jogos de futebol, sessões de teatro e de cinema e festas em estabelecimentos. Escolas de todos os níveis de ensino também ficariam fechadas até então. Academias de ginástica não reabririam no início do processo, mas o texto inicial do decreto libera atividades esportivas individuais ao ar livre — exceto o banho de mar nas praias.

Durante a reunião desta tarde, algumas propostas foram alteradas e, em outras, não houve consenso. Foi o caso das atividades ao ar livre, já que os especialistas foram contra a liberação delas mas não essa proibição não ficou clara no texto do decreto.

Os bares e restaurantes, que inicialmente voltariam a abrir no dia 8, desde que obedecessem a capacidade máxima de 50% da lotação, vão permanecer fechados na etapa inicial. As igrejas e templos religiosos também deixarão de ser contemplados no primeiro momento.

Os shoppings poderão voltar a abrir as portas já no dia 8, mas deverão obedecer algumas regras e funcionarão em horário reduzido, das 13h às 21h. O centros comerciais não poderão ultrapassar 50% da lotação. O texto preliminar previa que a testagem obrigatória de todos os funcionários uma vez por mês, no entanto essa obrigatoriedade deverá ser substituída pela incumbência de pôr em quarentena qualquer trabalhador que apresentar sintomas. Também deve ser alterada a necessidade de medir a temperatura de todos os clientes ao entrar no shopping. Esses estabelecimentos, pelo texto, deverão manter fechadas as áreas de recreação e retirar mesas das praças de alimentação — os restaurantes funcionariam apenas para entrega ou retirada.

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— Tentamos simplificar um pouco as regras para os shoppings, mas sem perder a segurança. Do jeito que estava, ia ficar muito ruim para os lojistas e poderia gerar demissão em massa — explica um especialista que participou da reunião.

O comércio de rua também será liberado a partir do dia 8, mas será definida uma tabela de horários de funcionamento para evitar a aglomeração de pessoas nos transportes públicos.

— O transporte público é peça fundamental neste momento. Se não houver transporte em quantidade para dar conta dessa retomada, muita gente pode ser contaminada — explica o especialista.

Também haverá novos protocolos para o funcionamento de pousadas e hotéis no interior do estado.O novo decreto deve prever ainda a reabertura das feiras livres já na primeira etapa, desde que os feirantes cumpram algumas medidas sanitárias.

A equipe voltará a se reunir na semana que vem para debater outros detalhes do projeto. O atual decreto vence no domingo. O governo ainda avalia se haverá um novo decreto apenas para o adiamento ou se o novo decreto já vai abarcar a reabertura a partir do dia 8.

Na avaliação do imunologista do Instituto Nacional do Câncer João Viola, ainda é cedo para programar a flexibilização do isolamento social.

— Não temos nenhum dado que indique uma queda na curva de infecção. Pelo contrário, os dados mostram no Estado do Rio, assim como no Brasil, uma curva ascendente de infecção e com um número diário de mortes extremamente alto. Além da curva crescente e do grande número de óbitos, ainda temos um sistema de saúde à beira do colapso, então não há nenhum dado que justifique a flexibilização neste momento — afirma o médico.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Estado do Rio de Janeiro, Tania Vergara, a retomada só deveria ser iniciada quando não houvesse mais sobrecarga no sistema de saúde.

— O momento de reabrir é quando não tiver mais fila de CTI, porque na hora em que retomarmos as atividades a tendência é que aumente um pouco a demanda. A reabertura realmente tem que ser gradual, mas enquanto houver fila não será o momento de voltar ao normal — diz.

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