Diante da incapacidade de cumprir sua promessa de campanha e conter os imigrantes que entram ilegalmente nos Estados Unidos – principalmente com a construção de um muro -, o presidente Donald Trump mudou de estratégia: passou a exercer forte pressão sobre os países vizinhos.
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Na sexta-feira (7), Trump anunciou pelo Twitter que firmou um acordo com o México em que o país se compromete a “registrar e controlar as entradas na fronteira” e “posicionar a Guarda Nacional em todo o território, em especial na fronteira sul”. O acordo foi obtido com forte pressão, em uma negociação entre o governo americano e o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, que durou oito dias.
O americano usou sua principal arma de intimidação: ameaçou a imposição de tarifas. No dia 30 de maio, anunciou que aplicaria a partir do dia 10 de junho o imposto de 5% sobre todos os produtos importados do México caso o país não freasse a onda de imigrantes que atravessam o seu território para chegar aos Estados Unidos. Se não houvesse uma melhora substantiva, as taxas poderiam chegar a 25% em outubro. Como consequência, as Bolsas mundiais caíram, trazendo mais incerteza para o cenário internacional.
Esse instrumento de Trump já se tornou conhecido de seus parceiros comerciais. É assim que o presidente americano negocia com a China, mas com mais dificuldades devido à força econômica do país asiático. Muito distante do poderio comercial da China, o México cedeu mais rapidamente. Pesou o fato de os Estados Unidos serem responsáveis por mais de 70% das exportações mexicanas.
Além disso, a ameaça americana já impactava negativamente o mercado e o risco de crédito do México. A crise migratória também custa caro para o país, que já sofre com um aumento significativo de pedidos de asilo. De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), nos primeiros meses de 2019, os pedidos cresceram 200%. O número de deportações do governo de Andrés Manuel López Obrador triplicou no primeiro trimestre deste ano. Esses números traduzem a crise humanitária enfrentada pelos cidadãos da América Central, que deixam seus países para fugir da violência e da miséria.
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Riscos comerciais
A iniciativa de Trump embutia riscos. Se o governo americano tivesse ido adiante com as tarifas , também se prejudicaria economicamente, já que tanto Estados Unidos quanto México se beneficiam com a troca comercial. Em 2018, os EUA importaram US$ 346,5 bilhões em produtos mexicanos, enquanto o México importou US$ 265 bilhões dos EUA. Alguns produtos são especialmente sensíveis ao governo americano, como a carne de porco, importante para territórios com significativo número de eleitores de Trump, e o mercado automobilístico, que conta com os baixos custos do país vizinho para ali fabricar carros.
Além de bom economicamente, o acordo alcançado traz vantagens políticas para Trump, e em boa hora. O presidente acredita que sua eleição em 2016 se deve, em grande parte, à campanha de endurecimento contra a imigração ilegal. A ideia é usar a mesma estratégia para a reeleição em 2020, cuja candidatura pretende lançar ainda nesse mês.
De acordo com os EUA, 114 mil pessoas foram barradas em maio tentando entrar pela sua fronteira sul – o maior número em 13 anos. A expectativa do México é que, com o acordo, esse número caia para 50 mil. O prazo para testar a efetividade da medida é de 45 dias. Caso falhe, mais mudanças entram na pauta, como o desejo dos EUA de dar ao México a condição de
“terceiro país seguro”.
Na prática, esse princípio leva os imigrantes que chegam aos EUA a serem automaticamente transferidos para iniciar o processo de asilo ao México. Outra medida possível, após esse período, envolve o Brasil. O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, afirmou que o país, assim como o Panamá e a Guatemala, devem contribuir, já que são utilizados pelos imigrantes como passagem para os EUA – no caso do Brasil, principalmente como porta de entrada de imigrantes de fora do continente.
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Asiáticos e africanos estariam usando o território brasileiro como rota estratégica para chegar aos EUA via México. Se as ameaças de Trump forem bem-sucedidas, ele pode conseguir, à custa de esforço e recursos estrangeiros, cumprir o que prometeu – e até, quem sabe, se reeleger.