A defesa do empresário Marcelo Odebrecht encaminhou ao juiz Sérgio Moro uma série de e-mails acerca da compra de um terreno para sediar o Instituto Lula. O imóvel é objeto de ação penal da Operação Lava Jato que apura se o terreno e o aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP)
são vantagens indevidas oferecidas pela Odebrecht ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os advogados do herdeiro da construtora afirmaram ao juiz de Curitiba que os documentos sobre o terreno para o Instituto Lula estavam em um HD encontrado por Marcelo Odebrecht em sua casa, na zona sul de São Paulo. O empreiteiro foi autorizado a cumprir prisão domiciliar no fim do ano passado, após ter passado dois anos e meio preso na carceragem da Polícia Federal no Paraná.
Os e-mails apresentados à Justiça Federal expõem troca de mensagens ocorridas no segundo semestre de 2010 entre o próprio Marcelo Odebrecht, executivos da construtora e o advogado Roberto Teixeira – que também é réu na ação penal da Lava Jato.
A defesa de Marcelo Odebrecht afirma que as mensagens "corroboram os pagamentos registrados nos sistemas MyWebDay
e Drousys
", utilizados para a contabilidade dos pagamentos de propina efetuados pela construtora.
"Vou avisando o Italiano"
As mensagens revelam discussões acerca de entraves para a operação de compra do terreno, localizado na rua Dr. Haberbeck Brandão, na zona sul de São Paulo.
Em um dos e-mails, datado de 29 de setembro de 2010, o executivo Paulo Barqueiro de Melo informa Marcelo Odebrecht que a compra do terreno foi efetivada.
Dias mais tarde, Paulo Melo volta a enviar mensagem ao chefe para informar que foi contratada uma empresa para fazer a segurança do local. Marcelo responde: "Ok, vou avisando o italiano". "Italiano" é o codinome que os delatores da construtora dizem ser atribuído ao ex-ministro Antonio Palocci, apontado como responsável pela negociação de propina da empreiteira ao Partido dos Trabalhadores (PT).
A compra do terreno foi realizada, oficialmente, pela DAG Construtora, que pertence a Demerval de Souza Gusmão Filho. O empresário confirmou em depoimento prestado ao juiz Moro em setembro do ano passado que atuou no negócio como laranja a convite de Paulo Melo.
Na troca de e-mails apresentada nesta semana ao juiz Moro, Paulo Melo manifesta cautela em relação ao acordo com Demerval.
"Preparamos um documento de confissão de dívida a ser assinado pela DAG, formalizando o adiantamento que fizemos para aquisição do imóvel do Instituto. A ideia é termos uma única via do documento arquivada em nosso poder. Apesar da confiança que temos no parceiro, ele é a única pessoa na DAG ciente da operação, o que poderia nos causar um certo inconveniente numa hipótese improvável de sucessão", diz Paulo Melo a Marcelo Odebrecht.
Em outra mensagem, o executivo diz que foi procurado pelo "pecuarista", em alusão a José Carlos Bumlai, que é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter participado da busca por um terreno que se encaixasse nos requisitos definidos pelo ex-presidente Lula para a construção de uma sede para o instituto.