Padre Júlio Lancellotti é acordado por policiais durante Via Sacra do Povo da Rua realizada na última sexta-feira em SP
Reprodução/Instagram
Padre Júlio Lancellotti é acordado por policiais durante Via Sacra do Povo da Rua realizada na última sexta-feira em SP

O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua em São Paulo, afirma que agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) fotografaram moradores de rua que se manifestaram contra medidas da prefeitura durante Via Sacra no centro da capital paulista na última sexta-feira. Segundo Lancellotti, alguns dos manifestantes foram agredidos fisicamente no sábado por agentes da GCM em retaliação à sua participação no ato de protesto.

Durante a Via Sacra, o sacerdote também foi abordado por quatro policiais militares em uma medida que Lancellotti considerou intimidatória.

O evento foi organizado pela Pastoral do Povo da Rua e iniciou com uma concentração de fiéis, muitos deles moradores em situação de rua, no Largo São Bento por volta das 8h.

A procissão em si começou uma hora depois, com caminhada pela rua Líbero Badaró, e teve paradas em frente a edifícios públicos como a Secretaria de Assistência Social de São Paulo e a prefeitura. Durante o ato, um microfone foi dado para que moradores em situação de rua falassem e houve discursos contra medidas repressivas por parte do poder público.

A Via Sacra foi interrompida pelos policiais, segundo Lancellotti, por volta das 10h, quando os fiéis estavam em frente à sede da prefeitura de São Paulo. Naquele momento, o prédio estava cercado por grades e alguns moradores de rua colocaram cobertores sobre o gradil.

— Houve falas muito fortes do povo da rua cobrando ações (sociais) da prefeitura. A impressão é de que a GCM chamou a polícia nesse momento. Chegaram quatro pioliciais, queriam que eu saísse da manifestação para falar com eles. Eu disse que estava coordenando o uso do microfone e não dava para sair. Eles insistiram, pediram meu documento de identidade e o fotografaram, o que é uma forma de intimidação — disse Lancellotti ao GLOBO.

Os policiais perguntaram sobre o motivo do ato e seu percurso. Lancellotti afirma, porém, que o evento teve início ao lado de uma cabine policial sem que houvesse quaisquer questionamentos de PMs. — A abordagem foi fora do momento, saímos do largo São Bento ao lado da cabine policial e só uma hora e meia depois vieram questionar — conta o padre.

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No dia seguinte ao evento, no sábado, Lancelloti diz que houve uma agressão a moradores em situação de rua que se manifestaram durante a Via Sacra.

— Agentes da GCM fotografaram irmãos de rua que se manifestaram e ontem, procuraram-nos, localizaram alguns no dia seguinte e bateram neles. Disseram a eles que o padre não estava ali para protegê-los e que 'não vão ficar na aba do padre a vida inteira'. Isso é gravíssimo — afirmou.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana disse em nota que a Via Sacra foi "uma manifestação pacífica" e que "desconhece qualquer ato de agressão praticado por parte dos servidores da Guarda Civil Metropolitana a moradores de rua ou registro de ocorrências".

Já a Polícia Militar afirma ter acompanhado o que chamou de "ato reivindicatório por justiça e moradia aos cidadãos em situação de rua" e diz que o evento foi pacífico, mas não comentou sobre a abordagem policial ao padre.

Lancellotti postou imagens da abordagem nas redes sociais, onde recebeu o apoio de fiéis e celebridades como a apresentadora Astrid Fontenelle. O tratamento da PM ao padre na Via Sacra foi comparado na internet ao apoio policial dado ao presidente Jair Bolsonaro durate a motociata realizada em São Paulo no mesmo dia.

— A motociata de um chefe de Estado tem de ter segurança mesmo. Só considero que, se Jeuss tivesse que fazer uma escolha, certamente não estaria em cima de uma moto, é só ler os Evangelhos para saber. A única vez que ele entrou no palácio de Pilatos foi amarrado e açoitado — diz Lancellotti.

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