Antes e depois de casa que desabou em Petrópolis (RJ)
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Antes e depois de casa que desabou em Petrópolis (RJ)

Parentes de uma família que está desaparecida após a queda de um prédio de três andares na Rua Washington Luiz, no Centro de Petrópolis, acompanham as buscas por pelo menos três pessoas que ainda estariam no local.

Os imóveis desabaram após a forte chuva que causou alagamentos e deslizamentos no município na tarde deste domingo. Fotos mostram o antes e o depois. Parentes tentaram convencer os moradores a deixar a casa, que, como contam, tinha rachaduras. Uma pessoa foi resgatada com vida e outra já morta no mesmo ponto, segundo parentes.

Vizinhos contaram que no momento da chuva descia muita água próxima ao prédio. A recomendação da Defesa Civil, que acionou as sirenes neste domingo, era de que as pessoas deixassem os pontos com risco de deslizamento e enchente, buscando os abrigos da prefeitura. Os imóveis caíram, segundo relatos, por volta das 22h.

A moradora Mirian Gonçalves do Vale, de 35 anos, é uma das desaparecidas, contam os irmãos dela, que estão no local. No mesmo apartamento, no momento da queda, estariam a sobrinha e o namorado, e o marido de Mirian, Anthonio Gonçalves, este resgatado com vida na noite de ontem. Duas pessoas morreram no local.

Robson do Vale de Carvalho, 42 anos, um dos irmãos de Mirian, conta que os dois sobrinhos não estavam em casa no momento em que o imóvel desabou. Por volta das 15h, quando já chovia na cidade, o padrinho das crianças, com idade por volta de 6 anos e 12 anos, os tirou do local.

"Cheguei aqui era 23h30 para tentar resgatar minha irmã, mas só conseguimos resgatar o cunhado, que está com as duas pernas quebradas. Estava chovendo umas 15h, e o padrinho deles pegou (as crianças). Pensamos que estavam todos aqui, mas depois conseguimos falar com o padrinho."

Ele conta como foi o resgate de Anthonio, que foi retirado com vida e com as duas pernas quebradas.

"Ela estava junto com o meu cunhado. Só que o meu cunhado estava em pé e ela, o corpo, não vimos. Ninguém sabe (onde está). A gente quer tirar ela, mas está deslizando ali em cima, entendeu. A gente estava junto com os Bombeiros, mas começou a chover forte, começou a descer" , diz Robson, sem acreditar que a irmã possa estar viva.

As chuvas começaram na Cidade Imperial na tarde deste domingo. Ainda pela manhã, voltaram a castigar o município, fazendo com que fosse necessário parar o serviço de buscas. O servente de pedreiro Leonardo Luis Vale Lopes, de 23 anos, também irmão de Mirian, questionou a paralisação das ações para tentar encontrar sobreviventes.

"A notícia que chegou para mim é que ela está no meio desses escombros, mas eu não tô entendendo porque os bombeiros estão parados conversando, sendo que a minha irmã tá lá em cima, pode estar dando o último suspiro da vida dela, e os caras estão parados. Por que não abrem isso aqui e deixa eu pegar e caçar ela? Eu vou ficar aí até eu achar, com vida ou sem vida eu vou estar ali."

Segundo Leonardo, o imóvel já dava sinais de que não estava em condições de continuar habitado. Paredes estavam com rachadura há semanas. Os parentes tentaram os convencer a deixar o local, mas não conseguiram.

"Ali já estava rachado e a gente falou que era para eles irem para a nossa casa. Mas a minha irmã, como é cabeça dura, falou "não, vou voltar para minha casa". Voltou. Aí no que deu, a casa caiu e ela está no meio dos escombros ", diz o Leonardo, olhando o local onde antes ficava a casa, próxima a deslizamentos da chuva há pouco mais de um mês.

Segundo o Corpo de Bombeiros do Rio, em balanço na manhã desta segunda-feira (21), o órgão "já recebeu mais de 50 chamados para deslizamentos, desabamentos e salvamentos de pessoas ilhadas em diversos pontos", diz em nota. Até o momento foram resgatadas pelos militares 31 pessoas com vida. Foram confirmados cinco mortos: dois no Morro da Oficina, dois na Rua Washington Luiz e um no Valparaiso.

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Nesta manhã, os bombeiros fazem buscas em três pontos da cidade, em ocorrências de deslizamento de terra e salvamento de pessoas ilhadas ou isoladas. Há registro de quatro pessoas desaparecidas na Rua Washington Luiz, no Centro.

Vizinhos viram o desabamento do imóvel

“Foi uma noite de desespero. A gente ouvia as pessoas gritando, pedindo socorro e não podia fazer nada. A água subia e não tinha o que fazer. Logo em seguida a casa de três andares veio abaixo”. A fala é da auxiliar administrativa Jaqueline Filpo Siqueira, de 55 anos, que mora na Rua Washington Luiz. Uma vítima foi resgatada com vida e uma outra já morta. Nesta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros precisou suspender as buscas por conta de novos deslizamentos. Um segundo corpo foi encontrado hoje pela manhã.

"Era um pequeno prédio. Foi por volta das 22h quando tudo veio abaixo. Tinham seis ou sete pessoas. Eles conseguiram resgatar uma pessoa com vida. E as outras estão desaparecidas. Eles acreditam que tem umas cinco pessoas", conta Jaqueline, que desolada lembra o momento de terror:

"As pessoas gritavam pedindo socorro. Mas a gente não podia fazer nada. Estava chovendo muito e a água não deixava a gente socorrer as pessoas. Quando baixou, a casa já tinha vindo abaixo."

Nesta manhã, os moradores estão sem água e luz. Os bombeiros usam cães farejadores na busca pelos desaparecidos.

O arquivista Márcio Nunes, de 45 anos, conta que choveu muito durante à noite.

"Quando eles mandaram o áudio, falando na chuva, vivemos para cá. E quando chegamos já não tinha mais ninguém na casa. Tinham na casa seis pessoas: três adultos, uma senhora e duas crianças. Na segunda chuva as crianças saíram. Graças a Deus."

Enquanto os bombeiros procuram pelas vítimas, comerciantes e moradores do local limpam o que podem.

"Prejuízo incalculável. Eu já vim preparado. A porta arrebentou e levou tudo. Novamente perdemos tudo", destaca Reinaldo Wallace Moreira, de 55 anos, que tem uma loja de material de construção, há um ano, na Rua Washington Luiz. No último mês ele já havia perdido os produtos.

Cinco mortes confirmadas

As mortes ocasionadas pela chuva de domingo ocorreram em três pontos diferentes da cidade da Região Serrana, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Duas foram na Rua Osvero Vilaça, que fica na mesma encosta do Morro da Oficina, região onde houve o pior deslizamento, que deixou quase uma centena de mortos, na chuva de fevereiro. O local foi apontado como área de risco pelos técnicos da Defesa Civil municipal, mas não chegou a ser interditado.

Outro ponto, foi na Rua Washington Luiz, onde uma casa desabou, soterrando uma família de seis pessoas. Duas vítimas foram localizadas sem vida, enquanto outras quatro seguem desaparecidas, sendo procuradas pelos bombeiros. A via é a mesma onde ocorreu a imagem mais emblemática da tragédia em fevereiro, quando dois ônibus foram engolidos pela cheia e arrastados para dentro do Rio Piabanha.

O local de desabamento deste domingo fica a 200 metros de onde os ônibus foram arrastados no mês passado e a única ocorrência registrada na região foi o deslizamento que atingiu esta casa. O último ponto onde houve uma morte foi na Rua Pinto Ferreira, que fica paralela à Rua Washington Luiz.

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