Escolhido líder da maioria no Senado, por indicação do MDB, o senador Renan Calheiros (AL) assume a nova função prometendo “somar esforços” à oposição para fazer frente ao governo Jair Bolsonaro no Congresso. Renan não descarta disputar o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra o ex-presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em plenário. A candidatura poderia reeditar a eleição de 2019, na qual o senador alagoano perdeu a presidência para Alcolumbre.
Em conversa com o GLOBO, nesta quinta-feira, Renan disse que ficou ausente do debate político nos últimos dois anos em razão da pandemia da Covid-19 e por questões de saúde, mas que agora quer trabalhar e “manter a intensidade do mandato”:
"Eu nunca fui próximo do governo. Estive um pouco ausente, primeiro por conta da pandemia, e depois porque fiz duas cirurgias, fiquei um tempo me recuperando. Eu quero trabalhar e manter a intensidade do mandato. Tenho que fazer a minha parte e somar meus esforços aos esforços existentes na oposição".
Nos últimos dias, Renan chamou atenção nos bastidores ao ajudar o líder da Rede, Randolfe Rodrigues (AP), a colher assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende avaliar a conduta do governo federal no enfrentamento à pandemia. Para o colegiado ser instalado, no entanto, há necessidade do aval do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
"Conversei com vários senadores sobre a CPI, não sei se ajudei ou se prejudiquei. Ajudei a colocar algumas (assinaturas) e falei mal de quem retirou (o nome), que foram o Otto (Alencar) e a Rose (de Freitas)", admitiu.
Questionado se vai disputar a CCJ, Renan afirmou que esta não é a sua prioridade, mas que tem sido procurado por outros parlamentares e está disposto a “ajudar”, dependendo do cenário. De acordo com ele, o MDB deve apoiar aquele que tiver mais condições de vencer.
Para o senador, a possibilidade de Alcolumbre assumir o comando do colegiado é “muito ruim” e indica que ele quer ocupar a posição de “dono do Senado”. Na visão do emedebista, que comandou a Casa em quatro ocasiões, a tese da proporcionalidade deve ser respeitada. Desta forma, o maior partido, no caso o MDB, ficaria com a principal comissão.
"É muito ruim para o Senado. Primeiro, nenhum ex-presidente, ninguém deixou a presidência para concorrer à CCJ, porque as pessoas preferem desencarnar ao invés de conflitar poder, de virar uma sentinela à porta do presidente do Senado. É muito ruim para ele, para o Senado, para os partidos, porque a proporcionalidade não é só para garantir o espaço do maior, mas do menor também, é uma regra de segurança. Se você atropelar isso, desrespeitar, o que fica como referência do Parlamento? Aí você substitui a proporcionalidade e toma a posição de dono do Senado", criticou Renan.
Na quarta-feira, em suas redes sociais, Renan escreveu que a CCJ poderá ser “o estilingue nos olhos do presidente Rodrigo Pacheco”:
"A estrela de Davi Alcolumbre reluziu nos 2 anos no Senado. Para o brilho não se tornar opaco, é prudente que abdique da síndrome de Golias, do gigantismo dos filisteus. A CCJ será o estilingue nos olhos do presidente Rodrigo Pacheco, uma confrontação e divisão de poder ilógicas”, disse.
Foco de disputa atualmente, o comando da CCJ chegou a ser oferecido a Renan no final do ano passado. Na época, Alcolumbre buscava o apoio do MDB ao seu candidato à presidência do Senado, Pacheco. Os emedebistas, no entanto, optaram por lançar o nome de Simone Tebet (MS).
A poucos dias da disputa, no final de janeiro, o partido desembarcou da candidatura de Simone ao perceber que tinha poucas chances de ganhar e passou a tentar negociar cargos com os democratas, mas perdeu poder de barganha. Na ocasião, Renan criticou a decisão da sigla e disse que o MDB se rebaixou à condição de “pedinte” ao mendigar alguns “carguinhos”.
Após a eleição de Pacheco, o MDB teve que disputar no plenário a vaga de vice-presidente da Casa, prometida por Alcolumbre, contra o PSD. Como não recebeu outros cargos titulares na Mesa Diretora, alguns emedebistas avaliam que “não devem nada” ao DEM no momento e, portanto, podem agir de forma totalmente independente.