A executiva nacional do PT vai se reunir na manhã desta quinta-feira para debater a retirada do apoio a Marcelo Freixo (PSB) na disputa pelo governo do Rio. Enquanto o deputado federal pessebista Alessandro Molon insiste em manter a candidatura ao Senado, os petistas cobram que o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), André Ceciliano, seja o único a concorrer ao cargo na chapa fluminense.
Na última terça-feira, o diretório estadual do PT no Rio já havia aprovado uma resolução de retirada do apoio à candidatura de Freixo. É essa decisão da Executiva estadual do PT que será levada para o diretório nacional analisar.
Pressionado pelo PT e diante de sinalizações do ex-presidente Lula de enfraquecer seu apoio a candidatos do partido no Nordeste, o PSB decidiu, nesta quarta, que Molon ficará sem recursos do fundo eleitoral caso insista em disputar o Senado. Não há garantia, porém, de que a saída escolhida pelos pessebistas, de asfixiar financeiramente a candidatura do correlegionário, resolverá o impasse.
Segundo dirigentes do PSB, a opção por cortar a verba se deu porque a candidatura de Molon já foi aprovada em convenção estadual do partido, e uma retirada imposta pela executiva nacional poderia levar a uma contestação judicial. O deputado, que é presidente do diretório estadual do PSB no Rio, não participou da reunião e caberá ao ex-governador de São Paulo Márcio França, tesoureiro do partido, comunicar a decisão.
O jogo de Lula
A pressão da cúpula do PSB para a retirada de Molon é resultado da atuação direta do ex-presidente Lula. Em sua passagem por Pernambuco há duas semanas, o pré-candidato do PT ao Palácio do Planalto convenceu lideranças pessebistas do estado a trabalharem pela saída do deputado da disputa no Rio. O diretório pernambucano é o mais influente do partido.
Com dificuldade nas pesquisas, o pré-candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Danilo Cabral, depende do engajamento de Lula em sua campanha para ter chance de manter o domínio do partido no estado, que dura 16 anos.
Os gestos de Lula não se restringem a Pernambuco. Enquanto a relação entre os dois partidos se desgasta, o ex-presidente vem formalizando apoio a adversários de candidatos pessebistas no Nordeste, região onde ele é mais forte. Na outra ponta, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que se nega a interceder no impasse fluminense, ameaçou pedir a impugnação de uma candidatura petista na Paraíba.
Nos últimos dias, Lula participou de atos de précampanha na Paraíba e no Ceará, estados onde o PT está montando palanques que disputarão os governos locais contra o PSB.
Na terça-feira, Lula esteve em evento em Campina Grande (PB), onde anunciou apoio à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo. O emedebista é o principal adversário do pré-candidato do PSB, o atual governador João Azevêdo.
Após o evento, o presidente nacional do PSB criticou a presença de Lula no palanque adversário e disse que o PSB vai pedir a impugnação da candidatura do petista Ricardo Coutinho ao Senado, argumentando que ele está inelegível. Ex-governador da Paraíba, Coutinho foi condenado pelo TSE em 2020 por abuso de poder econômico.
Jogo de forças
Na reunião hoje do PT, o grupo liderado pelo ex-prefeito de Maricá Washigton Quaquá, um dos vice-presidentes da legenda, vai defender o rompimento da aliança com Freixo. O diretório do Rio aprovou na terça-feira a retirada do apoio. Secretário de comunicação, Jilmar Tatto avalia que deveria ser discutida uma aliança formal com o candidato do PDT, Rodrigo Neves.
Com direito a voto na executiva, a deputada federal Benedita da Silva (RJ) disse em um áudio encaminhado para grupos de militantes do partido que está “indignada” com a postura de Molon e defendeu o rompimento da aliança caso ele não retire sua pré-candidatura. “Quem não está cumprindo o acordo é o PSB. O presidente nacional (do PSB) ouviu o presidente Lula, que disse: ‘O meu candidato é André Ceciliano no Rio’”, afirma Benedita no áudio.
A decisão de ontem do PSB pode levar o PT a adiar para sexta-feira a definição sobre a situação do Rio. As correntes de esquerda são favoráveis à manutenção da aliança com Freixo. É aguardado ainda um posicionamento da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, alinhado com Lula. Esse posicionamento pode influenciar os demais integrantes da cúpula partidária que vão votar na executiva.
Lideranças do partido sugeriram que a aliança com Freixo seja mantida, mas levantaram a hipótese de haver retaliações ao PSB, como o pouco empenho de Lula pela eleição de Cabral em Pernambuco.
Sem voto na executiva, o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, defendeu a manutenção do apoio a Freixo e disse estar preocupado com um eventual racha com o PSB no Rio:
"Vejo com preocupação, porque temos grande condição de ganhar a eleição no Rio. Temos um candidato que, se não é o líder (das pesquisas), está próximo do líder, uma figura louvável".
No centro da crise, Ceciliano disse ao UOL que, se Molon mantiver sua pré-candidatura, uma aliança formal com do PT com o PSB no Rio é inviável:
"Não tenho dúvida de que 80% da militância vai de Freixo. Mas, tendo dois candidatos, não dá para emprestar nosso tempo de televisão ao outro candidato ao Senado. É um contrassenso".
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