André Hack Bahi, fotografado ao lado de outros combatentes voluntários na Guerra da Ucrânia
Reprodução/Instagram
André Hack Bahi, fotografado ao lado de outros combatentes voluntários na Guerra da Ucrânia

André Hack Bahi, o soldado voluntário brasileiro que está desaparecido e, segundo outros combatentes, morreu na Ucrânia , sempre alimentou um imaginário ligado à guerra, dizem pessoas próximas a ele.

Segundo Jamille Salati, mãe de dois filhos de Hack Bahi, ele sonhava em participar de confrontos militares e fantasiava sobre morrer no campo de batalha:

“Ele sempre teve esse sonho. Gostava muito de ver o filme “O resgate do soldado Ryan”, e dizia que o seu sonho era ir para a guerra, lutar e morrer como herói”, afirmou Salati ao GLOBO. “Eu achava um delírio. Como ele podia pensar uma coisa dessas?”

Salati e Hack Bahi tiveram dois filhos, Leonardo, de 14 anos, e Manuelle, de 9. Eles se conheceram em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, há 19 anos, e se separaram há 9. Ele ainda teve outra filha, Álexyà, de dois anos, com sua atual esposa, que vive em Fortaleza, onde ele também morava antes de ir para a Ucrânia, passando por Portugal.

Segundo Salati, Hack Bahi era muito apaixonado pelos filhos, e, mesmo morando longe de Eldorado do Sul, buscava se manter em contato com eles. O voluntário brasileiro disse em entrevista ao jornal Zero Hora que carregava fotos dos três em seu colete. Segundo Salati, a família sentiu muito a notícia

“Nossos filhos estão muito tristes e abalados, é lógico”, afirmou a ex-mulher.

De acordo com ela, Hack Bahi serviu o Exército brasileiro, mas acabou desligado precocemente, por motivos que ela desconhece. Isto não abortou o seu sonho militar: o porto-alegrense alistou-se na Legião Estrangeira da França, conhecida como uma das forças mais exigentes do mundo, chegando ao nível de sargento.

Na Legião, de acordo com Salati, Hack Bahi ficou ferido em uma missão e quase perdeu a vida.

Ao saber que Hack Bahi, de 43 anos, iria para a Ucrânia, o ex-casal teve uma discussão. “O cobrei em relação aos filhos. O outro André não tinha filhos”,  disse Salati.

Segundo ela, Hack Bahi cogitou voltar. As dificuldades na força ucraniana eram grandes, com problemas de equipamento e até falta de agasalhos para o inverno:

“Ele me passava muita informação de lá, coisas horrorosas, muito distantes de nós brasileiros”, afirmou ela. “Ele quis voltar. Entregou os armamentos, porque estavam passando muitas dificuldades, muito frio e vendo a morte de perto.”

Após o pedido de desligamento, no entanto, Hack Bahi fez um teste para atirador de elite e foi aprovado. “Então ele disse que ficaria até o fim”, afirmou.

O último dia em que os dois se falaram foi 28 de maio. Ela não sabe em qual região da Ucrânia Hack Bahi estava, porque os soldados brasileiros, após receberem críticas em redes sociais e na imprensa por publicarem fotos de suas atividades, guardavam grande segredo sobre seus destacamentos.

Salati diz, no entanto, que era uma região “muito conflituosa”, e que Hack Bahi era enviado para missões e ficava vários dias sem contato.


Douglas Burigo, outro soldado brasileiro na Ucrânia, diz ter falado com Hack Bahi na quarta-feira. Segundo Burgi, Hack Bahi “foi um cara excepcional, com muita educação e cultura”. A possível morte do companheiro abala os voluntários brasileiros.

“É uma lástima perdermos um irmão, coisa que achávamos que não iria acontecer. Nós brasileiros somos imortais. Mas agora com essa baixa, já não sabemos se iremos resistir”, afirmou. “Agora entrou o medo na batalha. Até então não tínhamos medo de nada.”

Burigo, que tem uma filha de 15 anos, no entanto diz que não pensa em pedir baixa. “Jamais. Nenhum de nós pensa em se desligar, mesmo que custe nossas vidas.”

André Kirvaitis, outro voluntário que também serviu na Legião Estrangeira, foi quem transmitiu a informação da morte para a família.

Segundo ele, um soldado português viu Hack Bahi ser alvejado. O seu corpo teria ficado abandonado no campo de batalha. Outros dois voluntários — um brasileiro, Alex Silva, e um peruano, identificado apenas como Wiman — também dizem que Hack Bahi morreu, prestando tributos em redes sociais.

Salati disse que nunca entendeu o militarismo do ex-marido. “Eu já esperava essa notícia. Não tinha explicação para aquilo, não vou saber responder o que o motivava.”

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