Presidente da Rússia,Vladimir Putin, em discurso na parada militar, em 9 de maio
Reprodução/Kremlin - 09.05.2022
Presidente da Rússia,Vladimir Putin, em discurso na parada militar, em 9 de maio

presidente russo, Vladimir Putin, criticou a política de sanções aplicada pela União Europeia (UE) contra o setor energético do país, em resposta à invasão da Ucrânia, e afirmou que essa estratégia é um "suicídio econômico". As declarações foram feitas no momento em que o bloco tenta fechar consenso sobre um embargo ao petróleo vindo dos campos russos, mas enfrenta resistência de países como a Hungria e a Eslováquia, que alegam não terem como substituir o produto em curto ou médio prazo.

"Tenho a impressão de que os colegas ocidentais, políticos e economistas, simplesmente esqueceram os elementos básicos das leis da economia ou deliberadamente as ignoram", declarou Putin, em uma reunião sobre o desenvolvimento do setor petrolífero. "Tal auto de fé econômico, o suicídio é, naturalmente, um assunto interno dos países europeus. Devemos agir pragmaticamente, partindo principalmente de nossos próprios interesses econômicos."

O líder russo afirmou que, em longo prazo, a Europa, caso siga com políticas de embargo a produtos como o petróleo e o gás, algo que alguns membros já adotaram individualmente, se tornará uma região com preços de energia elevados e afirmou que a onda inflacionária enfrentada na região é resultado direto das sanções.

"E hoje vemos que, por razões absolutamente políticas, por causa de suas próprias ambições e sob pressão do soberano americano [EUA], os países europeus estão impondo cada vez mais novas sanções aos mercados de petróleo e gás. Tudo isso leva à inflação. E em vez de admitir seus erros, eles procuram outros culpados", declarou Putin.

Em abril, a inflação média na Zona do Euro chegou a 7,5%, em comparação com o mesmo período do ano passado — segundo o Eurostat, a agência responsável por dados estatísticos na UE, os preços do setor de energia tiveram alta de 38% em abril em relação a 2021, e o maior impacto foi sentido pelos países da região do Báltico (Estônia, Letônia e Lituânia), que devem registrar inflações anuais de dois dígitos.

Pressão sem acordo

Apesar das duras sanções já adotadas pela UE, que atingiram boa parte do setor financeiro, da elite aliada ao Kremlin e do núcleo do poder na Rússia, o bloco não encontra consenso sobre medidas que atinjam as exportações do setor de energia russo, hoje a principal fonte de financiamento da economia do país. Segundo estimativas, o bloco pagou cerca de US$ 40 bilhões a empresas russas por produtos como petróleo e gás desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, um número que reflete a dependência europeia desses itens.

No começo de maio, a UE apresentou um plano para eliminar as importações de petróleo bruto da Rússia nos próximos seis meses, e de combustíveis refinados até o final do ano, prometendo amenizar os impactos regionais — hoje, cerca de 25% de todo o petróleo consumido pelo bloco vêm dos poços russos, e alguns países, como a Hungria e a Eslováquia, afirmam que vão vetar qualquer ação que ameaçe sua segurança energética. Medida semelhante foi adotada pelos países do G7, grupo que inclui, além dos EUA, três nações da UE: França, Itália e Alemanha.

Quanto ao gás, ainda não há uma posição europeia conjunta, mas o fornecimento pode ser afetado por cortes no suprimento vindo da Rússia, além da exigência de que o produto seja pago em rublos, o que a UE considera como uma violação das sanções.

Em sua fala desta terça-feira, Putin de certa forma desdenhou de tais ameaças, afirmando que o continente não conseguirá encontrar formas de suprir um eventual embargo ao setor energético russo.

"É ainda mais óbvio que alguns Estados da UE, em cujo balanço energético a parcela de hidrocarbonetos russos é especialmente alta, não conseguirão fazer isso por muito tempo. No entanto, eles definiram tal missão, nós vemos isso. Eles apostam sem prestar atenção aos danos que já causaram à sua própria economia", opinou o presidente.

Quanto à alta dos preços de combustíveis, afirmou que isso levará a um aumento nos rendimentos das empresas do setor de energia da Rússia, mas que afetará o desenvolvimento econômico do bloco.

"De forma irrevogável, [as sanções] podem minar a competitividade de uma parte significativa da indústria europeia, que já está perdendo concorrência para empresas de outras regiões do mundo. Agora esses processos certamente vão acelerar. Obviamente, juntamente com os recursos energéticos russos, a possibilidade de aumentar a atividade econômica também deixará a Europa para outras regiões do mundo", apontou Putin.

Apesar do discurso desafiador, o presidente russo deixou evidente nas entrelinhas a preocupação com o seu próprio setor de produção de petróleo — segundo a empresa de análise do setor OilX, entre os dias 1º e 19 de abril, a produção diária caiu para 10,1 milhões de barris diários, quase um milhão a menos do que em fevereiro e março. As exportações também registraram queda no mês passado, em parte resultado do embargo dos EUA ao produto, além de vetos a petroleiros russos em portos europeus.

Citando mudanças "tectônicas" no mercado, Putin prometeu medidas de apoio às empresas do setor, como o aumento e a facilitação de linhas de crédito e de seguros, além de ações para o desenvolvimento dos campos de exploração.

Entre no  canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG .

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!