Cerco russo na siderúrgica Azovstal
Reprodução/Ansa - 06.05.2022
Cerco russo na siderúrgica Azovstal

Um dos mais longos cercos militares da guerra na Ucrânia, o imposto pela Rússia à siderúrgica Azovstal, na cidade de Mariupol, pode ter chegado ao fim: na noite desta segunda-feira, vários ônibus deixaram o local levando dezenas dos combatentes, muitos deles feridos, e a milícia que comandava a resistência sinalizou que estava baixando as armas após um acordo de cessar-fogo fechado por russos e ucranianos.

"Para salvar vidas, toda a guarnição de Mariupol está aplicando a decisão aprovada pelo Comando Militar Supremo, e espera o apoio do povo ucraniano", diz o Batalhão Azov, que liderava as forças ainda em Mariupol, em seu canal no Telegram. "Os defensores de Mariupol levaram adiante as ordens, apesar das dificuldades, contiveram as forças inimigas por 82 dias e permitiram que o Exército ucraniano se reagrupasse, treinasse e recebesse um grande número de armas de países aliados."

De acordo com a vice-ministra da Defesa ucraniana, Anna Malyar, 53 feridos foram levados para um hospital em Novoazovsk, que é controlada pelos separatistas pró-Moscou desde 2014, e outros 211 militares foram levados para Olenivka, também sob controle dos separatistas. Estima-se que havia cerca de 600 pessoas dentro da usina, e Malyar afirmou que todos poderão ir para casa por um acordo de troca de prisioneiros acertado com os russos.

— Espero que possamos salvar as vidas de nossos rapazes — disse o presidente Volodymyr Zelensky.

Em publcação no Facebook, o comando do Estado-Maior das Forças Armadas afrmou que os combatentes em Azovstal "cumpriram sua missão".

"O supremo comando militar ordenou que os comandantes das unidades baseadas em Azovstal para que salvassem as vidas de seu pessoal" disse o comando. "Os esforços para resgatar os defensores que permanecem no territorio de Azovstal continuarão."

Mais cedo, o Ministério da Defesa russo havia anunciado um acordo de cessar-fogo para permitir que os combatentes ucrananianos fossem retirados de Azovstal, marcando a conquista completa russa de Mariupol, importante cidade portuária no Mar de Azov e que é um dos principais fronts da guerra.

Por 82 dias, as forças ucranianas, lideradas pelo Batalhão Azov, travaram um violento combate nos arredores do amplo complexo siderúrgico que, antes da guerra, era um dos maiores pólos de produção do setor em toda a Europa. Além dos combatentes, centenas de civis se abrigaram na ampla rede de túneis e abrigos no local — há pouco mais de uma semana, todos foram retirados do local, em uma operação que contou, além do aval de Rússia e Ucrânia, com a coordenação da ONU e da Cruz Vermelha.

Apesar da resistência em Azovstal, a Rússia considera que, desde o começo do mês, Mariupol está sob seu controle total, e chegou a realizar na cidade uma parada em homenagem ao Dia da Vitória, lembrando a derrota dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, no dia 9 de maio. Dentro da estratégia russa, ter Mariupol sob controle era essencial para criar um corredor ao longo da costa do Mar de Azov, ligando o Leste ucraniano à Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Ao mesmo tempo, a Rússia enfrenta acusações de crimes cometidos contra a população local, similares às feitas em Bucha e Irpin, nos arredores de Kiev. Por semanas, os moradores que não conseguiram escapar em algum dos corredores humanitários abertos ao longo das semanas ficaram sem água, comida e sob intensos bombardeios. Segundo testemunhas, as ruas estavam "cheias de cadáveres".

Na semana passada, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, estimou que o número de civis mortos poderia chegar "a milhares", e que apenas o tempo mostraria "a verdadeira escala de atrocidades, mortes e estragos".

— Estou chocada com a escala da destruição e as inúmeras violações do direito internacional, dos direitos humanos e do direito internacional humanitário que foram cometidas na cidade, incluindo ataques contra civis e bens civis — disse Bachelet, em discurso em Genebra na quinta-feira, em sessão especial do Conselho de Direitos Humanos.

A Rússia nega as acusações, e afirma que "liberou" Mariupol das forças ucranianas.

*Com informações de agências internacionais

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