Mark Esper revelou que Trump sugeriu que polícia atirasse contra pessoas que participaram de protestos contra o racismo
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Mark Esper revelou que Trump sugeriu que polícia atirasse contra pessoas que participaram de protestos contra o racismo

Em livro a ser lançado nos EUA na semana que vem, o ex-secretário de Defesa de Donald Trump , Mark Esper, revela que seu antigo chefe sugeriu que as forças de segurança atirassem em manifestantes que ocupavam os arredores da Casa Branca em junho de 2020, em atos contra o racismo, ligados ao assassinato de George Floyd, semamas antes, pela polícia de Minneapolis.

Ali, Esper, que deixou o posto pouco depois da derrota de Trump para Biden nas eleições daquele ano, e que está na “lista de desafetos” do ex-presidente, mencionou que tal ordem foi sugerida em várias ocasiões, mas que “felizmente” não chegou a ser executada.

Os poucos trechos divulgados provocaram reações de surpresa, incredulidade, de raiva contra Trump…além de críticas ao próprio Esper, que manteve a informação em sigilo por quase dois anos.

“Por que esses caras simplesmente se sentaram sobre essas informações?”, questionou, no Twitter, o professor de Direito da Universidade do Estado da Geórgia, Anthony Michael Kreis.

Em artigo na Esquire, o colunista Charles Pierce criticou o ex-secretário de Estado por omitir  informações que poderiam ser importantes para os eleitores que, naquele mesmo ano, decidiriam se Trump permaneceria na Casa Branca por mais quatro anos.

“Essa é a informação que o povo americano poderia poderia precisar, cinco meses depois, enquanto escolhia se reelegeria o ‘cara do banho de sangue’ ou não. Não sei o quão benéfico é dizer isso agora, exceto que isso beneficia as contas bancárias de Esper”, escreveu Pierce.

'Apenas atirem neles'
As revelações não são exatamente novas: elas surgiram pela primeira vez em um livro publicado, em junho do ano passado, pelo jornalista Michael Bender, do Wall Street Journal. 

Ali, relatava encontros tensos entre o presidente e altos integrantes do governo, incluindo Esper e o então chefe do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, quando Trump exigia uma resposta dura aos protestos contra o racismo em 2020.

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Ao lado de ordens como “quebrem as cabeças deles” e apresentações de vídeos de repressão policial, Trump teria dito, segundo Bender, a frase “apenas atirem neles”, confirmada por Esper em seu livro.

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Para Juliette Kayyem, ex-integrante do governo Barack Obama e especialista em segurança nacional, embora a informação seja a mesma, há uma grande diferença entre quem a divulgou: se um jornalista do Wall Street Journal, que soube dos fatos indiretamente, ou por um integrante do governo que não apenas presenciou, mas participou do diálogo.


“Repórteres não fazem juramento para defender a Constituição de todos inimigos, internos e externos. A decisão para revelar informações importantes para seus livros é apenas deles e de seus valores. É assim. Esper prestou o juramento, e deveria ser amplamente condenado”, escreveu Kayyem no Twitter.

Além de levantar questões sobre seu decoro na Casa Branca, o governo de Donald Trump também foi movimentado no setor editorial: uma série de ex-integrantes do Gabinete lançaram suas próprias memórias de quatro anos turbulentos (ou menos, dada a alta rotatividade), trazendo revelações, versões próprias ou tentando limpar a própria imagem. Em troca, recebem destaque em jornais, entrevistas na TV e alguns zeros a mais em suas contas bancárias.

No mês passado, William Barr, ex-secretário de Justiça de Trump, lançou uma autobiografia na qual faz críticas às acusações do então presidente à eleição na qual foi derrotado por Biden, ao mesmo tempo em que evitar acusar seu antigo chefe de agir de forma errada, reservando até mesmo algumas passagens elogiosas.

John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional, trouxe em seu livro, em 2020, detalhes até então inéditos sobre a pressão de Trump sobre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, quando exigia que Kiev lançasse uma investigação sobre os negócios da família Biden no país, e só depois liberaria um pacote de ajuda militar de US$ 400 milhões.

O episódio serviu de base para o primeiro processo de impeachment contra Trump, mas Bolton se defendeu das acusações de omissão afirmando que “seus relatos não mudariam os rumos do caso”, que acabou com a absolvição do presidente no Senado.

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