Tamanho do texto

Com a paralisação de unidades do município, pacientes precisam se dirigir a emergências do estado do Rio de Janeiro para conseguir atendimento

crise na rede municipal de saúde do rio de janeiro arrow-options
Márcia Foletto / Agência O Globo
Manifestação dos agentes comunitários de Saúde e funcionários do Hospital Albert Schweitzer na porta da unidade.

Com o colapso na rede municipal de saúde , pacientes que não estão recebendo atendimentos nas unidades do município se vêem obrigado a recorrer a hospitais e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs ) geridas pelo Governo do Estado . Assim, o sistema estadual começa a apresentar sobrecarga de procura, o que gera problemas como aumento do tempo de espera. Segundo o secretário de Saúde do estado, Edmar Santos , nas cinco UPAs estaduais da Zona Oeste (região mais afetada pela crise), houve aumento de atendimento, entre novembro e dezembro de 40 a 60%.

Leia mais: “Sem compromisso com a cidade”, diz Paes sobre Crivella diante da crise na saúde

Por causa das paralisações nas unidades municipais, o governador Wilson Witzel montou um gabinete de crise, e, nos próximos dias, serão aviadas possíveis medidas a serem tomadas por parte do estado. Por enquanto, a principal ação vem sendo intensificar os trabalhos nos atendimentos das UPAs e hospitais estaduais, por causa do aumento da demanda.

"Em junho já havia acendido um sinal amarelo e nos últimos 15 dias intensificamos nosso trabalho para reestruturar equipes e dar suporte para o aumento de demanda. Eventualmente, o tempo de espera dos pacientes pode aumentar, então precisamos treinar as equipes para lidar com essas situações. Hoje mesmo (quarta) tenho uma reunião com gestores das UPAs e hospitais para reforçar alguns cuidados",  explicou o secretário Edmar Santos.

Pacientes se deslocam entre UPAs

Nos últimos dias, segundo funcionários de diversas unidades estaduais, aumentou a procura de pessoas em UPAs como a da Tijuca, Engenho Novo e de Botafogo. Atualmente, o estado administra 16 UPAs na cidade do Rio. Nesta quarta-feira, muitas pessoas atendidas na UPA de Campo Grande I, na Estrada do Mendanha, eram de pacientes de outros bairros onde existem clínicas municípais — que estão em greve.

É o caso da cabeleireira Rosely Santos dos Santos, de 46 anos. Ela saiu de Cosmos, para levar o filho de apenas 6 anos que estava com fortes dores no corpo e diarreia à UPA de Campo Grande.

"Lá perto de casa tem Clínicas da Família e UPA , mas como estão em greve, tive que pegar o meu filho, colocar no Uber e trazer aqui para Campo Grande. Cheguei a cogitar lava-lo lá perto de casa, mas fui desaconselhada", lembra a mulher. Segundo ela, só no local que o pequeno Thierry Santos da Silva Barbosa conseguiu atendimento médico .

"A médica disse que ele está com virose. Meu filho ficou no soro e a pediatra disse que ele deverá ter um acompanhamento", completou. E não foi só dona Rosely que teve que sair do bairro onde tem unidades de saúde geridas pela Prefeitura para procurar atendimento em outros lugares.

Vizinha do Hospital municipal Albert Schweitzer, a dona de casa Edileuza Rosa Maranhão, de 59, nem chegou a ser levada para a unidade. Com um pico de pressão, ela foi encaminha pelos familiares até a UPA de Campo Grande.

"A minha cunhada estava mole. Se levássemos ela para lá acredito que a essa hora ela estaria morta. Está faltando de tudo no Albert. É lamentável como as autoridades deixaram a saúde do município chegar a esse ponto", disse o aposentado Paulo Sérgio Rodrigues, de 61.

Repasses estaduais

Em junho, o governador Witzel e o prefeito Crivella fizeram um acordo de repasse de dinheiro estadual para ajuda no custeio dos hospitais que foram municipalizados na gestão Eduardo Paes: Pedro II, Rocha Faria e Albert Schweitzer. Em novembro, esse convênio foi assinado, e o estado repassou R$36 milhões para o município, num valor retroativo desde junho. Em dezembro, foi feito o depósito mensal acordado de R$ 6milhões.

Leia também: Licitação para privatizar quatro presídios de São Paulo é autorizada

Além disso, o secretário Edmar Santos também diz que o estado repassou R$35 milhões para a prefeitura, para gastos no setor da atenção primária. Outra ajuda de custo foi a disponilização de uma linha de crédito de R$60 milhões para a prefeitura realizar reformas em hospital. Em relação a isso, Santos diz que a secretária municipal de Saúde, Ana Beatriz Busch, já protocolou documento para recebimento da verba, mas ainda aguarda a chegada dos projetos.

Sobre o gabinete de crise, de iniciativa de Witzel , o secretário explicou que serão avaliadas, dia-a-dia, as ações referentes à rede municipal, para elaboração de possíveis novas medidas.

"Estamos atentos ao que está acontecendo e analisando qual atitude podemos tomar. Mas também temos um limite de até onde o estado pode ir", explicou o secretário.