Mubarak sai do poder no Egito após quase 30 anos

O líder de 82 anos estava no poder desde 1981 e enfrentava protestos diários por sua renúncia desde o dia 25 de janeiro

Após permanecer no poder por quase três décadas, Hosni Mubarak, de 82 anos, renunciou nesta sexta-feira à presidência do Egito , depois de 18 dias de protestos nas ruas da capital, Cairo. A renúncia foi anunciada na TV estatal pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman. Segundo ele, Mubarak entregou a responsabilidade de conduzir a nação a um alto conselho militar.

Foto: AP
Foto de 1982, Mubarak discursando no 1º de maio, na Federação do Trabalho, no Cairo

O líder de 82 anos estava no poder desde 1981 e enfrentrava protestos diários por sua renúncia desde o dia 25 de janeiro. Durante praticamente 30 anos, Mubarak manteve-se no poder, tornando-se um aliado confiável dos EUA e de Israel na região, mas governando o Egito com mãos de ferro, abrindo pouco espaço para a oposição interna.

Nascido em uma família humilde em 1928 em uma pequena cidade na província de Menoufia, perto do Cairo, Mubarak formou-se na academia militar egípcia em 1949 e entrou na Força Aérea do país em 1950.

Anos depois, acumulando os postos de comandante da Força Aérea e vice-ministro da Defesa, Mubarak teve papel fundamental no planejamento do ataque surpresa contra as forças israelenses na península do Sinai, dando início à guerra de Yom Kippur em 1973.

Sadat

Ele foi recompensado dois anos depois, quando, cedendo à pressão internacional, Sadat nomeou um vice-presidente, escolhendo Mubarak. Em 1981, Sadat foi assassinado por militantes islâmicos durante uma parada militar no Cairo. Mubarak, sentado ao seu lado, escapou ileso. Ele assumiu a presidência do país após a morte de Sadat. 

Desde o assassinato de Sadat, Mubarak sobreviveu a pelo menos seis tentativas de assassinato - na mais séria, o carro presidencial foi atacado logo após a chegada de Mubarak à capital da Etiópia, Addis Abeba, em 1995, para participar de uma cúpula de países africanos.

Além do talento para se desviar dos tiros, o ex-comandante da Força Aérea também segurou com força as rédeas do poder, assumindo um papel de aliado dos Estados Unidos e combatendo um poderoso movimento de oposição em casa.

Nascido em 1928 em uma pequena cidade na província de Menofiya, perto do Cairo, Mubarak manteve sua vida particular longe do domínio público. Ele é casado com Suzanne Mubarak - de ascendência britânica, formada na American University, no Cairo - e tem dois filhos, Gamal e Alaa.

Mubarak não fuma, não bebe e é conhecido por levar uma vida regrada e saudável, com uma rígida rotina diária que tem início às 6h. No passado, amigos e colaboradores próximos reclamavam da rotina do presidente, que começava com uma sessão na academia ou um jogo de squash.

Apesar da falta de apelo popular, o militar musculoso criou uma reputação de estadista internacional com base na questão que resultou na morte de Sadat: a busca da paz com Israel.

Estado de emergência

Na prática, desde que assumiu o poder, Hosni Mubarak comandou o Egito como um líder militar e com base em uma lei de emergência que dava ao Estado o direito de prisão e de coibir direitos básicos. O argumento do governo era que o controle total era necessário para combater militantes islâmicos, cujos ataques têm como alvo, com frequência, o lucrativo setor de turismo egípcio.

Sob a liderança de Mubarak, o Egito viveu um período de relativa estabilidade doméstica e desenvolvimento econômico, o que levou a maioria da população a aceitar sua monopolização do poder. Mas, nos últimos anos, o presidente vinha sofrendo pressões para que a democracia fosse incentivada no Egito. As pressões vêm do próprio país e também dos Estados Unidos.

Muitos dos que reivindicavam reformas políticas duvidavam da sinceridade do líder veterano quando ele dizia ser favorável a uma abertura do processo político. Desde 1981, Mubarak venceu três eleições como candidato único, mas o quarto pleito convocado por ele - em 2005, após um empurrão firme dos Estados Unidos - teve as regras alteradas para permitir candidaturas rivais.

Críticos dizem que a eleição foi manipulada para favorecer Mubarak e seu partido, o Partido Nacional Democrático (NDP, na sigla em inglês). Eles acusam o líder egípcio de ter comandado uma campanha de supressão a grupos de oposição, entre eles, especialmente, o movimento Irmandade Muçulmana.

*Com BBC

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