Matheus Pichonelli

Ação contra Banco Master pode mover placas tectônicas em Brasília

Conexões políticas de banqueiro Daniel Vorcaro deixou metade da capital federal em alerta

Polícia Federal prende Daniel Vorcaro, dono do Banco Master
Foto: Pedro Souza/ Fala Galo
Polícia Federal prende Daniel Vorcaro, dono do Banco Master

O Banco Master era um case de sucesso no mercado até se tornar um perigo.

A instituição decolou, no início dos anos 2020, com uma estratégia agressiva até para os padrões da Faria Lima. Captava recursos pagando juros acima da média do mercado aos investidores e comprando ativos de empresas com problemas financeiro, além de precatórios.

A captação de recursos era feita por meio de CDBs (ou, Certificado de Depósito Bancário, um investimento em renda fixa). Os investidores foram atraídos como insetos para a luz.

A taxa de retorno chegava a 150%, e começou a despertar na concorrência a suspeita de gestão temerária. A venda de CDBs foi tão alta que colocou o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), um fundo público, e risco. E virou um problema de todos.

Como explicou o jornalista Luís Costa Pinto, no Desperta, programa do Instituto Conhecimento Liberta, chegou um momento em que a operação sozinha do Banco Master comprometia até 60% desse fundo. Foi a deixa para que o Master fosse investigado por gestão fraudulenta e temerária e organização criminosa.

Não deu outra.

Quando os negócios se tornaram insustentáveis, o banco foi à venda. Não qualquer venda, mas uma transação que fosse boa para todos – menos para os contribuintes de Brasília, como veremos na sequência.

O principal controlador do Banco Master é Daniel Vorcaro, preso na noite de terça-feira (18) no Aeroporto de Guarulhos quando tentava deixar o país. Vorcaro é a prova de que quem tem amigos tem tudo. E o banqueiro, até onde se sabe, é próximo, bem próximo, do trio Ciro Nogueira (PP-PI), senador e ex-ministro de Jair Bolsonaro(PL), Arthur Lira (PP-AL), deputado e ex-presidente da Câmara, e Antonio Rueda, presidente do União Brasil. 

Outra conexão política é Claudio Castro (PL-RJ). Sob o comando dele, a Rioprevidência, fundo previdenciário do estado do Rio de Janeiro, fez 16 aportes em fundos ligados ao Banco Master em apenas 66 dias, entre 20 de maio e 25 de julho. Os aportes somam mais de R$ 1,1 bilhão e ocorreram após o TCE-RJ apontar  irregularidades na relação da autarquia com os produtos do Master.

Graças a essas conexões políticas, Vorcaro foi levado para dentro também do governo do Distrito Federal, uma das últimas unidades administrativas que ainda possuem um banco público para chamar de seu. 

A ideia de  Vorcaro era vender parte do Master para o BRB (Banco Regional de Brasília), uma instituição menor do que a outra que pretendia abocanhar. (Era como se o Guarani batesse à porta do Palmeiras e fizesse uma oferta por metade do Allianz Parque e parte do elenco estrelado do alviverde mais rico).

Mesmo assim, o governador Ibaneis Rocha (MDB) gostou do plano e oficializou a proposta.

O Banco Central disse não.

Todo mundo sentiu o cheiro da encrenca. Inclusive a PF, que cumpriu mandados também no BRB. O presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo. Ibaneis não perdeu tempo e já nomeou Celso Eloi de Souza Cavalhero como substituto.

Henrique Costa é casado com a ex-deputada Flávia Arruda (PL-DF), ex-ministra de Bolsonaro e ex-esposa do ex-governador do DF José Roberto Arruda (PL), condenado por improbidade administrativa.   

Semanas atrás, o Master foi alvo da Operação Carbono Oculto.

A operação da PF acontece no momento em que o BC decretou a liquidação do conglomerado e colocou o Banco Master sob regime de administração especial temporária por 120 dias. 

O empenho de pesos pesados do centrão para salvar os negócios de um amigo suspeito de tramar tudo isso e tentar fugir do país dá a dimensão da bomba que pode estourar em Brasília com a operação da PF.

Ou não.

Como disse Costa Pinto, em sua participação no ICL, todo mundo desconfia como o mundo político se une quando percebem que serão os próximos. A bomba atômica pode acabar em uma grande gaveta.

A ver.


*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG