
O Banco Master era um case de sucesso no mercado até se tornar um perigo.
A instituição decolou, no início dos anos 2020, com uma estratégia agressiva até para os padrões da Faria Lima. Captava recursos pagando juros acima da média do mercado aos investidores e comprando ativos de empresas com problemas financeiro, além de precatórios.
A captação de recursos era feita por meio de CDBs (ou, Certificado de Depósito Bancário, um investimento em renda fixa). Os investidores foram atraídos como insetos para a luz.
A taxa de retorno chegava a 150%, e começou a despertar na concorrência a suspeita de gestão temerária. A venda de CDBs foi tão alta que colocou o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), um fundo público, e risco. E virou um problema de todos.
Como explicou o jornalista Luís Costa Pinto, no Desperta, programa do Instituto Conhecimento Liberta, chegou um momento em que a operação sozinha do Banco Master comprometia até 60% desse fundo. Foi a deixa para que o Master fosse investigado por gestão fraudulenta e temerária e organização criminosa.
Não deu outra.
Quando os negócios se tornaram insustentáveis, o banco foi à venda. Não qualquer venda, mas uma transação que fosse boa para todos – menos para os contribuintes de Brasília, como veremos na sequência.
O principal controlador do Banco Master é Daniel Vorcaro, preso na noite de terça-feira (18) no Aeroporto de Guarulhos quando tentava deixar o país. Vorcaro é a prova de que quem tem amigos tem tudo. E o banqueiro, até onde se sabe, é próximo, bem próximo, do trio Ciro Nogueira (PP-PI), senador e ex-ministro de Jair Bolsonaro(PL), Arthur Lira (PP-AL), deputado e ex-presidente da Câmara, e Antonio Rueda, presidente do União Brasil.
Outra conexão política é Claudio Castro (PL-RJ). Sob o comando dele, a Rioprevidência, fundo previdenciário do estado do Rio de Janeiro, fez 16 aportes em fundos ligados ao Banco Master em apenas 66 dias, entre 20 de maio e 25 de julho. Os aportes somam mais de R$ 1,1 bilhão e ocorreram após o TCE-RJ apontar irregularidades na relação da autarquia com os produtos do Master.
Graças a essas conexões políticas, Vorcaro foi levado para dentro também do governo do Distrito Federal, uma das últimas unidades administrativas que ainda possuem um banco público para chamar de seu.
A ideia de Vorcaro era vender parte do Master para o BRB (Banco Regional de Brasília), uma instituição menor do que a outra que pretendia abocanhar. (Era como se o Guarani batesse à porta do Palmeiras e fizesse uma oferta por metade do Allianz Parque e parte do elenco estrelado do alviverde mais rico).
Mesmo assim, o governador Ibaneis Rocha (MDB) gostou do plano e oficializou a proposta.
O Banco Central disse não.
Todo mundo sentiu o cheiro da encrenca. Inclusive a PF, que cumpriu mandados também no BRB. O presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo. Ibaneis não perdeu tempo e já nomeou Celso Eloi de Souza Cavalhero como substituto.
Henrique Costa é casado com a ex-deputada Flávia Arruda (PL-DF), ex-ministra de Bolsonaro e ex-esposa do ex-governador do DF José Roberto Arruda (PL), condenado por improbidade administrativa.
Semanas atrás, o Master foi alvo da Operação Carbono Oculto.
A operação da PF acontece no momento em que o BC decretou a liquidação do conglomerado e colocou o Banco Master sob regime de administração especial temporária por 120 dias.
O empenho de pesos pesados do centrão para salvar os negócios de um amigo suspeito de tramar tudo isso e tentar fugir do país dá a dimensão da bomba que pode estourar em Brasília com a operação da PF.
Ou não.
Como disse Costa Pinto, em sua participação no ICL, todo mundo desconfia como o mundo político se une quando percebem que serão os próximos. A bomba atômica pode acabar em uma grande gaveta.
A ver.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG