Matheus Pichonelli

Derrite retalha projeto e detona crise entre Motta e Planalto

Com tantos deputados na Comissão de Segurança, presidente da Câmara foi buscar em SP preposto de Tarcísio de Freitas para atrapalhar a vida do governo

Guilherme Derrite e o governador Tarcisio de Freitas
Foto: Alesp/Divulgação
Guilherme Derrite e o governador Tarcisio de Freitas




A Câmara dos Deputados possui 513 representantes de 27 unidades da federação. Oitenta deles, entre titulares e suplentes, compõem a Comissão de Segurança na Casa.

Não foi por falta de opção, portanto, que Hugo Motta (Republicanos-PB) foi buscar em São Paulo o deputado licenciado Guilherme Derrite (PP-SP) para assumir a relatoria projeto Anti Facção, uma das prioridades do Congresso após a chacina promovida por Claudio Castro (PL) no Rio de Janeiro.

Derrite era (na verdade é) secretário da Segurança do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

E, como um subordinado fiel, fez exatamente o que faria o subordinado de um virtual candidato à Presidência: tirou do atual presidente o debate sobre segurança pública e retalhou a proposta original, gestada pelo Ministério da Justiça.

Não tem especialista em segurança que tenha visto com bons olhos as emendas de Derrrite, um ex-PM expulso da Rota por ser violento demais. Para o padrão da Rota, não é pouca coisa.

Uma dessas emendas colocava a Polícia Federal sob o guarda chuva dos governos estaduais, que passariam a autorizar ou não operações em seus estados. A PF acusou o golpe e emitiu uma nota, nesta segunda-feira (10), manifestando preocupação.

E governistas foram a público dizer que a Câmara estava gestando um novo PL da Bandidagem.

Derrite, o linha-dura, bambeou e ensaiou recuo.

A primeira missão dele já tinha miado. Era incluir no texto a proposta de equiparar facções criminosas a grupos terroristas – uma brecha que poderia levar potências estrangeiras (leia-se os Estados Unidos) a atacar alvos no Brasil sob a justificativa de debelar uma ameaça internacional. O secretário licenciado deixou a bomba de lado e só equiparou as penas entre uns e outros – para bom entendedor, meia brecha basta.

De toda forma, Tarcísio já conseguiu o que queria. Tirou de Lula o protagonismo sobre um tema sensível ao Planalto e deixou na mão de um aliado um pavimento até 2026. Talvez como candidato ao Senado. Talvez como substituto do chefe caso este concorra mesmo ao Planalto.

A escolha de Derrite para relatar o projeto detonou uma nova crise entre o governo e Hugo Motta. O chefe da Câmara tomou a decisão no momento em que o Planalto estava desmobilizado e com as atenções voltadas à COP30, em Belém.

Motta se justifica dizendo que fez o que fez porque tem poder para isso.

Os aliados do centrão bateram palmas, convictos de que a vitrine do projeto catapultaria Tarcísio e convenceria Jair Bolsonaro (PL) de que não há candidato melhor para enfrentar Lula do que o atual governador.

É um cálculo arriscado.

Não pega bem, em um debate sobre segurança, um ex-PM ser acusado de querer desidratar os poderes da polícia (no caso, a federal), como pretende fazer. Menos ainda querem fazer populismo penal a essa altura do campeonato.


*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG