Ciro Gomes oficializou nesta sexta-feira (17) sua saída do PDT, encerrando uma relação partidária iniciada em 2015. Ele pode concorrer ao governo do Ceará .
A decisão foi comunicada em carta ao presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, e marca o rompimento de uma das trajetórias mais longas e relevantes do ex-ministro dentro de um mesmo partido.
Na mensagem enviada à direção nacional, Ciro agradeceu a convivência com os filiados, mas afirmou que as divergências políticas e estratégicas se tornaram incontornáveis.
“Boa parte das razões o companheiro conhece muito bem” , escreveu, em referência a Lupi.
A ruptura ocorre após anos de tensão entre o ex-candidato à Presidência e o comando nacional do PDT.
Veja mais
: 2026: a polarização continua
Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, a legenda se aproximou do governo federal, e Lupi assumiu o Ministério da Previdência Social.
Ciro interpretou esse movimento como uma adesão ao projeto petista, contrário à posição de independência que defendia desde o início da gestão.
No Ceará, a relação entre PDT e PT também se deteriorou. O partido de Ciro, que governou o estado entre 1991 e 1994 e mantém forte base local, perdeu espaço político após a vitória do petista Elmano de Freitas em 2022.
A aproximação entre as duas siglas no estado foi vista por Ciro como um enfraquecimento de sua influência regional e um obstáculo à manutenção de sua liderança.
As divergências não se limitaram à esfera local. Durante o segundo turno da eleição presidencial de 2022, o PDT declarou apoio a Lula, enquanto Ciro optou por não se manifestar.
A decisão contrariou a executiva nacional e acentuou o distanciamento entre as partes.
Ciro, que concorreu ao Planalto em 2018 e 2022, vinha defendendo o fim da polarização entre petistas e bolsonaristas e criticava o que chamava de “subordinação pragmática” de seu partido a governos de ocasião.
Essa visão o isolou dentro da legenda, que buscava maior integração ao governo federal e às alianças estaduais com o PT.
Ciro Gomes e o Ceará
Com a desfiliação, Ciro volta suas atenções para o cenário político cearense. Ele já anunciou que não pretende disputar novamente a Presidência, concentrando esforços na construção de uma candidatura ao governo estadual em 2026.
O movimento é interpretado como uma tentativa de reorganizar sua base e reconquistar o protagonismo perdido nos últimos anos.
A saída de Ciro representa um golpe na estrutura nacional do PDT. Nas últimas eleições, ele foi o principal nome do partido, obtendo 3% dos votos — cerca de 3,6 milhões de eleitores.
A legenda, no entanto, mantém força no Ceará, com o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio e o atual prefeito, José Sarto.
A permanência dessas lideranças, porém, dependerá do posicionamento futuro de Ciro e de seu irmão, o senador Cid Gomes, cuja relação com o PDT também está em avaliação.
Carlos Lupi ainda não se pronunciou sobre a desfiliação. Em declarações anteriores, o ministro havia minimizado rumores de saída e afirmado que o partido permanecia unido.
A relação entre ambos, marcada por proximidade política desde os anos 2000, deteriorou-se com a condução das alianças nacionais e regionais.
Ciro deve anunciar seu novo partido nos próximos dias. Entre as siglas em negociação estão o PSDB, ao qual já foi filiado entre 1990 e 2005, e o União Brasil.
Em julho, durante reuniões com dirigentes tucanos, ele afirmou que o retorno “já estava decidido”, indicando avanço nas tratativas.
O PSDB vê em Ciro uma possibilidade de retomar relevância política, especialmente no Nordeste, onde o partido perdeu espaço nas últimas eleições.
O União Brasil também é considerado uma alternativa, embora a distância ideológica possa dificultar uma filiação.
A legenda, que abriga políticos de diferentes correntes, oferece maior estrutura financeira e capilaridade nacional, mas não tem tradição trabalhista — marca central da trajetória de Ciro.