Matheus Pichonelli

Voto de Moraes mostra que Bolsonaro cavou a prisão desde 2021

Em voto pela condenação, ministro relator da ação penal fez um acerto de contas com o ex-presidente que tanto o ameaçou

Alexandre de Moraes, relator da ação penal da trama golpista
Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil
Alexandre de Moraes, relator da ação penal da trama golpista


Sob comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal, a Agência Brasileira de Inteligência monitorou adversários e espalhou mentiras sobre as urnas eletrônicas.

O general Augusto Heleno, quando chefiava o Gabinete de Segurança Institucional, era municiado com informações da Abin Paralela e anotava os passos do golpe em uma agenda.

Anderson Torres, então ministro da Justiça, usou a estrutura da Polícia Rodoviária Federal para dificultar o deslocamento de eleitores de Lula (PT) em regiões do Nordeste.

Na chefia do Ministério da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira emitiu uma nota deixando em dúvida o resultado das eleições e ajudou a espalhar o caos.

Outro general, o então ministro da Casa Civil Walter Braga Netto, fazia a ponte com os acampamentos golpistas. Ele era o fiador do plano Punhal Verde e Amarelo, que tinha a intenção de assassinar autoridades.

Almir Garnier, à frente da Marinha, colocou as tropas à disposição do chefe.

Mauro Cid, ajudante de ordens da Presidência, assistiu a tudo e decidiu contar o que sabia para fugir de uma condenação mais pesada.

O chefe de todos eles era Jair Bolsonaro, de acordo com o ministro relator da ação penal da trama golpista, Alexandre de Moraes.

Ele votou nesta terça-feira (9) pela condenação de todos os réus suspeitos de plantarem o caos para perpetuar Bolsonaro no poder.

O relatório não deixou pedra sobre pedra.

Moraes classificou o então presidente como “líder da estrutura criminosa” que utilizou a estrutura do Estado brasileiro para implementar um “projeto autoritário de poder”.

A prova disso foram as reuniões de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas em tempos de paz. 

Os atos de 8 de janeiro de 2023 não deixaram dúvidas de que houve uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. 

O que a Procuradoria Geral da República fez, segundo Moraes, foi ligar os pontos e mostrar que não foram ataques espontâneos, mas alimentados e incentivados pelo núcleo que agora está sentado no banco dos réus. 

O relator concordou com o procurador-geral, Paulo Gonet, ao apontar as digitais de Bolsonaro e os comparsas na trama.

O golpe foi incentivado de diversas maneiras com a ajuda de milícias digitais e lives que divulgavam “desinformação de forma massiva”.

Bolsonaro começou a cavar a sua condenação em julho de 2021, quando fez uma live para atacar as urnas eletrônicas. Não por coincidência, os argumentos espalhados ali eram os mesmos usados pelos presos em 8 de janeiro. Claro, eles tinham um mestre para chamar de seu e obedeceram ordens.

O líder do grupo criminoso, prosseguiu Moraes, deixava claro, “em viva voz, de forma pública para toda a sociedade, que jamais aceitaria uma derrota democrática nas eleições, que jamais aceitaria ou cumpriria a vontade popular".

No mesmo ano, Bolsonaro foi à Avenida Paulista, no dia 7 de Setembro, e chamou Alexandre de Moraes de canalha. Ele ainda prometeu que não cumpriria mais ordens judiciais do Supremo.

Era um blefe diante do avanço das investigações sobre as milícias apontadas hoje na leitura do voto.

Moraes fez um acerto de contas com o ex-presidente que tanto o ameaçou. Ele lembrou que Bolsonaro dizia aos seguidores que só sairia da Presidência preso, morto ou com a vitória. A vitória não veio. Agora, se mais dois ministros da Primeira Turma seguirem o relator, restará a prisão.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG