Via Pix: Bolsonaro recebeu R$ 56 mil por dia

Segundo a PF, ex-presidente acumulou R$ 19 milhões pelo sistema de pagamentos instantâneos, no período de 11 meses

Ex-presidente fez diversas campanhas de arrecadação entre seus apoiadores
Foto: Agência Brasil
Ex-presidente fez diversas campanhas de arrecadação entre seus apoiadores



Entre 1º de março de 2023 e 7 de fevereiro de 2024, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  recebeu, em média, cerca de R$ 56 mil por dia em doações via Pix de seus apoiadores, durante as  campanhas de arrecadação.

Ao todo, foram 1.214.254 transferências, com valor médio de R$ 15,87 por transação, que totalizam os R$ 19 milhões arrecadados pelo sistema de pagamentos instantâneos.

Segundo a Polícia Federal (PF), as doações via Pix representam 60% de todas as movimentações de Bolsonaro no período, que somam  R$ 30,5 milhões.

As informações constam no Relatório de Inteligência Financeira (RIF) elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com base em dados enviados pelo Banco do Brasil.

O documento foi usado no relatório da PF que indiciou o ex-presidente por coação no curso do processo que julga a suposta tentativa de golpe de Estado, ao qual o Portal iG teve acesso na última quinta-feira (21).

Com R$ 56 mil entrando todos os dias na conta, Bolsonaro recebeu cerca de R$ 1,68 milhão por mês.

Entenda o cálculo

O cálculo feito pelo Portal iG considerou o total de transações feitas no período analisado pela PF: 1.214.254 transferências.

Divididas pelos 343 dias do período analisado (março de 2023 a fevereiro de 2024), isso representa uma média diária de 3.540 transações.

Cada transação tinha um valor médio de aproximadamente R$ 15,87, somando, ao final de cada dia, cerca de R$ 56 mil.

Veja o resumo dos dados obtidos:

  • Número médio de transações diárias:  3.540
  • Valor médio por transação: R$ 15,87
  • Total médio diário recebido: cerca de R$ 56 mil
  • Período considerado: 343 dias (01/03/2023 - 07/02/2024)

Movimentação financeira

Além dos R$ 19 milhões recebidos via Pix, o relatório aponta outras formas de entrada de recursos nas contas do ex-presidente.

Bolsonaro recebeu R$ 304 mil em 203 transferências - o PL, seu partido, foi o principal responsável, com R$ 291 mil.

O ex-mandatário também resgatou R$ 8,7 milhões de aplicações em CDB/RDB, movimentou R$ 1,3 milhão em operações de câmbio e declarou R$ 373,3 mil em proventos.

Quanto aos débitos, Bolsonaro retirou R$ 30,59 milhões de suas contas no período analisado. Desse total, R$ 18,3 milhões foram aplicações em CDB e RDB, R$ 7,5 milhões saíram em quatro transferências via DOC/TED, R$ 1,5 milhão em 107 pagamentos de títulos (como boletos) e R$ 1,1 milhão em 266 operações via Pix.

O relatório ainda cita cerca de 50 operações atípicas entre Bolsonaro e pessoas próximas. Dessas, quatro estavam ligadas diretamente ao ex-presidente, quatro ao filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e outras 42 a terceiros.

Segundo os investigadores, as movimentações "apresentam indícios de possíveis práticas de lavagem de dinheiro ou outros ilícitos". Entre elas, está o repasse de R$ 2 milhões para bancar a estadia de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, em 13 de maio deste ano. Essa transação já havia sido confirmada pelo próprio Bolsonaro em depoimento à PF.

Campanhas de arrecadação

Em março, o ex-presidente afirmou em entrevista ao podcast Inteligência Ltda que gastou cerca de R$ 8 milhões apenas com advogados.

Na ocasião, ele voltou a pedir doações via Pix para cobrir despesas, sob o argumento de que precisava dos recursos para pagar a defesa.


Segundo aliados e pessoas próximas, parte desse montante também teria sido usada para custear despesas médicas.

"Eu não comprei nenhum imóvel, nenhuma bagunça, nada. Se eu pedir um pix hoje, amanhã vai ter mais de 10 mil na minha conta, eu vou mostrar o extrato", disse o ex-presidente. "Se eu não tivesse esse recurso agora, eu não teria como pagar advogado, metade já foi embora com advogado...quase 8 milhões" , contou ao podcast.

Limites do Pix

O Banco Central estabeleceu regras para os valores máximos que podem ser transferidos via Pix, com diferenças conforme o horário do dia.

Como funciona

  • Limite diurno (6h às 20h): usuários podem fazer transferências entre R$ 1.000 e R$ 3.000 por período, de acordo com o valor definido pela instituição financeira.
  • Limite noturno (20h às 6h): o teto é de R$ 1.000 por operação.
  • Ajuste de limite: o cliente pode solicitar alteração desses valores ao banco ou instituição de pagamento, que deve processar o pedido em até 24 horas (ou em até 6 horas, caso o usuário peça liberação mais rápida).

A medida tem como objetivo aumentar a segurança dos clientes e reduzir riscos de fraudes, especialmente em transações feitas no período noturno.