Matheus Pichonelli

Governadores se acotovelam por 2026. Filhos de Bolsonaro rosnam

Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Ratinho Jr (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) pavimentam caminho (esburacado) para 2026

Governador de Minas, Romeu Zema (Novo), quer ser candidato a presidente em 2026
Foto: Reprodução/ Redes Sociais
Governador de Minas, Romeu Zema (Novo), quer ser candidato a presidente em 2026
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Falta pouco menos de um ano e meio para o fim do mandato para o qual os chefes dos executivos estaduais foram eleitos em 2022. Mas quatro dos atuais 27 governadores só pensam em outra coisa.

Alguns assumidamente. Outros nem tanto.

Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO) já falam de peito aberto como pré-candidatos à Presidência em 2006. Ratinho Jr. (PSD-PR) diz que topa. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) desconversa, mas já discursa como postulante ao Planalto há muito tempo.

Cada um pavimentou as vias em direção a Brasília de maneira diferente.

Zema lançou a pré-candidatura no fim de semana fazendo cosplay de Jair Bolsonaro (PL) do Antigo Testamento – aquele que prometia golpe de Estado e atacava grupos sociais quando nem imaginava que precisava do voto deles para ser presidente.

O governador mineiro defende, por exemplo, a remoção de sem-teto das ruas como se falasse de automóveis que precisam ser guinchados. “Se alguém deixa o carro estacionado num lugar proibido, o carro não é guinchado? Agora vai ficar alguém na porta de um comerciante que paga imposto, que gera emprego, fazendo sujeira, atrapalhando, ameaçando o cliente. Ninguém pode fazer nada", disse, em entrevista recente.

Mais que isso, ele já mostrou que está disposto a se rastejar pelo apoio da família Bolsonaro.

Logo que assumiu a pré-candidatura, Zema foi alvo de um ataque coordenado dos filhos de Bolsonaro. Sem citar nomes, o vereador Carlos Bolsonaro foi às redes dizer que gente como ele se comportava como rato. O governador fingiu que não caiu na ratoeira e desconversou: até marido e mulher se desentendem. Faltou morder um pedaço de queijo para dizer que estava bem no figurino.

Caiado também está na pista, mas já indicou que não vai mendigar apoio do clã. “Aqui não tem filhinho de papai”, disse, na convenção que oficializou a federação de seu partido, o União Brasil, como o Progressistas, nesta terça-feira (19). Para bom entendedor, meia menção aos nepobabies basta.

Da turma Tarcísio de Freitas é o favorito de banqueiros e da elite empresarial. Ele governa o maior e mais rico estado do país e transita tanto pela Faria Lima (essa que se estende até os rincões do agro) como entre os militares. É engenheiro formado pelo IME, o Instituto Militar de Engenharia e fala e se comporta como um tecnocrata – o que é música para os ouvidos dos donos do dinheiro.

Quanto mais perto da prisão fica o ex-chefe Jair Bolsonaro, mais o ex-ministro dos Transportes testa a fantasia. Não tem discurso de inauguração de obras que não ataque Lula (PT), de quem pode precisar se quiser mesmo um novo mandato como governador. Afinal de contas, esta é uma república federativa e recursos em parceria com a União são o oxigênio de qualquer gestão. Mas Tarcísio não parece se importar com isso como já se importou. 

O governador do Paraná corre por fora, mas tem de saída o controle de um rincão bolsonarista e os canais de comunicação da família. Ele é filho de Carlos Massa, o lendário apresentador Ratinho, do SBT. Pode ser o azarão.

A turma se acotovela enquanto bota os dedos nas águas de 2026. Nenhum dá sinal de que pretende marchar junto já no primeiro turno. 

Caiado é quem diz isso mais claramente ao defender que cada partido lance seu candidato e boa sorte para quem se der melhor. Sinônimo de racha no campo conservador/extremista, tão dependente do apoio quanto vulnerável aos ataques do bolsonarismo.

No caminho estão os filhos do próprio ex-presidente, que sonham em herdar o espólio do pai e dinamitam as pontes com qualquer um que levante o dedo.

Falta definir quem dos três – ou quatro, contando o novato Jair Renan, vereador em Balneário Camboriú – será ungido sucessor do pai. Aí vai ser a disputa da disputa da disputa.

Nem Shakespeare imaginaria uma trama sucessória tão sangrenta.


*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG