
A semana que passou foi marcada por uma imagem simbólica em que parlamentares bolsonaristas cercam a Mesa Diretora da Câmara enquanto apontam os dedos para todos os lados.
Abaixo deles está um assustado presidente da Casa, sentado na cadeira para a qual foi eleito pelos pares, mas olhando para cima.
Não é preciso saber o que a turba gritava para entender que o PL, maior força do parlamento hoje, está perdido. E Hugo Motta (Republicanos-PB), idem.
Basta analisar os nove minutos do pronunciamento após a retomada do posto.
O que era uma reivindicação da ordem virou brecha para aceitar discutir qualquer tipo de pauta, de quem vier, “sem preconceitos”. Isso inclui a anistia aos golpistas de 8 de janeiro.
Nas entrevistas, dias depois, Motta já mimetizava o discurso da oposição. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal comete exageros ao silenciar quem, com um celular nas mãos e uma tornozeleira na perna, colocava em risco a segurança do país. Inclusive econômica.
Motta encaminhou ao corregedor da Câmara o nome de 14 deputados rebeldes e terceirizou as providências. O corregedor, Diogo Coronel (PSD-BA), tem até quarta-feira para apresentar um parecer
De lá o caso segue para o Conselho de Ética, hoje presidido por Fabio Schiochet (União-SC). Schiochet tem vídeo nas redes convidando Jair Bolsonaro (PL), então presidente da República, para uma feira de armas em seu estado, o mais bolsonarista do país. Dá para ver ali quem é o fã e quem é o ídolo.
O tiro na ordem da Casa está engatilhado.
Ali ao lado, no Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) tenta mostrar mais firmeza que o vizinho. Ele já disse que não vai pautar o impeachment de Alexandre de Moraes.
Essa é uma pauta que só cabe ao Senado. E Alcolumbre avisou que não vai entrar nessa nem que haja 81 assinaturas para rifar a toga do ministro.
A declaração transformou o senador em alvo preferencial de aliados de Donald Trump, que passaram o fim de semana dizendo como ele deve se comportar daqui em diante.
Alcolumbre tem mais interesses em manter um bom relacionamento com o governo do que Motta. É essa parceria que pode tirar do papel o projeto de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, localizado em seu estado, o Amapá.
Jason Miller, assessor de Trump,escreveu no “X” que não vai desistir enquanto não ver Jair Bolsonaro livre da prisão. Não se sabe (não mesmo?) se ele falava da domiciliar, onde o ex-presidente se encontra agora, com uma tornozeleira eletrônica, ou da pena caso seja mesmo condenado por tramar um golpe de Estado.
Nas mesma rede, Martin de Luca, advogado de Trump, foi pra cima de Alcolumbre e questionou se ele manterá a postura com um pouco de pressão internacional.
A mesma que Trump e os aliados jogam sobre o Supremo Tribunal Federal desde o dia 1 do julgamento da trama golpista.
Há quem aposte que já tem ministro na Corte ensaiando um pedido de vista para ganhar tempo e levar a sentença para 2026, quando os ares podem ser outros.
Como se vê, não são só os chefes do Congresso que entram numa semana decisiva para reestabelecer a ordem na(s) Casa(s). É um país inteiro que pode definir se esta é uma nação soberana ou uma república de bananas.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG