Prisão domiciliar de Bolsonaro repercute em jornais pelo mundo

Imprensa internacional destaca a escalada do embate entre o Judiciário brasileiro e o ex-presidente, além da tensão com os Estados Unidos

Cartaz com a foto do presidente Donald Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Cartaz com a foto do presidente Donald Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro
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A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de decretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda-feira (04) ganhou destaque imediato na imprensa internacional, com veículos dos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio noticiando a escalada da crise jurídica e política no Brasil.

Jornais como o estadunidense The Washington Post e o britânico The Guardian explicaram que a medida foi uma resposta ao descumprimento de ordens judiciais por parte de Bolsonaro, que, segundo Moraes, utilizou as redes sociais de aliados e filhos para se comunicar com apoiadores e incitar ataques ao Judiciário, mesmo estando proibido de fazê-lo.

A repercussão global não se ateve apenas aos fatos internos, mas também à crescente tensão diplomática entre o Brasil e o governo do presidente estadunidense Donald Trump .

A maioria dos veículos ressaltou que o processo contra Bolsonaro é o estopim de uma disputa que levou os EUA a imporem sanções ao ministro Alexandre de Moraes e tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

Destaque para a tensão com os EUA

O jornal estadunidense The Washington Post afirmou que a ordem de prisão domiciliar " sublinhou os limites do poder de Trump para dobrar o juiz brasileiro à sua vontade ".

A publicação descreveu a decisão como uma " escalada dramática " no embate entre Moraes, a administração Trump e a direita brasileira, deixando claro que o ministro " não tem intenção de recuar em seu processo contra Bolsonaro, apesar de uma intensa campanha de pressão ".

O The New York Times, também dos EUA, colocou o caso no centro da " rixa tarifária do presidente Trump com a nação sul-americana ". O jornal informou que Trump considera o processo uma " caça às bruxas " e que as sanções a Moraes foram uma resposta à suposta censura de vozes conservadoras.

A rede britânica BBC seguiu a mesma linha, explicando que Trump usou o julgamento de Bolsonaro como justificativa para as tarifas. O jornal também detalhou que Moraes acusou o ex-presidente de usar as redes de seus filhos para " espalhar mensagens que encorajavam ataques à Suprema Corte e intervenção estrangeira no Judiciário brasileiro ".

Violação de medidas e risco de fuga

O jornal britânico The Guardian focou na justificativa da decisão, afirmando que Bolsonaro violou a proibição de usar redes sociais imposta " em meio a temores de que o líder de extrema direita pudesse fugir para evitar a punição por uma suposta tentativa de golpe ". A reportagem citou a análise do comentarista político Fernando Gabeira, da GloboNews, que disse: " Bolsonaro está sendo preso gradualmente. A Suprema Corte, consciente ou não, está o levando à prisão em etapas – para evitar um grande choque ".

O francês Le Monde noticiou que o juiz denunciou o " reiterado desrespeito às medidas impostas " e citou a fala de Moraes na decisão: " Como tenho afirmado reiteradamente, a justiça é cega, mas não é idiota ".

Na Argentina, o La Nación informou que a ordem de prisão ocorreu no âmbito da investigação sobre o financiamento de uma trama para " atrapalhar, a partir dos Estados Unidos, o processo contra ele por tentativa de golpe de Estado ".

Repercussão em outros continentes

A rede Al Jazeera, do Catar, destacou que a ordem de prisão foi emitida um dia após manifestações de apoio ao ex-presidente e que o caso está causando um " racha diplomático " entre Brasil e EUA.

A publicação citou a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se solidarizou com Moraes e afirmou que as sanções foram " motivadas pelas ações de políticos brasileiros que traem nosso país ".

Na Itália, os jornais Corriere Della Sera e La Repubblica relataram a decisão, explicando que Bolsonaro teria violado as restrições ao participar de uma manifestação em Copacabana por meio de uma videochamada com seu filho, o senador Flávio Bolsonaro.

A revista alemã Der Spiegel e a agência de notícias russa RIA Novosti também noticiaram a prisão domiciliar, mencionando o uso da tornozeleira eletrônica e a proibição de contato com autoridades estrangeiras como parte das medidas restritivas impostas por Moraes.