CGU aponta contratos irregulares com empresas dirigidas por parentes de políticos

Dezenas de milhões de reais em parcerias foram descobertas através de uma auditoria de transferências de recursos federais para OSCs

 Auditores da CGU analisaram quase 11 mil parcerias firmadas entre 2017 e 2022
Foto: Agência Brasil
Auditores da CGU analisaram quase 11 mil parcerias firmadas entre 2017 e 2022

A Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou dezenas de milhões de reais em parcerias feitas com organizações dirigidas por parentes de parlamentares e funcionários do governo federal . As informações são do g1 .

Os valores foram descobertos através de uma auditoria de transferências de recursos federais para Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O relatório , que ficou público esta semana, também mostrou que mais de 96 % das parcerias não foram feitas com chamamento público (mecanismo que aumenta a transparência dos gastos do governo ).

Os auditores da CGU analisaram quase 11 mil parcerias firmadas entre 2017 e 2022, envolvendo transferências de R$ 13,34 bilhões.

"É certo que a maior parte das OSCs são instituições sérias e que prestam serviços relevantes à sociedade. No entanto, é imprescindível abordar as fragilidades existentes na legislação e aprimorar a capacidade de monitoramento e controle dos órgãos concedentes, a fim de evitar que situações de ilegalidade e imoralidade como as aqui identificadas continuem prejudicando a reputação dessa política tão cara à sociedade brasileira", diz o relatório.

Outra descoberta feita pela auditoria foi que, entre 2017 e 2022, foram concretizadas 130 parcerias com empresas dirigidas por parentes de parlamentares ou de funcionários do governo federal, que receberam juntas R$ 73,7 milhões.

Apenas 23 empresas, somando R$ 18,5 milhões em contratos, foram feitas com OSCs que tinham parentes de até segundo grau de parlamentares ou funcionários públicos federais. Os acordos são proibidos por lei.

"Verificaram-se fragilidades no processo de transferências que podem contribuir para essa constatação, tais como a não publicação de documentos de habilitação no Transferegov.br em alguns casos, bem como a inexistência de ferramenta tecnológica disponível aos órgãos concedentes para identificação das relações de parentesco, de tal forma que a verificação do requisito se baseia em declaração da própria entidade proponente", relata o documento.

Segundo a Constituição Federal, a atuação da administração pública deve priorizar o bem coletivo,  ser impessoal e genérica. Também não pode levar em consideração interesses pessoais ou de terceiros.

Obtenção de lucro


Os auditores também verificaram 420 parcerias ocorreram 984 indícios de favorecimento, sendo:


  • R$ 36,7 milhões em 658 contratações de empresa de diretor da entidade parceira;

  • R$ 30 milhões em 254 contratações de empresa de familiar do gestor da entidade parceira;

  • R$ 85 mil em 10 contratações de empresas de parlamentar;

  • R$ 5,58 milhões em 56 contratações de empresas de familiar de parlamentar;

  • R$ 53,1 em 6 contratações de empresas familiares da autoridade concedente.


Os auditores fiscais também identificaram um obra no valor de R$ 4,1 milhões destinado para uma construtora de um dos dirigentes da OSC. Em outro caso, um dos diretores da entidade recebeu R$ 2,7 milhões em sua empresa para fazer o serviço de “assessoria em prestação de contas" de pelo menos três convênios com a mesma entidade.

Outro ponto do relatório da CGU foi que 35,7%, das entidades não possuía nenhum funcionário registrado à época das parcerias. Na época, 1.139 entidades receberam R$ 900,3 milhões em recursos federais.

Segundo o g1, a auditoria afirma que, na maioria dos casos, os funcionários eram contratados de forma temporária e bolsistas ou subcontratações, o que são irregulares em alguns tipos específicos de parcerias.

"Isso demonstra que, em alguns casos, as organizações não são escolhidas propriamente pela sua capacidade de executar o objeto, mas por conseguir reunir os meios para essa execução", mostra o documento.

Outro problema relatado pela CGU envolve a contratação de parentes de dirigentes das próprias entidades ou, novamente, de parlamentares. A entidade ressalta a autonomia da OSCs, porém ressaltou que por envolver recursos públicos, a composição dessas equipes deve observar os princípios da publicidade e especialmente da impessoalidade.

36 contratações de parentes em diferentes graus de parlamentares federais e, principalmente, 1.140 contratações dos próprios dirigentes das OSCs também foram encontradas pela auditoria. No total, foram R$ 32,4 milhões pagos para gestores das entidades e, em 73% destes casos, o processo seletivo ou registro foi realizado para outros candidatos para as vagas.

Esse tipo de caso aumentou ao longo dos anos. Segundo a CGU, o problema passou de 159 em 2017 para 316 em 2021.


Falha em avaliação social

A CGU também encontrou alguns problemas na avaliação dos programas feitos pelas organizações sociais.

Os auditores também analisaram uma amostra das parcerias para conferir se havia documentos básicos para o cumprimento dos contratos e alcance dos objetivos das parcerias. A CGU descobriu que, em todos os casos, foi identificada alguma falha envolvendo os papéis obrigatórios por lei.

Dos 48 contratos analisados, apenas 16 tinham o chamado relatório de acompanhamento e fiscalização. Apenas quatro contavam com a chamada pesquisa de satisfação – realizada com os beneficiários dos programas. Apenas

5 documentos tinham comprovação de realização de visitas ao local das ações pelos fiscais para acompanhamento dos trabalhos.