Tarcísio deve manter Derrite, mas pretende intervir diretamente na segurança de SP

Governador quer atuar 'dentro' da pasta para implementar alterações no trabalho dos agentes

Guilherme Derrite (à esquerda), secretário de Segurança Pública de São Paulo, ao lado do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (à direita).
Foto: Alesp/Divulgação
Guilherme Derrite (à esquerda), secretário de Segurança Pública de São Paulo, ao lado do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (à direita).

O governador de São Paulo , Tarcísio de Freitas (Republicanos), deve manter Guilherme Derrite  como secretário de Segurança Pública, mas vai intervir diretamente na pasta ao longo da semana. A informação é da coluna da jornalista Vera Magalhães, do O Globo.

Tarcísio irá acompanhar a implementação de uma série de medidas que visam corrigir a atuação de agentes de segurança, após a explosão de casos de violência nos últimos meses.

Na semana passado,  Tarcísio admitiu mais de uma vez que estava errado quando fez críticas ao uso de câmeras nos uniformes dos policiais, e ainda reconheceu que  declarações suas podem ter influenciado a ação violenta de alguns agentes.

Dada a repercussão dos acontecimentos, o governador cancelou a viagem que faria a Brasília nesta terça (10) para acompanhar de perto os testes dos novos equipamentos de câmeras corporais com inovações tecnológicas, que podem ser acionadas comandos das tropas de forma remota e funcionar como um canal de comunicação entre os policiais e as centrais.

Outras medidas esperadas

A ideia é anunciar aumento do número de câmeras - de 10,2 mil para 15 mil. O teste será feito com equipamentos da Motorola, mas há outros fabricantes que estão sendo contatados para futuras aquisições.

O governo de SP também deve anunciar, nos próximos dias, um incremento no número de bases comunitárias da Polícia Militar na capital e na Baixada Santista. Isso porque a Operação Verão, que deixou 56 civis mortos pela PM neste ano, vai se repetir no início de 2025.

Agora, o governo afirma que a ação, cuja justificativa é o combate ao crime organizado no litoral, terá presença ostensiva da polícia por meio das bases, sem operações exageradas nas comunidades.

Além disso, o governo deve anunciar novas medidas de acompanhamento psicológico de policiais, de treinamento para o uso de armas não-letais e de atuação em diferentes tipos de abordagem. Também serão anunciados novos convênios com municípios no programa Muralha Paulista, de fornecimento de câmeras de ruas para monitoramento.

Na intervenção branca, outra possibilidade é a retirada das corregedorias de dentro das polícias, sobretudo da Polícia Civil, para ficarem direto na secretaria. Mesmo que as últimas polêmicas estejam relacionadas à PM, a avaliação no Bandeirantes é de que a corrupção e a infiltração do crime organizados são mais graves na Polícia Civil. Tarcísio vai cobrar acesso aos processos em andamento na corregedoria e pretende estabelecer prazo para sua conclusão.

Tensões na SSP

A intervenção de Tarcísio na Secretaria de Segurança Pública pode criar a definição de uma política pública para a área diferente da sugerida por Derrite, que foi comandante da Rota. Para isso, o governador convidou a professora da Fundação Getúlio Vargas Joana Monteiro, especialista em segurança, para elaborar ideias a serem adotadas em São Paulo.

Nos últimos dias, ele teve algumas conversas com Derrite. A decisão de manter o secretário não significa que a relação entre os dois esteja num bom momento, mas sim que o governador tentará colocá-lo sob sua "régua", sem que Derrite avance com seu  projeto político próprio, que nem sempre está de acordo com as diretrizes do governo.

Agora, aguarda-se a reação de Derrite e de aliados caso Tarcísio avance o plano de mudança de rota na segurança. A conversa nos bastidores é de que ele não pretende adotar discurso de que "bandido bom é bandido morto", ainda que ele tenha adesão no eleitorado bolsonarista-raiz, mas focar no combate à criminalidade e à garantia da "segurança jurídica" para a polícia no enfrentamento do crime organizado, mas sem que isso seja confundido com "endosso" ou "salvo-conduto" para a letalidade policial.