Marinha tinha tanques na rua prontos para o golpe, afirma militar

Trocas de mensagens obtidos pela PF reforçam as evidências de articulação entre setores das Forças Armadas e aliados de Bolsonaro

Almir Garnier Santos, almirante da Marinha
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Almir Garnier Santos, almirante da Marinha

Mensagens obtidas pela Polícia Federal indicam que o almirante Almir Garnier , ex-comandante da Marinha , teria apoiado o plano golpista articulado durante o governo de Jair Bolsonaro ( PL ). 

Garnier , descrito como "patriota" em uma conversa de um contato chamado “Riva”, era considerado um aliado estratégico na possível execução de uma ruptura institucional.  

Em uma das mensagens, Riva mencionou que "tinham tanques no Arsenal prontos", sugerindo que havia uma preparação militar para viabilizar o plano. Outro interlocutor, referindo-se a Bolsonaro como "01", afirmou que uma atitude mais firme do ex-presidente em relação à Marinha poderia ter levado o Exército e a Aeronáutica a apoiar o movimento.  

As trocas de mensagens reforçam as evidências de articulação entre setores das Forças Armadas e aliados de Bolsonaro para sustentar ações autoritárias. Segundo as investigações, o objetivo seria justificar medidas extremas usando narrativas de fraude eleitoral.  


A adesão de figuras como o almirante Garnier sugere que, caso o plano fosse desencadeado, haveria suporte logístico e militar suficiente para sua sustentação. As revelações ampliam as acusações contra os envolvidos e trazem novos questionamentos sobre o papel de setores das Forças Armadas no contexto de uma tentativa de golpe de Estado.  

Tanques em Brasília 


Almir Garnier, nomeado por Bolsonaro, comandou a Marinha de abril de 2021 até o fim do mandato do ex-presidente. Durante esse período, um episódio chamou atenção: em 10 de agosto de 2021, veículos blindados e outros equipamentos militares foram deslocados do Rio de Janeiro até o Palácio do Planalto para entregar um convite a Bolsonaro referente a um exercício militar.  

O desfile ocorreu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados votava — e rejeitava — a proposta de adoção do voto impresso, gerando críticas e especulações sobre a intenção do evento. Garnier, no entanto, atribuiu a coincidência ao calendário previamente definido pela Marinha.  

“Foi uma coincidência de datas, que nós não tínhamos como prever”, explicou o almirante. Ele ainda declarou:“Então talvez isso é que tenha criado todo um pouco de ruído, né? Porque, no final das contas, a gente, as Forças Armadas, são extremamente cumpridoras da lei e da ordem”, disse.