Operação Contragolpe: o que se sabe sobre o plano de matar Lula, Alckmin e Moraes

Grupo investigado pela PF também pretendia fazer um golpe de Estado após as eleições de 2022, antes de Lula assumir a presidência

Investigações da Polícia Federal identificaram plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes em 2022
Foto: Montagem iG / Imagens: Tomaz Silva/Agência Brasil; Antônio Cruz/Agência Brasil; e Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Investigações da Polícia Federal identificaram plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes em 2022

Polícia Federal deflagou a Operação Contragolpe nessa terça-feira (19),  que teve como alvo a organização criminosa responsável por planejar um golpe de Estado e os assassinatos do presidente Lula , do vice-presidente Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes , do Supremo Tribunal Federal (STF), após as eleições de 2022.

A operação investiga a atuação de militares das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", no plano golpista. Segundo a PF, o  grupo elaborou um "detalhado planejamento operacional, denominado 'Punhal Verde e Amarelo'", para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.

O esquema foi discutido em 12 de novembro daquele ano na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro.

Quem foi preso?

Cinco pessoas foram presas com autorização do Supremo : o policial federal Wladimir Matos Soares; quatro militares do Exército ligados às forças especiais: o general de brigada Mario Fernandes (na reserva), o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira.

Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva, três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares, que incluem a proibição de contato entre os investigados, a entrega de passaportes em até 24 horas e a suspensão do exercício de funções públicas. A operação contou com o acompanhamento do Exército Brasileiro e se deu em diversos estados, incluindo Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal.

Quando o plano seria executado?

Os planos foram traçados para serem executados ainda em 2022, logo após Lula ter ganhado a eleição contra Bolsonaro e antes da posse do petista, que ocorreu em janeiro de 2023.

Como a PF chegou nessas pessoas?

A PF chegou aos alvos a partir da análise de materiais de militares já investigados no inquérito, como as  informações deletadas de aparelhos do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Cid deve prestar depoimento à Polícia Federal nesta terça.

Outra parte, ainda maior, veio dos aparelhos celulares de outros militares alvos de uma operação de fevereiro deste ano, ainda no âmbito da tentativa de golpe de Estado.

A reunião na casa de Braga Netto , por exemplo, foi confirmada por Cid, e corroborada por materiais apreendidos com general da reserva e ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral do ex-presidente, Mário Fernandes, preso nesta terça.

Plano era envenenar Lula

Um dos trechos do documento da PF aponta que o grupo chegou a considerar a idade e o estado de saúde do petista para envenená-lo e causar um "colapso orgânico".

"Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", descreve a PF.

Um veículo militar chegou a ser deslocado no dia que a ação estava prevista.

Captura de Moraes

O documento ainda especificava o armamento que seria usado para capturar e executar Moraes: uma metralhadora, quatro fuzis, quatro pistolas e um lança granada. “São armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”, diz o texto.

Em relação a Moraes, os golpistas ainda consideraram outras condições de assassinato, como usar artefatos explosivos ou mesmo o envenenamento.

Relatório da PF mostra que Moraes teria sido monitorado por militares bolsonaristas a partir de novembro de 2022 . O acompanhamento teria começado após uma reunião na casa de Braga Netto.

O que disse a PF sobre o plano de golpe?

A PF descobriu que a ação golpista era dividida em cinco núcleos , que incluíam desde ataques ao sistema eletrônico de votação, às vacinas contra a Covid-19 e a tentativa de golpe de Estado.

1 - ataques virtuais a opositores;
2 - ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
3 - tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
4 - ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia;
5 - uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, o qual se subdivide em:

Uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais;

Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina;

E desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito.

Bolsonaro sabia do plano?

O general da reserva Mário Fernandes, que foi preso nessa terça, visitou o Palácio do Alvorada e afirmou ter conversado com Jair Bolsonaro . Segundo ele,  o então presidente havia aceitado o seu "assessoramento" ao se pronunciar sobre o resultado das eleições de 2022.

A vista de Fernandes a Bolsonaro aconteceu em 8 de dezembro, o que foi confirmado pelos dados de controle de acesso ao Palácio da Alvorada. Dois dias antes, no dia 6, o general imprimiu o documento que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes dentro do Palácio do Planalto.

Além disso, o ex-presidente estaria envolvido na redação e nos ajustes da minuta de decreto que visava um golpe de Estado em 2022 , segundo a PF. As informações foram obtidas pela PF após análise dos dados armazenados no aparelho celular de Mauro Cid. Segundo a investigação, Bolsonaro sabia da minuta do golpe e ajudou a redigir e ajustar o documento.

O relatório ainda revelou que Bolsonaro teria autorizado ações golpistas até o último dia de seu mandato, 31 de dezembro de 2022 . Segundo a PF, a informação sobre o aval de Bolsonaro foi repassada pelo general Mario Fernandes ao então ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid.