Nesta terça-feira, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro negou que ele tenha confessado, em seu discurso em ato na Avenida Paulista neste domingo (25), ter tido conhecimento da minuta de decreto de estado de sítio e de defesa quando ainda governava o Brasil.
Paulo Bueno, que atua na defesa de Bolsonaro ao lado de Fabio Wajngarten, afirma que o presidente só soube da existência do documento no final de 2023, quando a própria equipe de defesa encaminhou o material, que já constava da investigação da Polícia Federal, para o ex-mandatário.
"Ele comentava (no ato) sobre algo que ele teve conhecimento muito tempo depois", disse. "Se as autoridades policiais veem nisso uma forma de confissão, a defesa entende que o que se assiste é realmente uma pobreza muito grande de elemento nessa investigação semi-secreta a qual a defesa não tem acesso e, ao que parece, justamente pela fraqueza de seus elementos."
Vale lembrar que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu o acesso aos autos da investigação à defesa do ex-presidente, com exceção das diligências em andamento e da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.
Já para Wajngarten, que atuou como chefe da Secretaria de Comunicação Social durante a gestão Bolsonaro, não existem provas contra o ex-presidente ou contra os outros investigados pela suposta tentativa de golpe.
"Se as autoridades competentes entendem que a fala do presidente no ato é uma assunção de culpa, até o presente momento, não há prova nenhuma contra o presidente e contra ninguém", afirmou o advogado, que chegava à sede da PF em São Paulo para prestar depoimento na investigação que apura se Bolsonaro importunou intencionalmente uma baleia-jubarte.
Fala de Bolsonaro sobre minuta golpista constará em investigação sobre golpe
Nesta segunda (26), fontes da Polícia Federal (PF) afirmaram que um trecho do discurso do ex-capitão será incorporado ao inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado. A fala em questão é esta:
"O golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência", disse o ex–presidente durante seu discurso. "Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do estado de sítio".
Na visão dos investigadores da PF, as declarações do ex-presidente reforçam a suspeita de que a tentativa golpista tinha “anuência e atuação de Bolsonaro”, ou seja, que o ex-capitão estava ciente das estratégias para tentar impedir a posse de Lula.
As investigações da Operação Tempus Veritatis apontam, ainda, que o ex-presidente não só participou da elaboração como também chegou a fazer alterações em um documento que legitimava o golpe de Estado.