Toffoli manda investigar atuação de ONG em acordo da Lava Jato

Ministro do STF suspeita que Transparência Internacional tenha se apropriado indevidamente de recursos públicos

Toffoli exige investigação da ONG Transparência Internacional
Foto: redacao@odia.com.br (Agência Brasil)
Toffoli exige investigação da ONG Transparência Internacional

O ministro Dias Toffoli , do Supremo Tribunal Federal (STF) , mandou investigar, nesta segunda-feira (5), se a ONG (Organização não governamental) Transparência Internacional se apropriou indevidamente de recursos públicos em acordo da Lava Jato . Em nota, a organização negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade.

Toffoli determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhe ao seu gabinete as investigações em curso no Ministério Público Federal (MPF) sobre o acordo. O ministro pede que se apure se a ONG recebeu parte dos valores obtidos com multas de acordos firmados no âmbito da Lava Jato.

No entendimento do magistrado, "fatos gravíssimos" não passaram pelo crivo do Poder Judiciário e do TCU. A ONG foi designada como responsável pela administração da aplicação de recursos de uma multa de R$ 2,3 bilhões da J&F. Na decisão, Toffoli se refere à Transparência Internacional como uma entidade "alienígena com sede em Berlim" e que recebeu recursos que deveriam ser destinados ao Tesouro Nacional.

O caso

Em 2017, foi celebrado acordo de leniência entre o MPF e a empresa J&F, posteriormente modificado, no qual foi pactuado o pagamento de R$ 10,3 bilhões a título de ressarcimento, dos quais R$ 8 bilhões destinados a entidades individualmente lesadas e R$ 2,3 bilhões destinados à execução de projetos nas áreas da educação, saúde, meio ambiente, pesquisa e cultura. De acordo com o ministro Toffoli, por acordo com o MPF, a Transparência Internacional ficaria responsável pela gestão dos R$ 2,3 bilhões.

Toffoli destacou que o STF registrou ser "duvidosa a legalidade de previsão da criação e constituição de fundação privada para gerir recursos derivados de pagamento de multa às autoridades brasileiras, cujo valor, ao ingressar nos cofres públicos da União, tornar-se-ia, igualmente, público, e cuja destinação a uma específica ação governamental dependerá de lei orçamentária editada pelo Congresso Nacional, em conformidade com os princípios da unidade e universalidade orçamentárias".

O que diz a Transparência Internacional:

Em resposta à decisão do Min. Dias Toffoli divulgada nesta segunda-feira (5), a Transparência Internacional – Brasil esclarece, mais uma vez, que são falsas as informações de que valores recuperados através de acordos de leniência seriam recebidos ou gerenciados pela organização.

A Transparência Internacional jamais recebeu ou receberia, direta ou indiretamente, qualquer recurso do acordo de leniência do grupo J&F ou de qualquer acordo de leniência no Brasil. A organização tampouco teria – e jamais pleiteou – qualquer papel de gestão de tais recursos. Através de acordos formais e públicos, que vedavam explicitamente o repasse de recursos à organização, a Transparência Internacional – Brasil produziu e apresentou estudo técnico com princípios, diretrizes e melhores práticas de transparência e governança para a destinação de “recursos compensatórios” (multas e recuperação de ativos) em casos de corrupção.

O relatório incluía recomendação de que o Ministério Público não deveria ter envolvimento na gestão destes recursos. O estudo e as recomendações não tiveram e não têm qualquer caráter vinculante ou decisório. O Memorando de Entendimento que estabeleceu esta cooperação expirou em dezembro de 2019 e não foi renovado, encerrando qualquer participação da Transparência Internacional.

Tais alegações já foram desmentidas diversas vezes pela própria Transparência Internacional e por autoridades brasileiras, inclusive pelo Ministério Público Federal. Apesar disso, estas fake news vêm sendo utilizadas há quase cinco anos em graves e crescentes campanhas de difamação e assédio à organização.

Reações hostis ao trabalho anticorrupção da Transparência Internacional são cada vez mais graves e comuns, em diversas partes do mundo. Ataques às vozes críticas na sociedade, que denunciam a corrupção e a impunidade de poderosos, não podem ser naturalizados.

Seguiremos cumprindo nosso papel na promoção da transparência e da integridade no Brasil e no mundo.