"Forças Armadas não queriam um golpe", diz Múcio sobre atos do 8/1

Ministro da Defesa disse que presidente ficou "zangadíssimo" e que "algumas pessoas" do Exército queriam o golpe, mas sem liderança

Foto: Pedro França/Agência Senado
Ministro da Defesa, José Múcio

O ministro da Defesa,  José Múcio, afirmou que, há quase um ano, quando apoiadores golpistas de Jair Bolsonaro (PL)  tomaram a Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília, havia vontade de ruptura institucional sem liderança. “Forças Armadas não queriam um golpe”, disse ao jornal O Globo em entrevista publicada nesta sexta-feira (5).

Múcio ponderou, contudo, que alguns integrantes do  Exército tinham o desejo do golpe. “Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe”, disse. “É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua [...] No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança”.

O ministro revelou que o presidente  Lula (PT) ficou “zangadíssimo” com os atos e a depredação. “O presidente estava querendo saber o que houve”, lembrou. “Ninguém sabia de onde estava vindo, quem estava por trás. Todo mundo estava surpreso. O presidente estava zangadíssimo”.

Ele negou que tenha sugerido ao presidente a implementação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), vista à época como uma estratégia para se concretizar o golpe. "Alguém disse: 'Olha, só com GLO para os soldados irem'. Eu não sugeri ao presidente, mas poderia ter sugerido. Era uma forma de o Exército ir para a rua e conter. Tínhamos 1.500 homens à disposição. Mas o presidente disse: 'GLO não'. Havia um grupo que achava que, se houvesse GLO, os militares aproveitariam para materializar o golpe".

Acerca das críticas que recebeu pela condução tida como complacente com os golpistas, segundo alguns apoiadores do governo, José Múcio afirmou que "faria tudo de novo do jeito que fiz", e que o foco prioritário é pacificar o país. 

"Tem muitos que criticam, outros elogiam", disse. "Tudo tem seu tempo. Se nós estamos procurando aproximar, por que vamos mexer? Temos que reconstruir o clima de confiança, para que as pessoas não sintam que estão sendo punidas. Precisamos primeiro criar este clima e depois fazer o que algumas pessoas desejam [...] Fomos dentro do que a lei mandava [...] Faria tudo de novo do jeito que eu fiz".