STF: 'Movimento negro se decepciona', dizem entidades após indicação

Flávio Dino foi indicado pelo presidente Lula para vaga de Rosa Weber, após forte campanha da sociedade civil pela nomeação de uma jurista negra

Foto: @airaocrespo
Mural artístico produzido pelo artista @airaocrespo com realização do IDPN para a campanha por uma ministra negra no STF.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda-feira (27)  as indicações do ministro da Justiça, Flávio Dino, para ocupar a vaga deixada por Rosa Weber como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e do procurador Paulo Gustavo Gonet Branco para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR).

A indicação de Flávio Dino para ministro do STF é a segunda feita pelo presidente para uma vaga na Corte este ano. A primeira foi a de Ricardo Zanin, em junho, para a vaga deixada por Ricardo Lewandowski.  Zanin foi advogado de Lula e assumiu a cadeira de magistrado no início de agosto. 

Com as vagas de Lewandowski e Weber em aberto  até então, desde o início de 2023, entidades da sociedade civil, movimento negro e da área do direito se movimentaram para fortalecer os pedidos pela indicação de uma ministra negra.


Campanhas da sociedade civil 

Dados reunidos pela Gênero e Número mostram que dos 170 ministros que já atuaram no órgão somente três eram negros. Além disso, revelam que desde sua criação, o STF teve suas cadeiras ocupadas 95% do tempo por homens brancos, 2,4% por mulheres brancas e 2,7% por homens negros.

Um documento intitulado “Manifesto por juristas negras no Supremo Tribunal Federal”, assinado por mais de 80 entidades da sociedade civil,  foi entregue à presidência em março sob o argumento de que a indicação de alguém com esses recortes seria a oportunidade de preencher uma lacuna na democracia brasileira. 

A movimentação ganhou visibilidade internacional. Em setembro, a campanha #PretaMinistra, liderada pelo Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), junto com a Coalizão Negra por Direitos, foi exibida na Times Square, expondo como entidades nacionais e do exterior esperavam que Lula aproveitasse da oportunidade política para  fazer uma indicação coerente com a demonstração de diversidade que ele trouxe em sua campanha eleitoral e na posse, durante a subida da rampa do planalto.


Posicionamento diferente

“Acredito que todo o movimento negro, mas principalmente a adovcacia, fica decepcionada” , declara Estevão Silva, presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra (ANAN) sobre a indicação do ministro da Justiça para o STF, ao invés de uma jurista negra.  

O próximo passo no processo de indicação de Flávio Dino é a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O advogado da ANAN reconhece que há um respeito e admiração pela trajetória de Dino e que não há um desejo dele ser barrado na CCJ, mas reforça que era esperado um posicionamento diferente de Lula.

Ainda sobre a necessidade de representar no STF a diversidade da sociedade brasileira, Estevão lembra: “mulheres negras têm sido esquecidas não só por esse governo, mas por todos os outros. Precisamos mudar. Estamos cobrando coerência.”

O advogado ressalta que entende as articulações políticas em torno de uma decisão como a nomeação de um ministro para o STF e mesmo pontuando que as campanhas para uma mulher negra como ministra continuarão, ele lembra que Lula “perde a oportunidade de fazer o gesto que a sociedade está ansiando.”

“Os negros sempre foram deixados de lado e mais uma vez o presidente reforça isso, mesmo se dizendo atento às minorias. Mais uma vez ele não rompeu com a branquitude”, aponta Estevão.