O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (21), em discurso na Cúpula Virtual Extraordinária dos Brics, que a guerra entre Israel e Hamas decorre de "décadas de frustração e injustiça" contra a Palestina, e que falta um "lar seguro para o povo palestino". A fala foi feita em videoconferência do grupo convocada para debater o conflito no Oriente Médio.
"É fundamental acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia, onde os assentamentos ilegais israelenses continuam a ameaçar a viabilidade de um Estado palestino. O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível", disse Lula.
O presidente acrescentou que o Brasil "condenou de maneira veemente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro contra o povo israelense", mas disse que "tais atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis" na Faixa de Gaza.
Além dos países-membros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), representantes dos países convidados a entrarem no bloco no próximo ano (Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã) também participaram da cúpula virtual.
Em seu discurso, Lula disse que Gaza vive um "catástrofe humanitária", e citou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, concordando que o enclave "está se tornando um cemitério de crianças". Desde o início da guerra, mais de 5,6 mil crianças e adolescentes morreram em Gaza.
Ao falar sobre o conflito, Lula citou a "paralisia" do Conselho de Segurança da ONU. "Ao presidir o Conselho de Segurança das Nações Unidas no mês de outubro, o Brasil não poupou esforços em favor do tratamento da emergência humanitária, da contenção da atual escalada e da retomada de uma solução duradoura para o conflito. Propusemos uma Resolução que contou com o apoio da maioria dos membros, mas que infelizmente foi objeto de veto de um dos membros permanentes. A paralisia do Conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma", disse o presidente.
"Só em 15 de novembro último, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança finalmente aprovou uma Resolução que foca em um dos objetivos mais essenciais de toda ação humanitária: a proteção de crianças. Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente. Novamente, a credibilidade das Nações Unidas está em jogo", completou.
Lula ainda disse que os países convidados a integrarem os Brics podem ajudar a conter o conflito. Dos seis convidados, três ficam no Oriente Médio, além do Egito estar diretamente ligado às negociações na Faixa de Gaza por fazer fronteira com o enclave.
"Devemos atuar para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos", disse Lula. "Estou convencido do potencial deste grupo para mobilizar as forças políticas e diplomáticas em favor da resolução pacífica de controvérsias", completou.