Carla Zambelli é alvo no Conselho de Ética após denúncias de hacker

Partidos pedem cassação de mandato da deputada após acusações de ter pagado Walter Delgatti Neto para invadir sistemas do judiciário

Deputada Carla Zambelli durante coletiva no salão verde da Câmara dos Deputados
Foto: Lula Marques/ EBC - 02/08/2023
Deputada Carla Zambelli durante coletiva no salão verde da Câmara dos Deputados

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) voltou à mira do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados após PSB e PSOL entrarem com representação contra a parlamentar por pagar um hacker para invadir os sistemas do judiciário. No pedido, os partidos pedem a cassação de mandato da parlamentar, com base nas denúncias feitas por Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da ‘Vaza Jato’.

Zambelli é acusada de ter pedido a Delgatti Neto para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça para incluir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para os partidos, há “indícios do uso do dinheiro público para financiar atividades ilegais e golpistas”.

“É absolutamente inconteste que as condutas perpetradas pela representada se deram no contexto de fomento aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Para além do golpismo, há o uso da cota parlamentar de forma indevida”, afirma o pedido.

As legendas ainda lembram da denúncia feita por Delgatti em que Zambelli e Bolsonaro pediram para que tentasse invadir as urnas eletrônicas. À Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o hacker afirmou que ainda foi solicitado uma tentativa de grampo no telefone de Moraes.

Em um dos pedidos, o PSB afirma que as ações da deputada mostram que o objetivo era colocar em xeque a legitimidade das urnas e da democracia.

“Aproveitou-se da posição de deputada federal e serviu-se das estruturas da Câmara dos Deputados, especialmente recursos orçamentários, para financiar atividades ilícitas visando a incutir no povo, titular da soberania popular, dúvidas sobre a legitimidade da representação parlamentar e, consequentemente, da própria democracia”, afirma o partido.

Zambelli já tinha sido alvo do Conselho de Ética nas últimas semanas por ofender o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) em uma oitiva do ministro Flávio Dino na Comissão de Segurança Pública na Câmara. Ela chegou a ser ameaçada a perder o mandato, mas entrou em acordo com os parlamentares e teve o processo arquivado.

Depoimento de Delgatti

Em seu depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos, Walter Delgatti Neto apontou envolvimento direto do ex-presidente Jair Bolsonaro, da deputada Carla Zambelli e outros aliados do Palácio do Planalto em uma conspiração para levar à cabo um golpe de Estado.

Delgatti afirmou à CPMI que se encontrou com Carla Zambelli e Bolsonaro, numa reunião na qual o então presidente da República pediu ao hacker que assumisse a autoria de um grampo ilegal que teria sido feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

O encontro teria sido aceito, segundo Delgatti, mediante uma promessa de emprego que Zambelli lhe teria feito.

“Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli de um encontro com o Bolsonaro. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu fui ao encontro. Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que fui até eles”, declarou Delgatti.

Ele afirmou ainda que a deputada Carla Zambelli lhe pediu para invadir sites de órgãos do Poder Judiciário, com o objetivo de criar uma imagem de fragilidade do sistema das urnas eletrônicas, por meio da criação de um código-fonte falso.

O código falso, sugerido por interlocutores do PL, serviria para criar fake news e insuflar a revolta popular por meio de vídeos falsos em que as urnas supostamente mostrariam pessoas tentando votar em Bolsonaro, enquanto o voto seria registrado para Lula.

Tudo isso teria ocorrido após Bolsonaro perguntar a Walter Delgatti se seria possível invadir, de fato, o sistema eleitoral, e receber “não” como resposta. Além de Bolsonaro e Carla Zambelli, o hacker também apontou a presença do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no encontro.