A Polícia Federal encontrou áudios e mensagens de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro que atestam um plano de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano passado . Havia um planejamento para atacar o Supremo Tribunal Federal ( STF ), descredibilizar as urnas eletrônicas, fazer com que o Exército negasse o resultado do segundo pleito de 2022 e a prisão do ministro da Corte, Alexandre de Moraes.
As informações são do G1 dadas por investigadores da PF. O major reformado do Exército, Ailton Gonçalves Barros, preso pela corporação no dia 3 de maio durante a Operação Venire, o coronel Elcio Franco e um militar que não teve a identidade divulgada, formaram o plano.
Segundo os investigadores, as conversas "deixam evidente a articulação conduzida por Ailton Barros e outros militares, para materializar o plano de tentativa de golpe de Estado no Brasil, em decorrência da não aceitação do resultado da eleição presidencial ocorrida em 2022, visando manter no Poder o ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e restringir o exercício do Poder Judiciário brasileiro, por meio da prisão do Ministro Alexandre de Moraes, do STF".
A PF concluiu que se tratava de um plano golpista após analisar mensagens no celular de Barros. A corporação encontrou dois prints (capturas de tela) que se destacaram. Era uma conversa entre o major reformado e um contato chamado "PR 01". As imagens foram enviadas a Mauro Cid, ex-ajudante de Jair Bolsonaro que também está preso desde o dia 3 de maio.
O primeiro print mostra que havia um plano para os organizadores dos atos de 7 de setembro de 2021 acamparem em Brasília, no dia 31 de março, data do golpe de estado que ocorreu 1964. A intenção era fazer com que os ministros do STF "saíssem de suas cadeiras".
O segundo print diz que seria interessante os atos defenderem o impeachment de Alexandre de Moraes e atacar as urnas eletrônicas.
Para os investigadores da PF, Barros não tinha contato direto somente com Mauro Cid, mas também com Bolsonaro, e se "dispôs a incitar grupos de manifestantes para aderirem a pautas antidemocráticas do interesse do ex-presidente da República".
Durante as eleições de 2022 , Bolsonaro chamou Barros de "segundo irmão" e o major reformado o acompanhou e durante a votação no segundo pleito na Vila Militar, no Rio de Janeiro.
Em áudio no dia 15 de dezembro de 2022, Barros disse a um militar não identificado que eles estavam na Zona Limite. "Combatente, nós estamos no limite longo da ZL (zona limite). Daqui a pouco não tem mais como lançar. Vamos dar passagem perdida, e aí é perdida para sempre. Você entende que eu tô falando (...) Tão há 40 e poucos dias, entendeu, até o Braga Neto veio aqui conversar com eles, que nem eu falei, tirou foto", gravou o major.
O militar responde a Barros: "Então, esse próximo áudio, também, além do ZERO UNO, aí tem que ser passado pa todo aquele pessoal que você passa sempre, entendeu? Então agora, negão, é...assim...a...Já estamos em guerra, né? Só que agora é a...assim...Temos que executar essas ações. Vou dar o conceito da operação".
Para a corporação, "operação especial que teria que ser executada", significa a execução de um golpe de Estado e destacam que "o plano descrito pelo interlocutor também incluía a prática de Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito, restringindo o exercício de um dos poderes da República, no caso, o Supremo Tribunal Federal, que seria implementado com a prisão do Ministro Alexandre de Moraes pela Brigada de Operações Especiais de Goiânia/GO".
Operação Venire
Cid foi preso , com autorização do STF, junto ao policial militar Max Guilherme, o militar do Exército Sérgio Cordeiro, seguranças próximos do ex-presidente, o ex-major Aílton Barros e o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha.
A corporação investiga um grupo que falsificava dados de vacinação contra a Covid-19 no Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.
O ex-ajudante de Bolsonaro prestará depoimento sobre a fraude em cartões de vacinação na próxima quinta-feira (18). Sua esposa, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, falará na sexta-feira (19).
O iG procurou a defesa de Ailton Barros, Jair Bolsonaro e Mauro Cid para mais informações sobre o caso. Não obtivemos resposta até o momento da publicação desta matéria.
No Twitter, Fábio Wajngarten, assessor e advogado do ex-presidente, afirmou que os áudios divulgados não são ilegais.
"É absolutamente estarrecedor como diálogos privados, que em NADA se relacionam com as investigações ora em questão, estão sendo vazados para constranger, criar narrativas, e evidenciar o óbvio: NADA DE ILEGAL", disse o advogado.
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