O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de uma ligação telefônica para cobrar um servidor do Palácio do Planalto a assinar uma procuração para liberação das joias árabes apreendidas no Aeroporto de Guarulhos. A informação é da jornalista Andréia Sadi.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-chefe do gabinete de documentação histórica da presidência Marcelo Vieira afirmou ter recebido uma ligação e que conversou com Bolsonaro sobre o ofício. Vieira, porém, não se lembra de quem fez o telefonema.
A ligação foi feita após o ex-funcionário do Planalto se recusar a assinar os papéis no dia 27 de dezembro do ano passado. Aos investidores, Vieira confirmou que recebeu o ex-ajudante de ordens do Planalto, Mauro Cid, na data e foi cobrado para assinar o documento que ofício seria enviado à Receita Federal para dar o aval na liberação dos bens.
No depoimento, Vieira afirmou que deu explicações técnicas à Bolsonaro e que recebeu um “ok, obrigado” de retorno. Após o caso, não houve mais tratativas para a assinatura do ofício.
Entenda o caso
Segundo uma reportagem de "O Estado de S. Paulo", Jair Bolsonaro teria recebido ao menos três pacotes de presentes da Arábia Saudita. Os bens teriam sido entregues em viagens ao Oriente Médio entre 2019 e 2021.
O primeiro pacote de joias, avaliado em R$ 16,5 milhões, foram entregues pelo governo árabe para Michelle Bolsonaro. Entre os presentes, estavam um anel, colar, relógio e brincos de diamantes.
Entretanto, ao chegar ao país, as peças foram aprendidas na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na mochila de um assessor de Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia. Ele ainda tentou usar o cargo para liberar os diamantes, entretanto, não conseguiu reavê-los, já que no Brasil a lei determina que todo bem com valor acima de US$ 1 mil seja declarado.
Diante do fato, o governo Bolsonaro teria tentado quatro vezes recuperar as joias, por meio dos ministérios da Economia, Minas e Energia e Relações Exteriores. O então presidente chegou a enviar ofício à Receita Federal, solicitando que as joias fossem destinadas à Presidência da República.
Na última tentativa, três dias antes de deixar o governo, um funcionário público utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar até Guarulhos. Ele teria se identificado como “Jairo” e argumentado que nenhum objeto do governo anterior poderia ficar para o próximo.
O segundo pacote de joias doadas pelo governo da Arábia Saudita foi incorporado no acervo pessoal de Jair Bolsonaro. O estojo com relógios, peças para paletós e outros artigos masculinos tem valor estimado em R$ 400 mil.
Já o terceiro conjunto foi entregue em mãos para Bolsonaro em 2019, durante uma viagem a Doha, no Catar, e a Riade, na Arábia Saudita. A caixa contém um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, anel e uma espécie de rosário árabe. O conjunto, de ouro branco e diamantes, é avaliado em mais de R$ 500 mil.
Após receber as joias, o ex-presidente chegou a pedir que esses itens fossem armazenados em uma caixa de madeira clara, com o símbolo verde do brasão de armas da Arábia Saudita e que fossem guardados no acervo privado da Presidência. De acordo com as informações obtidas pelo jornal, há uma confirmação disso no dia 8 de novembro de 2019, feita pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência.