Candidatos negros não superam proporção da população em nenhum estado

Nenhum estado registrou um número de candidatos negros numa proporção acima daquela vista em sua população

Jovens que fazem 16 anos até o dia das eleições podem emitir primeira via do título de eleitor
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil - 14.11.2020
Jovens que fazem 16 anos até o dia das eleições podem emitir primeira via do título de eleitor

Nenhum estado do país registrou um número de candidatos negros numa proporção acima daquela vista na população. Apenas o Rio Grande do Sul tem uma quantidade de negros disputando a eleição equivalente ao percentual dos moradores que se autodeclaram pretos e pardos. É o que mostra levantamento do GLOBO feito a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de o país ter registrado, pela primeira vez em eleições gerais, mais candidatos negros que brancos. No estado, 18,9% das candidaturas são de pessoas negras, mesmo percentual que representam na demografia gaúcha, de acordo com dados anuais da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios Contínua (Pnad) de 2021.

Depois do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Roraima foram os estados que mais se aproximaram de uma representação fiel da população negra nas urnas — com 16% das candidaturas no primeiro, onde 18,1% se identificam como pretos ou pardos, e 73,3% no segundo, onde esses grupos representam 74,4% dos moradores.

Os números não atestam uma mudança significativa ante 2018, quando apenas Roraima atingiu uma proporcionalidade condizente com sua demografia, com 69,6% de candidaturas de negros, que na época representavam 68,6% de sua população, e o Acre conseguiu se aproximar de uma representação equivalente, com 76,6% dos elegíveis se autodeclarando pretos ou pardos, grupos que eram 77,6% dos acrianos então.

Na avaliação da coordenadora política do movimento Mulheres Negras Decidem, Tainah Pereira, a subrepresentação nos estados está associada à falta de financiamento das campanhas, em comparação com candidatos brancos, e a um suposto ranking de prioridades nas disputas de poder em nichos de diversidade que, segundo ela, dão prioridade a mulheres na política, em detrimentos de negros e indígenas, que ficam em segundo plano.

Tainah analisa ainda que, como estratégia de resposta ao resultado das eleições em 2018, partidos progressistas estão apostando em “puxadores de voto” — candidatos capazes de agregar muitos eleitores e, consequentemente, ajudar a eleger uma bancada maior para a legenda — em vez de investir em novas candidaturas.

"Com esse corte, muitas candidaturas de pessoas negras, mulheres e integrantes da comunidade LGBTQIA+ acabam ficando de fora (do páreo e dos investimentos) por uma interpretação equivocada. Isso limita as possibilidades para esses grupos", explica a coordenadora, que destaca que os “cortes” a candidaturas negras começaram cedo este ano, e prejudicaram principalmente mulheres.

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