Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) toma iniciativas para avançar sobre o eleitorado evangélico, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) busca caminhos para ser mais enfático nos acenos aos eleitores católicos, já que ele está na dianteira entre os evangélicos. Essa estratégia passa pelo presidente enfatizar que é católico, devoto de Nossa Senhora Aparecida, e buscar diálogo com setores da Igreja.
Dentro dessa estratégia de campanha, Bolsonaro foi na manhã deste domingo (21) a uma missa na Paróquia Nossa Senhora da Esperança, na Asa Norte, em Brasília. O presidente usava um colete à prova de balas por baixo da camisa e estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e dos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, da Saúde, Marcelo Queiroga, e do Turismo, Carlos Brito.
No início da celebração, o padre citou a presença de Bolsonaro na missa e pediu que os fiéis o aplaudissem. Não houve pedido de votos nem discurso em favor do presidente. Bolsonaro e Michelle não se ajoelharam durante o ritual da comunhão.
Evangélica, a primeira-dama também não recebeu a hóstia que, para os católicos, simboliza o corpo de Cristo. Neste domingo, a Igreja Católica celebra a solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O casal acompanhou a celebração por uma hora e meia. Bolsonaro deixou a paróquia às 11h e retornou ao Palácio da Alvorada sem falar com a imprensa.
A preocupação de integrantes da campanha à reeleição do presidente é que, ao evidenciar sua proximidade com igrejas evangélicas, Bolsonaro acabe criando rejeição entre católicos e praticantes de outras religiões. Por isso, eles avaliam que seria importante também manter contato com o público católico.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (18) mostra que Bolsonaro ampliou de 10 para 17 pontos percentuais sua vantagem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os evangélicos. O chefe do Executivo saltou de 43% para 49% das intenções de voto no segmento.
Já entre os católicos, Lula continua na liderança com quase o dobro das intenções de voto: 52% contra 27%. Bolsonaro, no entanto, teve um crescimento, embora dentro da margem de erro, entre os católicos desde julho: dois pontos percentuais. O Datafolha também mostrou que 50% do eleitorado se declara católico, e 27%, evangélico.
Ênfase no segmento
A avaliação do núcleo de campanha é que o presidente não pode abrir mão deste público e deve ser mais enfático nos acenos aos católicos. Uma das sugestões, segundo interlocutores do projeto de reeleição, foi que Bolsonaro visitasse a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, mas o titular do Planalto não aprovou a agenda. Uma alternativa sugerida pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha, é que o presidente participe de uma missa no Cristo Redentor.
Ao longo do seu mandato, o presidente participou de diversas Marchas para Jesus — algo que foi intensificado nas últimas semanas — e recebeu várias vezes pastores e outros líderes evangélicos em reuniões nos palácios do Planalto e da Alvorada.
A proximidade é resultado direto da influência da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que frequenta a Igreja Batista Atitude e se relaciona com lideranças de diversas denominações. Michelle tem participado de forma mais incisiva da campanha, o que pode ajudar manter o apoio entre evangélicos e reduzir a rejeição entre as mulheres. Por outro lado, o receio é que o tom adotado pela primeira-dama em alguns eventos e as imagens de vigílias no Planalto e no Alvorada possam causar resistência em parte dos católicos.
Na convenção que oficializou a candidatura de Bolsonaro pela reeleição, Michelle discursou em tom de pregação e afirmou que orava no gabinete presidencial semanalmente. Ela relembrou a facada sofrida pelo marido na campanha de 2018 e chamou a plateia de eleitores de "irmãos", como se fosse um culto.
"Eu sempre oro toda terça-feira no gabinete dele quando ele vai embora. Quando o Planalto se fecha, eu entro com meus intercessores e oro na cadeira dele. E eu declaro todos os dias: Jair Messias Bolsonaro, seja forte e corajoso, não temas. Não temas. Ele é um escolhido de Deus, ele é um escolhido de Deus. Esse homem tem um coração puro, limpo, além de ser lindo, né? Mas é meu", disse Michelle.
Dias depois, Michelle foi a São Paulo ao lado de Bolsonaro para participar da oficialização da candidatura de Tarcísio de Freitas, ex-ministros da Infraestrutura, para o governo do estado pelo Republicanos. Lá, Michelle discursou em tom religioso, apresentou a esposa de Tarcísio para os eleitores e pediu a Deus para abençoar a vida dela e do ex-ministro. Em seguida, citou um versículo da Bíblia e pediu: "Que Deus te abençoe, meu amigo". Michelle também conduziu uma oração.
A primeira-dama, contudo, segue sendo uma aposta da campanha para consolidar o resultado entre os evangélicos. A programação é que ela grave as propagandas eleitorais ao lado do marido, mas ainda não há uma data definida.
Recentemente, Bolsonaro apareceu em uma entrevista com uma pequena medalha de Nossa Senhora Aparecida sobre a gravata. Assessores dizem que a peça sempre ficou escondida sob a camisa e não costumava aparecer. A exibição dela, agora, foi estratégica para o público católico.
Por outro lado, Lula também tem feito gestos a religiosos. Na quinta-feira, durante comício em Belo Horizonte, disse que a Bíblia precisa ser cumprida, assim como a Constituição. Recentemente, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), postou uma imagem que diz que "Bolsonaro usa Deus" e "Deus usa Lula". No sábado (20), sua campanha informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a criação de páginas em redes sociais específicas para o eleitorado evangélico
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O deputado federal Francisco Jr. (PSD-GO), coordenador da frente parlamentar católica, minimiza a questão e afirma que Bolsonaro sempre deixou claro que é católico. De acordo com o deputado, a Igreja Católica e as evangélicas têm uma forma diferente de se manifestar politicamente.
"Ele sempre fala que é católico. A questão é que evangélicos se engajam na política de forma diferente do católico. Não é só o Bolsonaro, qualquer governador, prefeito. A Igreja (Católica) não milita politicamente", afirma, acrescentando: "Você tem essa sensação dessa diferença, ente os evangélicos e os católicos, porque no caso do evangélico o próprio pastor se manifesta, isso dá uma repercussão".
Victor Gomes, mestre e doutorando em ciência da religião da PUC-MG, destaca que o presidente considera que o voto dos católicos já está cristalizado — seja contra ou a favor dele —, e que por isso Bolsonaro investe mais entre os evangélicos, que teriam uma movimentação de voto maior.
"Não existe um movimento do presidente em relação aos católicos para atraí-los. Um tratamento bastante diferente do que ele dá aos evangélicos. Me parece que o Bolsonaro já enxerga que nos católicos tem uma cristalização", destacou. "Dentro do campo dos evangélicos, a impressão é que existe uma movimentação muito maior. A possibilidade de trânsito ali dentro, de mudança de voto, é muito maior do que no campo católico", completou.
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