Candidatos de Santa Catarina disputam espólio bolsonarista

Alinhados ao presidente Jair Bolsonaro buscam projeção no campo mais conservador, com lacuna de Carlos Moisés, que se afastou do bolsonarismo desde 2019

Jorginho Mello (PL), o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União) e Esperidião Amin (PP)
Foto: Montagem iG - 10.08.2022
Jorginho Mello (PL), o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União) e Esperidião Amin (PP)

Estado onde Jair Bolsonaro arrebatou 66% dos votos no primeiro turno na eleição de 2018 — a maior proporção entre as unidades da federação —, Santa Catarina se encaminha para ter uma briga por esse espólio, hoje sem dono. É o que mostra a segunda reportagem da série que apresentará o pleito nos 26 estados e no Distrito Federal.

Então novato na política e beneficiado pelo voto na legenda em 2018, Moisés, que era do PSL, assim como Bolsonaro, luta agora para segurar parte dos 71% dos votos que teve naquele ano, a maior votação da história de Santa Catarina. O volume atraiu um leque de candidaturas de olho no eleitor que deu ao estado o status de baluarte do bolsonarismo. Moisés deve enfrentar três adversários competitivos no campo à direita: os senadores Jorginho Mello (PL) e Esperidião Amin (PP), e o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União).

O “degradê” bolsonarista começa por Jorginho, correligionário do presidente e vice-líder do governo no Congresso. Integrou a tropa de choque governista na CPI da Covid no Senado, que investigou a gestão federal da pandemia, e é quem mais se aproveita da imagem de Bolsonaro em suas redes sociais.

“Com Jorginho Mello e Bolsonaro, Santa Catarina avança” é uma das frases repetidas em sua pré-campanha. O senador se sentou na garupa de Bolsonaro durante um passeio de moto com apoiadores do presidente em Florianópolis. O momento foi descrito por ele como um “prazer de sentir a adrenalina em duas rodas, guiado pelo capitão Jair Bolsonaro”.

Na disputa pela associação com o presidente também está Esperidião Amin. Na convenção que homologou sua candidatura ao governo do estado, ele esteve numa mesa à frente de dois cartazes com o rosto de Bolsonaro — e um mote que pode confundir eleitores inadvertidos: “11 é Bolsonaro”, referindo-se à sigla de seu partido, o PP. O número de urna do presidente, na verdade, é o 22, o mesmo de seu adversário Jorginho.

Clã tradicional

Esperidião pertence a um dos tradicionais clãs de Santa Catarina. Foi governador por duas vezes, prefeito de Florianópolis também em dois momentos, e deputado federal. Ele é professor titular no curso de administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Adversários citam o desempenho de sua esposa, a deputada federal Ângela Amin (PP), na disputa pela prefeitura da capital em 2020, para sustentar que a família vem perdendo força no estado. Prefeita de Florianópolis entre 1997 e 2005, ela terminou a última corrida eleitoral em quarto lugar, com apenas 7,42% dos votos.

Menos identificado com o discurso do presidente, Gean Loureiro, por outro lado, terá como cabo eleitoral “o mais bolsonarista dos prefeitos”. João Rodrigues, à frente de Chapecó e aliado de Bolsonaro, é seu coordenador de campanha. O político já foi condenado e preso por fraude em licitação. Em 2018, passava o dia na Câmara dos Deputados e a noite na penitenciária da Papuda.

Rodrigues é elogiado por Bolsonaro especialmente por sua gestão da pandemia, pautada em contrariar orientações científicas. Em abril de 2021, o presidente gravou um vídeo para enaltecer o trabalho do prefeito no município, que naquela semana registrava aumento de 322% no número de óbitos por Covid naquele ano em relação ao anterior.

A concorrência pelo eleitorado de Bolsonaro terá também Odair Tramontin (Novo), embora com menos peso. Seu partido é próximo às pautas do governo federal, em especial à agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes.

"O curioso é que a polarização nacional não se refletiu no âmbito catarinense. E isso tem uma relação com essa aposta de quem fica com o espólio do bolsonarismo, mas também há incentivos institucionais, especialmente o fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais", diz o cientista político Julian Borba, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Frente de esquerda

A esquerda, por sua vez, por pouco não reuniu todos os principais partidos em uma frente. A federação formada por PT, PCdoB e PV, que terá como candidato ao governo Décio Lima, se aliou ao PSB e ao Solidariedade — o que lhes dará o segundo maior tempo de TV — e deve contar com o apoio informal da federação PSOL-Rede. Insatisfeito com a cessão da vaga ao Senado a Dário Berger (PSB), o PSOL decidiu lançar Afrânio Boppré ao mesmo cargo. Mas, como não terá nome ao governo, deverá apoiar os petistas.

A aliança em torno do PT só não foi maior em razão de uma questão nacional. O PDT abandonou o barco pela necessidade de dar um palanque em Santa Catarina a seu candidato à Presidência, Ciro Gomes, e vai lançar chapa pura encabeçada por Jorge Boeira.

Décio terá em sua equipe o ex-adversário Gelson Merísio, que em 2018 disputou o governo estadual pelo PSD e declarou voto em Bolsonaro, e o próprio Dário Berger, que fez carreira em partidos à direita como o antigo PFL. A conjuntura empolga o candidato, para quem a esquerda nunca teve tal musculatura no pleito estadual — neste quadro, ele aposta em um avanço inédito ao segundo turno

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