Integrante do núcleo duro do governo do presidente Jair Bolsonaro, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, disse em entrevista ao GLOBO que o empresariado brasileiro apoia as medidas econômicas tomadas pelo presidente, minimizou os manifestos em defesa da democracia e contra os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e afirmou que, na campanha, foco é recuperar eleitor de 2018.
Durante a convenção do PL, Bolsonaro falou em atrair jovens, segmento no qual enfrenta resistência. Como isso será feito?
Boa parte dos brasileiros desconectados da internet hoje é de jovens. Da área rural à comunidade indígena, o que mais querem é internet. Vamos conectar esses jovens. O Brasil foi o primeiro da América Latina a oferecer conexão em 5G. O país tem muitos gamers famosos, e o 5G muda totalmente a forma como eles vão jogar, interação e velocidade.
É possível conquistar o voto até dos jovens de esquerda?
Quem tem 18 anos não sabe o que aconteceu nos 14 anos de PT. Não gosto de falar de ideologia, mas a maioria dos professores de universidades e escolas é de de esquerda. Eles (jovens) não aprendem pelo que pesquisam, mas pelo que ouvem.
Qual é a estratégia para furar a bolha em busca de outros eleitores que hoje estão distantes do governo?
A oposição não quer discutir governo (do PT) versus governo (Bolsonaro), e, sim, o que o presidente falou. Não adianta falar bonitinho e roubar. Nos três anos e meio (do governo), as palavras inadequadas ficaram em primeiro plano. Na campanha, vamos expor as ações da nossa gestão.
Isso vai ser suficiente para encostar em Lula nas pesquisas?
O foco é recuperar o eleitor de 2018, principalmente no Sudeste. É muito mais fácil buscar o eleitor que votou no presidente e hoje não vota mais do que atrair um eleitor do PT raiz.
A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, vai participar efetivamente da campanha?
Ela está muito bem engajada, sabe a importância que tem. Vemos que terá uma participação bem ativa.
O presidente continua atacando ministros do Judiciário e as urnas eletrônicas...
Vai ter uma solução aí no próximo mês. A questão do presidente é querer mais transparência. Acho que isso não deve ser motivo de briga. O próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e pessoas do governo estão tendo esse diálogo. Creio em uma solução pacífica.
Quais são os termos discutidos?
Não posso dizer, não cabe a mim. Isso vai ser uma discussão entre o presidente do TSE e o presidente da República.
O senhor acredita que o acordo virá com o futuro presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, alvo de ataques de Bolsonaro?
O presidente do TSE vai querer pacificar esse assunto até a eleição. Toda a solução passa por um entendimento entre as partes. Não vejo problema em colocar 2% de urnas auditáveis espalhadas pelo país, por exemplo.
Bolsonaro convocou apoiadores a irem às ruas pela “última vez” no dia 7 de Setembro. O que isso significa?
No 7 de Setembro, se tiver tudo solucionado, o que é que tem as pessoas irem às ruas de verde e amarelo? De 2018 para cá, o presidente já fez 28 manifestações de forma pacífica.
Ao convocar pessoas às ruas pela “última vez” e chamar ministros do STF de “surdos de capa preta”, o presidente ataca a democracia?
O presidente se elegeu pela democracia. Ele quer mais transparência (no processo eleitoral). Esse assunto está sendo tratado. Não acredito que vá passar de agosto. Não acredito que a gente vai ter um 7 de Setembro sem isso resolvido.
Banqueiros e empresários assinaram um manifesto a favor da democracia. Como o presidente vai atrair esse segmento?
A Faria Lima torce por Bolsonaro. Os empresários são a favor da liberdade econômica e do Banco Central independente. Agora, empresário conversa sempre com os dois lados. Vão receber Bolsonaro e Lula.
A campanha está trabalhando para que haja manifestação de empresários?
Os empresários e artistas não ganham eleição, não mudam votos. No Rio, o (deputado Marcelo) Freixo (PSB) sempre foi candidato com o apoio de artistas e nunca ganhou eleição (majoritária). Acho que os artistas que mudam voto são os sertanejos, que movem multidões.
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