Integrantes da campanha do presidente foram isolados dos preparativos da apresentação sem provas contra o processo eleitoral feita na segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro para embaixadores no Palácio da Alvorada. Interlocutores disseram ao GLOBO que o time que trabalha pela reeleição de Bolsonaro não foi comunicado nem consultado sobre o formato do encontro nem teve acesso ao conteúdo que seria tratado.
Foram os assessores diretos do presidente que colocaram a reunião em pé e prepararam a apresentação para o presidente. Ao longo da exposição, Bolsonaro citou algumas vezes um de seus ajudantes de ordens, o coronel Mauro Cid, homem de confiança do chefe do Executivo. Ele foi o encarregado de passar o power point montado para a ocasião. O almirante Flávio Rocha, secretário especial de Assuntos Estratégicos, também ajudou na elaboração do discurso para os embaixadores.
Membros da campanha, por sua vez, não foram chamados para opinar na apresentação do presidente. Segundo esses integrantes, que tentam sem sucesso moderar o discurso de Bolsonaro, o impacto do encontro com embaixadores foi "desastroso" — e ampliará o desgaste da imagem do pré-candidato à reeleição.
O núcleo da campanha, porém, já alertou Bolsonaro de que levantar suspeitas sobre as urnas eletrônicas não agrega novos votos e que nesse estágio da corrida pouco ajuda "pregar para convertidos".
O núcleo da campanha tem traçado uma estratégia para o presidente furar a bolha bolsonarista e recuperar eleitores arrependidos, trabalhando em estados estratégicos e com grupos em que enfrenta alta rejeição. A moderação do discurso, segundo aliados de Bolsonaro, seria crucial para esse plano. No entanto, o titular o Palácio do Planalto já deu sinais de que continuará elevando os ataques, sem provas, contra o sistema eleitoral.
Essa visão, contudo, não é majoritária no comitê de campanha de Bolsonaro. Candidato a vice, o ex-ministro da Defesa Braga Netto tem apoiado os discursos do presidente contra o sistema eleitoral — e participou da reunião com embaixadores. Também assistiu à apresentação o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que não foi convidado para dar sugestões sobre o conteúdo da fala do presidente para diplomatas.
Conforme mostrou a colunista Bela Megale, o marketing da campanha do presidente reconhece que o discurso de ódio de Bolsnonaro não é uma invenção de opositores e que, se a artilharia funcionou em 2018, agora só atrapalha no plano de reeleição. A avaliação é que, na maior parte do tempo, o presidente “se mostra preso ao passado e não olha para frente".
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