O empresário e radialista Edvaldo Brito afirmou que o pastor Arilton Moura, apontado como lobista do Ministério da Educação (MEC) e preso na última semana ao lado de Milton Ribeiro e o também pastor Gilmar Santos, pediu R$ 100 mil como 'doação' após acertar um encontro com o ex-ministro ainda durante sua gestão.
Brito conta que soube que havia um "gabinete itinerante" do ex-ministro, onde um evento era agendado para um município, e outros locais também eram atendidos ali. Depois, um culto era realizado pelos pastores Gilmar e Arilton, onde Ribeiro também pregava.
"Eu descobri que o ministro tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios, e aí todos os outros municípios eram atendidos", contou, em entrevista ao Fantástico.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é o responsável pela distribuição dos recursos do MEC. Edvaldo então procurou os pastores para tentar levar o ex-ministro para o interior paulista.
"O ministro pregava nesse culto. Acabei descobrindo o contato do Gilmar através da própria igreja dele. Liguei para ele, que marcou para me atender em Brasília, num hotel. Eu fui até lá", conta. O encontro teria acontecido em maio do ano passado.
"Eu vi que realmente tinha uma mesa lá em que ele atendia, conversava. Depois, chamava o outro na mesa". Eram os pastores que aprovavam a ida do gabinete para as cidades, e Nova Odessa, cidade de Edvaldo, foi aprovada. "Naquele momento, eu estava falando com um pastor, um pastor que ajudava as pessoas. Porque o que eu conheço é isso. O que eu conheço do cristão é se doar".
Dias depois, eles pediram que Edvaldo e o prefeito do Município fossem à Brasília para gravar um vídeo com Milton Ribeiro. Foi nessa conversa que houve o pedido de dinheiro.
"O próprio Arilton disse: ‘Olha, eu preciso que você faça uma doação. É para uma obra missionária’. Eu falei: ‘Tudo bem. E de quanto é essa doação?’, aí ele falou: ‘Ah, por volta de R$ 100 mil reais é a doação’. Eu falei: ‘É muito. Eu não tenho. Eu não tenho condição. Mas eu tenho amigos, pessoas, empresários que costumam investir na obra e que eu vou pedir a doação’".
Milton Ribeiro foi preso na quarta-feira (22), ao lado de pastores apontados como lobistas que influenciavam nas decisões e distribuições de discursos dentro do MEC. As investigações apuram um suposto esquema de liberação de verbas do MEC para projetos em cidades pequenas em troca de propina.
Tanto Ribeiro quanto os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura foram soltos na quinta-feira (23), por decisão judicial.
Em nota, a defesa de Ribeiro reafirmou que o ex-ministro "não cometeu qualquer ilicitude, independentemente da esfera de apuração".
Sobre os áudios, o advogado disse que "a referência feita nos áudios é comumente utilizada para enaltecer a pessoa que ajuda a organizar eventos visando fomentar a educação e os projetos, contudo, isso não se significa que exerceu ou exercia qualquer cargo oficial e ou oficioso junto ao Ministério, ou teria algum tipo de facilidade ou prioridade."
Ainda segundo o texto, "quem conhece um pouco o funcionamento do Ministério da Educação sabe que o Ministro e nem ninguém tinha e ou tem poder para favorecer pessoas, cidades ou Estados porque há todo um procedimento formal que regula o andamento e avaliação dos benefícios pretendidos. Inclusive, aperfeiçoado na gestão exercida pelo Ministro Milton Ribeiro. Grife-se que há a absoluta necessidade de atendimento aos critérios estabelecidos e o preenchimento dos requisitos para a obtenção de deferimento do pretendido."
A defesa diz aguardar o desfecho das investigações "sem abusos ou arbitrariedades, esperando o seu arquivamento, que se dará pelo reconhecimento da inexistência de justa causa para guindá-lo à condição de suspeito."