A Polícia Federal determinou abertura de apuração sobre "eventual interferência" no inquérito contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. A suspeita veio a público depois que o delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini escreveu uma mensagem a colegas dizendo ter havido "interferência" do órgão na operação deflagrada na quarta-feira. Ele citou como exemplo o fato de, após a prisão, o ex-ministro não ter sido transferido de São Paulo para a carceragem da PF no Distrito Federal, como determinado pela Justiça.
A mensagem foi revelada pelo jornal "Folha de S.Paulo" e obtida pelo GLOBO. Em nota divulgada nesta quinta, a PF informou que determinou a instauração de investigação "para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos".
No texto, Calandrini diz que Milton Ribeiro "foi tratado com honrarias não existentes na lei" e reclamou que a transferência para o DF não foi executada. Fontes da PF afirmam que não houve planejamento prévio para realizar a transferência dele e dizem que, por isso, a ação acabou não sendo cumprida. A decisão do juiz autorizando as prisões foi proferida na segunda-feira e a ação foi executada na quarta, tempo considerado rápido para os padrões operacionais da PF.
"O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional", escreveu.
Calandrini afirmou na mensagem que foi informado que, "por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília". Para ele, isso significa que a investigação foi "obstaculizada".
"O principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília", escreveu.
Estava prevista para esta quinta-feira a realização de audiência de custódia com Milton Ribeiro perante o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal. Por isso, o juiz havia determinado sua transferência para o DF. Como não foi realizada, ele faria a audiência por videoconferência.
Nesta audiência, o juiz apenas questiona se houve algum abuso durante o cumprimento da prisão e verifica as condições do alvo preso, sem adentrar no mérito dos fatos investigados. Participam, além do magistrado, um membro do Ministério Público e seus advogados, sem a presença de representantes da polícia. O evento, entretanto, foi cancelado depois que o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, determinou a soltura de Ribeiro e dos demais alvos.
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