O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), e o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) travam um duelo particular pelo eleitorado identificado com pautas de direita na disputa pelo governo paulista. Na luta por uma vaga no segundo turno, o tucano tem procurado mostrar obras de infraestrutura do governo federal que ficaram pelo caminho no estado, enquanto o pré-candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende recuperar os escândalos de corrupção de gestões do PSDB.
Apesar de cobiçarem um grupo parecido de eleitores, Garcia e Tarcísio adotam estratégias diferentes. O governador tem feito acenos ao eleitor bolsonarista com endurecimento do discurso na área da Segurança Pública, por exemplo, mas descarta se vincular ao presidente. Já o ex-ministro tem a intenção de explorar a imagem de Bolsonaro, ainda que com nuances.
Pesquisa do Datafolha divulgada em abril aponta o petista Fernando Haddad na liderança da disputa em São Paulo, com 29% no cenário com a participação de Márcio França (PSB), o que indicaria uma consolidação do voto do eleitor mais identificado com a esquerda. Restaria, portanto, aos adversários buscar o eleitor de centro e direita.
No primeiro cenário da pesquisa, Tarcísio tem 10%, empatado tecnicamente em terceiro lugar com Garcia, que soma 6%. Na simulação sem França, os dois empatam numericamente com 11% na segunda posição.
O entorno de Garcia acredita, porém, que é possível conquistar uma fatia do eleitorado que hoje está com Haddad. Pesquisas analisadas pela campanha mostram que parte dos paulistas que avaliam bem a gestão estadual tem intenção de votar no petista. No Datafolha, Haddad chega a 34% entre os eleitores que consideram o governo estadual ótimo ou bom. Por isso, um vínculo mais forte com Bolsonaro não seria estratégico para Garcia.
Mesmo assim, as sinalizações a um eleitorado que se identifica com as pautas bolsonaristas devem prosseguir. Logo depois de receber o governo de João Doria, em abril, Garcia trocou o comando das polícias. No mês passado, o governador disse “que bandido que levantar a arma levará bala” no estado. Recentemente, liberou pagamentos de bônus a policiais. O tucano tem propagado ainda a compra de armas e equipamentos para as Forças de Segurança do estado.
Mesma moeda
Já Tarcísio, de acordo com interlocutores, quer explorar os desgastes dos últimos governos paulistas e argumentar que o PSDB e o PT são faces da mesma moeda, já que as soluções das administrações de ambos resultaram em casos de corrupção. A ideia de associar o PSDB ao PT será reforçada com o exemplo da ida do ex-governador Geraldo Alckmin ao PSB para ser vice na chapa do ex-presidente Lula (PT).
Em relação a Bolsonaro, os aliados de Tarcísio planejam um uso dosado da imagem do presidente. O ex-ministro quer se mostrar como um técnico moderado que serviu a outras gestões. Ele foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e atuou na Secretaria de Parceria de Investimentos na gestão Michel Temer (MDB).
Por outro lado, Garcia quer se desvincular do ex-governador João Doria (PSDB), de quem foi vice. Eles mantêm diálogos nos bastidores, mas não devem fazer aparições públicas juntos na campanha em razão da rejeição do antecessor nas pesquisas de opinião.
Na ofensiva contra Tarcísio, o governador paulista tem explorado que, na renovação da concessão da Via Dutra, por exemplo, o pedágio do trecho fluminense sofreu um abatimento maior do que no trecho paulista. Aliados tucanos também têm compartilhado uma carta da Associação Paulista dos Municípios que acusa o ex-ministro de ter ignorado sugestões para incluir a duplicação do trecho paulista da Rio-Santos na concessão da rodovia — a parte contemplada será a do lado fluminense.
Além disso, um outro flanco que tem sido explorado é uma suposta omissão do governo federal para construir uma ligação entre as cidades de Santos e Guarujá, no litoral. Há dois projetos em discussão para interligar os municípios: por ponte ou por um túnel.
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