Enquanto Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), André Janones (Avante) e Pablo Marçal (PROS) correm contra o tempo para crescer nas pesquisas e furar a polarização, os dois primeiros colocados nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), fazem a pré-campanha como se estivessem em um segundo turno, ignorando a existência da terceira via e focando em ataques um contra o outro.
Nos últimos trinta dias, em sua conta no Twitter, Lula fez pelo menos 35 menções, diretas ou indiretas, a Bolsonaro e seu governo — média de mais de uma publicação por dia sobre o concorrente. E nenhuma sequer aos pré-candidatos da terceira via.
Nos textos e imagens em sua rede social, Lula compara dados da economia durante os governos petistas e a atual gestão, como em relação ao preço do gás, da gasolina e dos alimentos.
O petista ainda tem dado espaço a publicações que expõem suas divergências em relação a Bolsonaro em temas como segurança pública, educação e meio ambiente. Há ainda ataques diretos ao atual presidente em postagens sobre orçamento secreto e as viagens a lazer, onde Lula chama Bolsonaro de “vagal da república”.
Os eventos presenciais da pré-campanha adotam o mesmo tom. Na semana passada, durante lançamento do livro "Querido Lula", no teatro Tuca, em São Paulo, Lula repetiu o mote de sua campanha, “o amor vai vencer o ódio”, e criticou a falta de sensibilidade de Bolsonaro e a atuação das polícias durante o governo do oponente.
— Já viram Bolsonaro chorar por alguma morte da Covid? Viram o presidente chorar por alguma pessoa que morreu nesses acidentes e chacinas? — afirmou o petista, que atribuiu a violência policial no país à "ausência do Estado".
Foi no mesmo evento que Lula fez uma das poucas menções à terceira via, ao dizer, em tom de deboche, que o PSDB “acabou”.
Assim também fez Bolsonaro ao escrever em seu Twitter, no dia em que João Doria (PSDB) anunciou a desistência de sua pré-candidatura, que estava "abrindo mão da disputa do cinturão dos pesos médios no UFC". Em outra ocasião, ironizou a live de Ciro Gomes com o comediante Gregório Duvivier, publicando uma montagem na qual está sentado em uma cadeira assistindo ao debate dos dois na televisão. Nos dois casos, ele não cita o nome dos candidatos.
Embora faça críticas públicas a Lula, Bolsonaro, que aparece com 27% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, tem deixado a maior parte dos ataques nas redes sociais a seus filhos. Prova dessa “terceirização” são as publicações no Instagram do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos): apenas na última semana, ele postou 12 vezes sobre Lula e o PT. Isso inclui um vídeo de Lula falando que Alckmin era contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e outro do ex-tucano pré-candidato a vice criticando os governos petistas.
Outro que postou também 12 vezes sobre Lula foi o senador Flávio Bolsonaro (PL), que destacou em seu Instagram declarações do ex-presidente sobre a "ostentação" da classe média, além de trechos da delação de Antonio Palocci falando sobre suposta prática de corrupção envolvendo Lula e a Odebrecht.
A troca de farpas entre Lula e Bolsonaro ainda durante a pré-campanha ocorre num momento em que a terceira via tenta, sem sucesso, se viabilizar.
Ciro figura em terceiro lugar na última pesquisa Datafolha, com 7% das intenções de voto, praticamente o mesmo patamar de dois meses atrás. Diante da falta de resposta nos levantamentos eleitorais, há parlamentares de seu partido que defendem o abandono da candidatura para apoiar Lula ainda no primeiro turno.
Tebet, que teve sua candidatura recentemente chancelada por MDB, PSDB e Cidadania, ainda enfrenta descrença por parte de aliados, que acham praticamente impossível emplacar seu nome em um cenário já consolidado. A senadora aparece com 2% no último Datafolha, mas ainda é desconhecida da maior parte do eleitorado.
Marçal e Janones ensaiam uma aliança pelas beiradas dos grandes partidos, mas juntos também não passam dos 2%.
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