Entenda os desafios de Simone Tebet para emplacar candidatura
Apesar de ter ampliado arco interno de apoios, senadora lida com dissidências e baixa pontuação nos levantamentos de intenção de voto
Embora ainda precise confirmar a consolidação da terceira via, crescer nas pesquisas e driblar eventuais traições dentro do próprio partido, a senadora Simone Tebet (MS) teve sua pré-candidatura à Presidência referendada ontem por emedebistas
dos principais estados do país.
Presidentes de pelo menos 22 dos 27 diretórios do partido manifestaram apoio à senadora, confirmando cenário favorável para homologação da pré-candidatura nas convenções do meio do ano. Além disso, Tebet teve seu nome aprovado ontem, por unanimidade, pelo Cidadania .
Com 1% das intenções de voto e sem nunca ter disputado uma eleição presidencial, Tebet aposta em uma coligação com o PSDB para ampliar o tempo de televisão e tentar ser mais conhecida nacionalmente nos próximos meses.
Apesar de ser a representante virtual da terceira via, há obstáculos para garantir o apoio dos tucanos, uma vez que uma ala do partido faz pressão interna por uma candidatura própria. Soma-se a isso o fato de que PSDB e MDB se enfrentam nas eleições aos governos em pelo menos dois estados: Paraíba e Distrito Federal.
Os defensores de uma aliança entre emedebistas e tucanos alegam que a eventual chapa poderia destravar negociações entre as legendas nos estados do Rio Grande do Sul, onde o deputado Gabriel Souza (MDB) é apontado como possível vice de Eduardo Leite (PSDB) ou do atual governador Ranolfo Vieira Júnior; Pará, onde os tucanos querem indicar a vice da chapa do governador Helder Barbalho (MDB); e São Paulo, onde o emedebista Edson Aparecido é o mais cotado para ser vice do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que concorre à reeleição.
Mesmo com a chancela formal da maior parte da cúpula emedebista, Tebet terá de fazer campanha ao lado de correligionários que vão pedir votos para Lula e Bolsonaro, os dois mais bem colocados nas pesquisas.
No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha tem feito declarações públicas em defesa da senadora, mas tem em sua base partidos que são alinhados a Bolsonaro. Ibaneis terá como adversário o senador tucano Izalci Lucas, que já foi vice-líder do governo Bolsonaro.
Hoje, no entanto, o maior desafio de Tebet é a região Nordeste, onde Lula desponta como o favorito. Lá, os emedebistas Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) trabalham publicamente contra a candidatura da senadora. No Rio Grande do Norte, o deputado federal Walter Alves (MDB) deve ser vice da ex-governadora petista Fátima Bezerra, dificultando um apoio a Tebet. Ainda assim, há sinais de que a senadora pode quebrar resistências. No Maranhão, a ex-governadora Roseana Sarney, que teve encontros recentes com Lula, foi mais uma a apoiar Simone nas redes sociais.
Tendência a Bolsonaro
Aliados da senadora reforçam que, embora haja apoio predominante a Lula no Nordeste, os candidatos emedebistas não vão se recusar a subir no palanque de Tebet ou recebê-la em seus estados durante a campanha. Também negam que a situação prejudique o apoio ao seu nome nas convenções partidárias. É o caso, por exemplo, do senador Veneziano Vital do Rêgo, que afirma apoiar “convictamente” o nome de Lula na disputa estadual ao governo da Paraíba. Lá, Veneziano concorrerá contra o deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Ainda assim, dirigentes do MDB veem o nome de Tebet fortalecido internamente e dizem que a pré-candidatura da senadora é uma forma de pacificar as divisões na sigla na direção da polarização nacional.
Nos bastidores, emedebistas dizem que, num cenário de não ter candidatura própria à Presidência, o temor seria que a maioria das lideranças apoiasse a reeleição de Bolsonaro, cuja gestão foi marcada por ataques contra as instituições. O partido, que tem tradição ligada à defesa da democracia, participou de todos os governos desde a redemocratização do país, com exceção da gestão Bolsonaro.
Presidente do diretório estadual do Rio Grande do Sul e da Fundação Ulysses Guimarães, o deputado federal Alceu Moreira (RS) se diz um entusiasta da candidatura de Tebet. Apesar disso, não hesita em dizer que prefere Bolsonaro a Lula.
"Vou trabalhar pela candidatura da Simone porque acho que o Brasil precisa de uma alternativa. Sou emedebista para apoiar Tebet. Mas também sou antipetista. Entre Lula e Bolsonaro, eu sou Bolsonaro", afirma Moreira.
Na reunião de ontem, lideranças do partido gravaram vídeos em apoio à pré-candidatura de Tebet. Entre os nomes estão o senador Jarbas Vasconcelos (PE) e a senadora Rose de Freitas, que disputará o governo do Espírito Santo.
"Hoje a reunião consolidou e tirou qualquer dúvida sobre o apoio do partido à pré-candidatura de Simone. No partido, 90% declararam expressamente apoio a ela", disse ao GLOBO o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), que ainda minimizou os palanques duplos nos estados. "Cada um tem a sua realidade."
Segundo Baleia, o partido só ganha com a pré-candidatura de Tebet, principalmente porque a legenda quer sair da “briga campal da polarização” e discutir projetos para o país.
Garcia e Doria
Enquanto Tebet tenta unificar o MDB, no aliado PSDB o desafio é aparar as arestas. Um dia após desistir de concorrer à Presidência da República, João Doria esteve ontem lado a lado com o governador Rodrigo Garcia na capital paulista.
O encontro protocolar aconteceu num evento do grupo Lide, ligado a Doria. O governador fez elogios ao gesto de “desprendimento” do antecessor ao desistir de concorrer, mas evitou dizer se gostaria de ter Doria em seu palanque.
Desde que assumiu o cargo no mês passado, Garcia trabalha para se descolar do padrinho político devido à alta rejeição nas pesquisas. Seu grupo passou a apoiar a saída de Doria da corrida presidencial, que era vista como empecilho à reeleição do governador. (colaborou Eduardo Gonçalves)
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